terça-feira, abril 23, 2024
DESTAQUELOCAISNOTÍCIASREGIÃO

Plano Estratégico Ferroviário de Minas Gerais (PEF-MG) definirá futuro de trem turístico em Além Paraíba

Cidade tem projeto e locomotiva a vapor pronta para circular, mas operação depende do Plano Estratégico Ferroviário.

André Martins Borges, um dos que está à frente do projeto, em Além Paraíba, participou remotamente da audiência – Foto: Willian Dias

Apesar de todo o esforço da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e de entidades de Além Paraíba (Museu de História e Ciências Naturais e Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – Regional Porto Novo), a implantação de trem turístico de passageiros no trecho de 12km, entre as estações de Porto Novo e Simplício, naquele município, ainda depende da conclusão do Plano Estratégico Ferroviário (PEF) de Minas Gerais, trabalho que está sendo desenvolvido pela Fundação Dom Cabral e que deve ser concluído ainda este ano.

A Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou, nesta quinta-feira (22/10/20), mais uma audiência pública, desta vez discutindo especificamente esse projeto, para ajudar a mediar o conflito entre a associação e a empresa que detém a concessão de exploração da linha.

A parte da linha férrea onde rodaria o trem está sob concessão da empresa VLI Logística, que desativou o transporte de cargas no local, desde 2015, e já protocolou junto à União o pedido de devolução do trecho, que não seria mais viável economicamente para a empresa, de acordo com o gerente de relações institucionais da mesma, José Geraldo de Azevedo Lima. Mas, ainda não se sabe se a União o receberá de volta.

Por isso, a empresa quer aguardar a conclusão do PEF para decidir que medidas tomar. Na tarde desta quinta (22), está sendo realizado o 3º workshop do Plano, com a participação do governo, de empresas concessionárias, de entidades ligadas à questão ferroviária em Minas e também da Comissão Pró-Ferrovias.

A superintendente de Transporte Ferroviário da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade, Vânia Silveira de Pádua Cardoso, informou que Além Paraíba está entre os nove projetos de trens turísticos que estão em análise dentro do PEF.

Para a superintendente, está havendo um grande processo de reavaliação e retomada do setor ferroviário em todo o País, muito em função do trabalho desenvolvido pela comissão extraordinária da ALMG, sendo de interesse do governo do Estado que esses projetos andem. Mas, “mesmo depois da conclusão do plano, ainda seriam necessárias outras parcerias para implantação deles”, afirmou.

Diretor de museu pede que empresa seja parceira da comunidade

Durante a audiência, quem explicou detalhes do projeto do trem turístico foi o diretor do Museu de História e Ciências Naturais de Além Paraíba, André Martins Borges, que lamentou a falta de ajuda por parte da VLI Logística.

Ele exibiu fotos da Locomotiva 51, a vapor, e do vagão de passageiros, que foram recuperados com o trabalho pessoal de ex-ferroviários integrantes da ABPF e algumas doações, e estariam prontos para utilização. “Vocês estão de parabéns. Não podemos deixar que isso tudo que vocês fizeram seja em vão”, disse o deputado João Leite (PSDB), que preside a Comissão Pró-Ferrovias.

Entre outras queixas apresentadas pelo diretor do museu, está o fato de a VLI não ter autorizado a utilização da linha nem mesmo para os testes com a locomotiva e o vagão. “Enviamos quatro ofícios para a empresa recentemente e não obtivemos resposta”, afirmou.

Os responsáveis pelo projeto demandam, ainda, um espaço coberto para a guarda da locomotiva e do vagão. Segundo André Martins Borges, há uma oficina da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que não está sendo utilizada, a 50 metros do local onde está a locomotiva, mesmo assim, todo o trabalho de recuperação e construção desse bens teve que ser feito “no tempo, a céu aberto”.

Até mesmo o necessário laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros para a estação de Porto Novo, que vai completar 150 anos, estaria embaraçado, porque a VLI não teria feito a parte que lhe cabe.

Potencial turístico

André Borges destacou o potencial turístico da região e a importância do trem para ajudar a alavancar a economia local. Segundo ele, as duas estações em Além Paraíba, mesmo sem muita estrutura, já recebem grande quantidade de turistas, só pra fotografar o patrimônio local. Graças à parceria com um empresário local, a estação de Simplício já tem um restaurante em funcionamento, informou.

O vice presidente da comissão, deputado Gustavo Mitre (PSC), que está no Sul de Minas discutindo outros projetos e demandas relacionadas à questão ferroviária, foi enfático: “O entusiasmo das pessoas, em todos os lugares, quando falamos na volta dos trens de passageiros nos mostra que estamos no caminho certo, no trabalho desta comissão”.

VLI promete analisar demandas mais simples

Tanto o deputado João Leite quanto a superintendente Vânia Silveira de Pádua Cardoso fizeram um apelo ao representante da VLI, José Geraldo de Azevedo Lima, para que se reúna com os representantes da ABPF e ofereçam a ajuda possível, pelo menos no que se refere ao local para guarda da locomotiva e do vagão.

Diante das várias demandas apresentadas pela comissão e pelo diretor do museu, André Martins Borges, o representante da empresa prometeu analisar as demandas mais simples, como a questão do pedido de laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros. No caso da guarda dos materiais, ele informou que vai encaminhar a demanda, mas que isso também depende de autorização federal, uma vez que a empresa não é a dona da área, apenas a concessionária.

ANTT

Outro ponto polêmico seria que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) exige o cumprimento de algumas condicionantes de segurança, para operação do transporte de passageiros. E para isso a VLI teria que fazer alguns reparos no trecho, conforme explicou o representante da Agência, Aurélio Ferreira Braga. Segundo ele, a ANTT estaria fazendo todo o possível para mediar os conflitos entre a concessionária e as entidades, mas até agora a empresa não se manifestou a respeito.

O deputado João Leite defendeu que a agência reguladora acompanhe mais de perto esse processo, já que no Brasil se permite que um bem público seja utilizado por uma empresa privada. “Nesse caso específico, esse bem, cedido à VLI, está parado, se deteriorando, quando poderia estar sendo utilizado em benefício da região”, afirmou.

Fonte: Ascom ALMG