quinta-feira, dezembro 5, 2024
GOVERNO DE MINAS GERAIS

Benedito Valadares

Filho de um tenente-coronel da Guarda Nacional, Benedito Valadares Ribeiro nasceu em Mateus Leme, então distrito de Pará de Minas, no dia 04 de dezembro de 1892.

Frequentou a Escola Livre de Odontologia e Farmácia, em Belo Horizonte, antes de se mudar para o Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Direito e se formou, em 1920. Nos tempos de estudante, no Rio, trabalhou como inspetor de alunos e professor.

Advogado em Pará de Minas, elegeu-se vereador e, na efervescência política de 1930, elegeu-se prefeito, tendo apoiado a candidatura oposicionista de Getúlio Vargas à presidência da República. Terá sido esse – e pelo pouco tempo que durou – o único momento em que Benedito Valadares assumiu os riscos de uma oposição abertamente desafiadora e renovadora. Talvez pressentisse as reais chances de êxito. Vitoriosa a Revolução de 30, empossado Getúlio Vargas, Benedito Valadares foi confirmado como prefeito. Em 1932, quando São Paulo deflagrou a Revolução Constitucionalista, Benedito Valadares se incorporou às tropas legalistas, ganhou a patente de capitão e, na função de chefe de polícia na Mantiqueira, tornou-se amigo do jovem capitão-médico Juscelino Kubitschek. Por muitos anos, dali por diante, os dois conviveriam na política de Minas e do Brasil.

Valadares de elegeu deputado constituinte em 1933. No mês seguinte, Getúlio Vargas o nomeou interventor em Minas Gerais. Foi essa, sem dúvida, a mais fulminante ascensão de um político ao governo mineiro – e a mais chocante, também.

O governador Olegário Maciel havia falecido. Substituindo-o estava o seu secretário do Interior, Gustavo Capanema, já reverenciado como sumidade cultura. Poliglota, erudito, político brilhante e voluntarioso, dava-se como certo que Getúlio Vargas viesse a confirmar Capanema no cargo. Além de tudo, havia participado ativamente da revolução de 30 e tinha o apoio de pelo menos metade das principais lideranças mineiras.

A outra metade defendia a nomeação de Virgílio de Melo Franco, igualmente uma sumidade, poliglota, erudito, filho de tradicional família política e, tanto quanto Capanema, um revolucionário desde a primeira até a última hora.

Não havia como comparar Benedito Valadares com nenhum dos dois. Fosse pela densidade política, fosse pelo preparo intelectual, fosse experiência administrativa, tudo pesava contra Benedito Valadares, apenas ex-vereador e ex-prefeito de Pará de Minas, recém-eleito deputado.

Sua escolha causou espanto geral, na época. Hoje, entende-se que não covinha a Getúlio Vargas fortalecer a posição de Minas. O liberalismo enraizado nas lideranças mineiros por certo dificultaria a adoção de medidas mais drásticas que a situação vinha exigindo e exigiria por mais tempo. Melhor, para ele, ter no governo mineiro alguém mais dócil, mais fiel. O homem era Benedito Valadares.

Contam-se muitas histórias sobre os momentos que antecederam a decisão de Vargas. De um modo geral, são histórias que procuram realçar o menor preparo de Benedito Valadares, na comparação com os preparadíssimos Capanema e Melo Franco. É certo, de todo modo, que Vargas realmente encarregou Benedito Valadares de ajudá-lo nas sondagens para a escolha do interventor de Minas, assim como de fato existia um parentesco remoto entre os dois. Mas a boa análise política diz que Benedito Valadares se credenciou ao cargo porque representava garantia absoluta de que não causaria nenhum problema.

Não causou, de fato. Nos doze anos em que permaneceu à frente do governo mineiro, foi o aliado em que Vargas sempre pôde confiar. Ficou como interventor até 1935, quando a Assembleia o elegeu governador e, com o golpe do Estado Novo, 1937, retornou à condição de interventor (embora mantivesse a designação de governador), assim permanecendo até a deposição de Vargas, em 1945.

Como contrapartida à fidelidade mesmo quando Vargas se tornou ditador, fechou o Congresso, extinguiu a vida partidária, Benedito Valadares recebeu o apoio necessário para fazer um governo que merece a classificação de progressista. Algumas de suas realizações de seu governo:

– estabeleceu rígido controle sobre os bancos do governo;

– reorganizou a Caixa Econômica Estadual;

– modernizou a estrutura administrativa do Estado;

– incentivou a policultura, para livrar o Estado da monocultura cafeeira;

– criou a Escola de Indústrias Agrícolas Cândido Tostes, em Juiz de Fora;

– implantou o Departamento Estadual de Estatística;

– fundou a Rádio Inconfidência;

– deu incentivos e isenções a industrias que se instalassem na vizinhança de Belo Horizonte, no município de Contagem, onde viria a se instalar a Cidade Industrial que tanta importância teve no desenvolvimento de Minas.

Mais do que a capacidade administrativa, entretanto, o que se destaca em Benedito Valadares é sua habilidade política. Invulnerável ao anedotário criado e propalado durante todo o tempo em que governou Minas Gerais, soube manter sob seu comando uma equipe competente, quase sempre formada por gente mais ilustre e preparada que ele, como Israel Pinheiro (engenheiro brilhante e administrador incansável, além de filho do ainda muito pranteado ex-governador João Pinheiro).

Na redemocratização, a partir de 1946, Benedito Valadares não sucumbiu. Preservou a influência dos tempos de governador e interventor e conseguiu reunir um grupo de políticos extremamente versáteis e criativos no novo partido que veio a comandar, o Partido Social Democrático (PSD). Se é verdade – e é – que o PSD foi uma importante escola política, não há como negar que Benedito Valadares foi um de seus mestres mais importantes.

Na política mineira, enquanto Benedito Valadares esteve vivo e ativo politicamente evitando cisões, o PSD somente perdeu eleições para o Palácio da Liberdade nas duas ocasiões em que não conseguiu evitá-las. A primeira foi logo que o partido nasceu, quando José Francisco Bias Fortes saiu como candidato. Preterido, Carlos Luiz abriu dissidência e a UDN venceu as eleições, com Milton Campos. Na segunda cisão, em 1960, Tancredo Neves saiu candidato pelo PSD, Ribeiro Pena abriu dissidência e a UDN voltou a ganhar, com Magalhães Pinto.

Deputado federal pelo PSD em 1946, Benedito Valadares permaneceu no Congresso até 1955, quando se elegeu senador. Reeleito seguidas vezes, permaneceu no Senado até 1971. A partir de 1964, quando os militares depuseram o presidente João Goulart e assumiram o poder, Benedito Valadares sumiu de cena. A receita que ensinou então: “Chegou o momento de fingir de morto e ir ressuscitando aos poucos, na medida em que a situação permitir”. Já afastado da política, Benedito Valadares morreu em 1973, aos 80 anos, sem ter tido ocasião para ressuscitar.