Delfim Moreira da Costa Ribeiro
(Por Carmo Chagas – publicado na edição nº 761, de 27/11/2013)
Filho do coronel da Guarda Nacional Antônio Moreira da Costa, Delfim Moreira da Costa Ribeiro nasceu em Cristina, no dia 07 de novembro de 1868. Começou os estudos no Colégio Mendonça, de Pouso Alegre, e no Seminário de Mariana. Formou-se em Direito em São Paulo, em 1890. Foi contemporâneo de Venceslau Brás, Antônio Carlo Ribeiro de Andrade e Estevão Lobo Leite Pereira. Com eles, em São Paulo, fundou e dirigiu o Clube Republicano Acadêmico Mineiro. Quando estudante e também depois de formado, publicou na imprensa vários artigos de propaganda republicana.
Formado, exerceu o cargo de promotor em Santa Rita do Sapucaí, onde se elegeu vereador, presidente da Câmara e agente executivo municipal. Em, 1895, ganhou as eleições para deputado estadual. Na Câmara estadual, teve atuação destacada na comissão de Orçamento. Ao fim do mandato de deputado, assumiu a Secretaria do Interior, no governo presidido por Francisco Sales (1902-1906).
Eleito senador estadual em 1907, renunciou dois anos depois, para exercer o mandato de deputado federal. Outra vez, licenciou-se em meio ao cumprimento do mandato, em 1910, para assumir de novo a Secretaria do Interior, agora no governo de Bueno Brandão.
Em 1914, foi eleito para a presidência de Minas Gerais. Passou a ser respeitado, inclusive além das fronteiras mineiras, por ter colocado em ordem as finanças estaduais. Suas principais realizações à frente do governo mineiro: expansão do ensino técnico e profissional; criação da Diretoria de Higiene; reforma da Secretaria da Agricultura; aumento das vias de comunicação estaduais; intensificação do uso de máquinas na agricultura.
Em março de 1918, como companheiro de chapa de Rodrigues Alves, elegeu-se vice-presidente da República. Meses depois de eleito, o presidente contraiu a “Gripe Espanhola. Delfim Moreira tornou-se então o terceiro mineiro a assumir a presidência da república, no dia 15 de novembro de 1918.
Para a cerimônia de posse, uma comitiva de deputados e senadores o aguardavam no Hotel Internacional de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Todos envergavam seus melhores fraques e coletes, as gravatas presas em laços irrepreensíveis. Os tecidos da moda eram o linho e o fustão lavrado. Diante de tanta elegância, o deputado Celso Bayma comentou: “Um grupo assim, tão elegante, vai fazer um contraste terrível com o homem.”
Delfim Moreira era o homem a quem Bayma se referia. Esperavam que o vice-presidente chegasse como costumava aparecer em solenidades, vestindo um fraque fora de moda e amassado, com uma grossa corrente de relógio saindo do bolso do colete e uma vistosa medalha na lapela. Para surpresa geral, Delfim Moreira surgiu num fraque impecável, calça com um vinco bem marcado e foi considerado o mais elegante da festa.
Durante os oito meses em que Delfim Moreira governou o país, cresceu o boato de que o ministro da Viação, Afrânio de Melo Franco (pai do jurista e parlamentar Afonso Arinos), era o verdadeiro presidente da República. Na verdade, desde o governo de Minas, Afrânio de Melo Franco funcionava como principal auxiliar de Delfim Moreira, que sofria de uma espécie precoce de esclerose. Apesar da reserva que se guardava então, há mais de um relato em que Delfim Moreira aparece como alguém que não tem o inteiro domínio das faculdades mentais.
Numa dessas ocasiões, já na presidência da República, um grupo de engenheiros expunha os planos, mapas e plantas de uma obra. De repente, o presidente pareceu alheio a tudo. Em seguida, pegou uma das plantas, fez com ela um longo canudo, foi até a janela e, como se aquilo fosse uma luneta, ficou por um tempo a observar a paisagem. Depois, voltou, desenrolou a planta, recolocou-se sobre a mesa e continuou acompanhando a apresentação dos engenheiros, como se nada de anormal houvesse ocorrido.
Com a morte de Rodrigues Alves, em janeiro de 1919, convocaram-se novas eleições, vencida por Epitácio Pessoa. Delfim Moreira continuou na presidência até 26 de julho, data da posse de Epitácio. Apesar da saúde abalada, permaneceu na cena política até o dia de sua morte, aos 52 anos, ocorrida no dia 01 de julho de 1920, em Santa Rita do Sapucaí. Era então o presidente do Senado.
Causo
Adauto Lúcio Cardoso, político mineiro radicado no Rio de Janeiro, foi vereador carioca e, desde então, um udenista brilhante na oposição. Numa sessão da Câmara, armou uma arapuca para desmoralizar o secretário municipal da Saúde, que prestava contas aos vereadores.
– Pelo que ouvi de sua exposição, Excelência, a problemática sanitária do Rio está sendo enfrentada por um critério inaplegível.
– Sem dúvida, senhor vereador. Nem poderia haver outro critério.
Carlos Lacerda, também vereador à ocasião, também udenista, aparteia para saber o significado de inaplegível. Para desespero do secretário municipal, Adauto Lúcio Cardoso respondeu:
– Não tenho a menor idéia do que signifique, pois acabo de inventar essa palavra. Mas o secretário, que adota esse critério, deve saber o que significa.
Os vereadores e a platéia caíram na gargalhada e a sessão acabou sendo suspensa…