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EDITORIAL

O Miserê

Edição 1067 de 18/09/2019

No que podemos classificar como uma literal falta de respeito a todo povo brasileiro, um procurador da Justiça taxou de miserável o que recebe mensalmente dos cofres públicos. Tal fato ocorreu no dia 09 de setembro último, ocasião em que era realizada uma reunião na sede do Ministério Público de Minas Gerais, em Belo Horizonte, onde era discutida a proposta orçamentária do MP mineiro para o ano de 2020.

“Como é que o cara vai viver com R$ 24 mil? O que de fato nós vamos fazer para melhorar a nossa remuneração? Ou nós vamos ficar quietos?”, questionou o procurador Leonardo Azeredo ao procurador-geral de Justiça em Minas, Antônio Sérgio Tonet, que informara que, caso do estado assinasse um acordo de recuperação fiscal com o governo federal, nenhum reajuste salarial seria concedido à categoria, mesmo que fosse concedido um aumento nos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Não bastasse, disse o procurador reclamante que estava deixando de gastar cerca de R$ 20 mil de cartão de crédito a cada mês, e que para viver com o que estava ganhando estava sendo obrigado a tomar comprimidos antidepressivos, tendo citado dois de sertralina diariamente.

Piorando a situação, dois dias depois, com dados do Portal de Transparência do MPMG, descobre-se que o dito procurador se equivocara com os números apresentados como salários recebidos, já que entre janeiro e julho deste ano o líquido salarial recebido, nele incluído indenizações, variou entre cerca de R$ 87 mil a R$ 52 mil, totalizando pouco mais de R$ 477 mil o que dá uma média mensal de cerca de R$ 68 mil, algo em torno de 68 salários mínimos a cada mês.

Sem desmerecer os reclamos do ilustre procurador, bem como outros recebedores de tamanho salário, a disparidade salarial entre ele e o cidadão que ganha salário mínimo, ou até mesmo dois, três ou quatro, é vergonhosa, isso para não dizer uma falta de respeito ao povo em geral. Um professor, por exemplo, aquele que ensina as primeiras letras as nossas crianças, deve chegar a R$ 2 mil quando muito a R$ 3 mil, o que é um absurdo! E o que dizer daquele bombeiro que atuou bravamente quando do desastre em Brumadinho, que está recebendo o seu parco salário em parcelas, e que ainda teve o seu 13º salário referente ao ano de 2018 dividido em 11 parcelas iguais, sem quanquer reajuste? Isso sim é MISERÊ!…

Vou ficar nesses exemplos, já que me envergonho de falar mais sobre tal assunto. Finalizando, relembro a frase de Romário, na Copa do Mundo de 1994, no estádio Rose Bowl, na partida Brasil 1 x 0 Suécia, ocasião em que Pelé, Rei do Futebol, deu conselhos ao Baixinho no sentido deste abandonar o futebol: “Pelé calado é um poeta. Quando abre a boca, só fala m (*). Tinha que colocar um sapato na boca”.

An Quim