A Velha Ponte – Edição n° 015, de 20/01/1994
Por Fuhad Fadel Sahione
Sempre quis conhecer a história da bela ponte que enfeita a paisagem da minha terra, marco histórico sentimental da minha juventude, palco de brigas memoráveis de grupos de garotos endiabrados, cenário encantador de serestas que varavam as madrugadas para só terminarem ao anoitecer e onde, também, aprendemos a dançar ao som do assobio maravilhoso do Geraldo Louro, o exímio tarol da “Carlos Gomes” e querido amigo.
A ingênua e divertida boemia só terminava quando meus pais acendiam as luzes da varanda de nossa casa assinalando a hora de pôr um paradeiro na inocente noitada dos farristas.
Busquei, então, conhecer a sua história, porque queria ajudar recuperá-la, tratar de suas feridas, amparar suas estruturas combalidas e cansadas. E para reviver aquelas tardes de verão, quando todos, velhos e moços, vinham passear e namorar na ponte querida, gozando a brisa que soprava vinda pelo velho rio, enchendo nossos olhos com a infinita e maravilhosa paisagem que até hoje dali se descortina.
Que saudade daqueles tempos!
Então, impulsionado por antigas e divertidas lembranças, enfiei-me a pesquisas no Arquivo Nacional, Instituto Histórico Geográfico Brasileiro – IBGE e na Biblioteca Nacional e descobri o ato autorizativo de sua construção: “Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, de 04 de julho de 1871 – Autorizo a V. S. mandar construir sobre o Rio Parahyba, em frente a Estação de Porto Novo do Cunha, uma ponte de ferro conforme a planta que acompanhou o seu ofício de 27 de junho, convindo, porém, que taes despesas não excedam o orçamento por V. S. organizado para tal fim. Deus guarde a V. S. Teodoro Machado Freire Pereira da Silva – Diretor da Estrada de Ferro D. Pedro II”.
Objetivava-se com a construção de uma das mais belas pontes do Império, carrear a produção das ricas e férteis terras dos municípios do Carmo, Aparecida da Sapucaia e Cantagalo, para a recém-inaugurada e bela Estação Terminal da 3ª Seção da Estrada de Ferro D. Pedro II.
Em 06 de agosto de 1871, quando foram inauguradas as Estações de Ouro Fino, Conceição e Porto Novo do Cunha, da referida 3ª Secção da Estrada de Ferro D. Pedro II, foi firmado o contrato para a construção da Ponte com a firma “Swan, Robinson Comp.”, e é lançada a primeira pedra da ponte.
Sua construção sofreu atrasos vários, obrigando a Província do Rio de Janeiro socorrê-la com a importância de 180$000,00 conforme Decreto nº 1562.
Por aviso de 16 de março de 1875, foi declarado que a ponte mandada construir em frente a Estação da Estrada de Ferro D. Pedro II, Porto Novo do Cunha, ficava pertencendo ao Estado e que a Província do Rio de Janeiro seria indenizada da importância de 180$000,00 com que havia concorrido para sua construção.
Conforme relatório de 30 de abril de 1875, do Engº Chefe da Estrada de Ferro D. Pedro II, a ponte foi concluída em janeiro de 1875.
O primeiro incidente administrativo-fiscal entre os dois Estados foi assim relatado pelo vice-presidente Conselheiro Bernardo Augusto Nascentes Azambuja, em 08 de setembro de 1875: “Chegando ao meu conhecimento que na Ponte de ferro sobre o Rio Parahyba, em frente à Estação de Porto Novo do Cunha, da Estrada de Ferro D. Pedro II, para construção da qual concorreu esta Província com 180$000,00 nos termos do Decreto 1562, existe um empregado da Província de Minas Geraes que exige a taxa de 160Rs por animal, que a mesma Estação conduz café e outros gêneros fluminenses, principalmente das ricas freguesias do Carmo, Cantagalo e Aparecida de Sapucaia e não havendo por isso, razão plausível visto que do encontro da ponte ao armazém da Estação media apenas a distância de 47 metros, recorri ao Governo Imperial pedindo a retirada daquela Recebedoria”.
Atendendo o apelo da Província do Rio de Janeiro, a Província de Minas Geraes suspendeu a referida cobrança.
Em 09 de novembro de 1876, foi arrendado a Ricardo Gomes da Silva um torreão da Estação de Porto Novo do Cunha para nele estabelecer um hotel devido ao aumento do movimento da Estrada de Ferro D. Pedro II.
Existe, no acervo do professor Gilberto Ferrez, uma linda fotografia, de autoria de Marc Ferrez, da nossa querida Ponte. Infelizmente, ainda não consegui uma cópia.
Acalento o sonho de que a modesta pesquisa ora iniciada desperte nos poderes municipais, nos jornais, rádios, colégios, enfim, em toda comunidade, uma vontade de socorrer, preservando, nossos mais caros marcos históricos, propondo a inclusão de nossa querida Ponte no processo de tombamento, já existente, da bela e histórica Estação Terminal da 3ª Seção da Estrada de Ferro D. Pedro II, que diante de nossa indiferença e dos poderes municipais está se transformando em ruínas, num testemunho triste de nossa indiferença, desamor e incompetência.
Que o clamor da sociedade acorde os homens indiferentes ao patrimônio Histórico de nossa Terra.
E para isso ocorra no mês em que nossa Ponte complete 123 anos (*) suportando, mais que o peso do tráfego que rola sobre suas sofridas estruturas, a tristeza de não receber nenhum carinho depois de tanto serviço prestado.
(*) neste ano de 2019 a Ponte de Porto Novo completou 144 anos.
(artigo de autoria do saudoso alemparaibano Fuhad Fadel Sahione, ex-deputado estadual e ex-combatente na II Grande Guerra, publicado na edição n° 015, de 20/01/1994)
Curiosidade: Registro Histórico – Inauguração do Posto Fiscal na Ponte Armando Godoy.
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