sábado, abril 20, 2024
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OPINIÃO: Senadores buscam palanque eleitoral, mas isso pode ser ruim para eles

Por Alexandre Garcia (*)

Na foto, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), no último dia 20. | Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A discussão sobre o voto auditável é uma preocupação. O objetivo é que o eleitor possa conferir, por meio de um comprovante, o voto que foi depositado na urna eletrônica caso haja dúvidas. Mas, também é preciso se atentar a uma segunda etapa, tão importante quanto a primeira: a apuração dos votos.

Eu lembro que a Corte alemã decidiu que não poderia existir uma contagem digital no país porque a apuração precisava ser pública. Nessa mesma decisão foi enfatizado que a contagem de votos precisa ser transparente e acessível a qualquer cidadão e não hermética e acessível apenas aos iniciados no mundo digital.

Como a apuração não é um hábito jurídico, e sim administrativo do estado brasileiro, ela se enquadra nas exigências constitucionais que falam sobre publicidade e transparência. Essa etapa precisa ser exposta.

Ao pensar sobre isso, o sistema eleitoral se torna mais aberto, transparente e confiável. E isso precisa se estender além do voto e chegar a etapa de apuração. Afinal um voto pode ser decisivo em uma eleição. Todos sempre são. Se você vota em alguém que ganha a eleição, o seu voto fez isso e os outros foram sobras, não é verdade?

Quando o palanque não é necessariamente bom

A CPI da Covid poderia ser uma comissão sigilosa e a portas fechadas – apesar de não ter razão de ser. Mas, na verdade, se não fosse tão exposta, ela nem existiria, porque o objetivo principal disso tudo é o palanque eleitoral. Mas esse palanque não é necessariamente bom, porque está expondo senadores.

Nesse final de semana eu conversei com pessoas que acompanharam os trabalhos da CPI e verificaram que Ernesto Araújo e o general Pazuello foram muito superiores em argumentação e raciocínio do que muitos senadores.

As diferenças de sinapses e neurônios foram abismais. Eu fiquei pensando que alguns senadores tinham problemas mentais. Essa exposição está sendo ruim para eles. Esses parlamentares estão se tornando mais conhecidos, porém a consequência não está sendo tão boa assim. Talvez eles não tenham pensado nisso na emoção do momento. A emoção estraga tudo mesmo.

O general Pazuello e Ernesto Araújo foram modelos de racionalização e cabeça fria. Ambos responderam com todos os dados que tinham. Ao passo que alguns senadores não tiveram essa inteligência emocional. O que vimos me deixou preocupado com as condições de raciocínio e lógica deles.

Criminalização da prescrição médica?

O senador, presidente da CPI, me deixou muito preocupado – inclusive pessoalmente. Ele disse que pretende elaborar um projeto de lei para criminalizar o ato médico de prescrever medicamentos para doenças às quais não haja comprovação científica. Eu particularmente não sei o que é isso.

Eu fiquei assustado porque meu cardiologista pode ser preso e eu também, mas como cúmplice. Afinal ele me prescreve há tempos uma vitamina para manter a flexibilização e o funcionamento da minha válvula cardíaca.

Embora seja experimental e não tenha comprovação científica de que funciona, esse medicamento está resolvendo meu problema e tem bons resultados.

Isso acontece com centenas de tratamentos. Médicos prescrevem remédios experimentais a pacientes antes dele ser publicado em revistas e ser comercializado em massa. É assim que funciona a ciência, é preciso experimentar e descobrir o que dá certo.

É testando que a ciência descobre remédios e amplia a aplicação de certos medicamentos.

(*) Alexandre Garcia é jornalista com coluna fixa na Gazeta do Povo (PR)

Fonte: Gazeta do Povo