sexta-feira, abril 19, 2024
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SURREAL: Pai colombiano encontra em Belo Horizonte assassino da filha 26 anos depois do crime

Crime ocorreu em janeiro de 1994. Nancy foi morta com um tiro na cabeça e o pai dela, Martín Mestre se dedicou quase três décadas a encontrar o assassino da filha.

Nancy Mestre, assassinada em janeiro de 1994. Foto: Redes Sociais/ Reprodução

Depois de 26 anos do assassinato da própria filha, o colombiano e oficial aposentado da Marinha, Martín Mestre, 79, que mora na cidade de Barranquilla, na Colômbia, conseguiu encontrar o assassino que já havia sido condenado pelo crime na Justiça colombiana, mas fugido do país. A vítima era Nancy Mestre, na época com 18 anos, que saiu de casa para um passeio com Jaime Enrique Saade e nunca mais voltou. O caso ganhou repercussão após uma matéria do Jornal El País.

Em 1996, Saade foi condenado pela Justiça colombiana a 27 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de estupro e homicídio da garota, mas nunca foi encontrado. Por esse motivo, ele se tornou foragido e procurado pela Interpol. Para tentar fazer Justiça, Martin Mestre se dedicou a achar o assasino de sua filha. Fez curso de investigação, chegou a criar perfis falsos em redes sociais até conseguir encontrar, em 2019, uma pista que apontava que o Saade estava vivendo com a família em Belo Horizonte.

O colombiano levou as pistas para a Interpol, que descobriu que um homem com as características de Saade estava no Brasil, mas utiliziando o nome de Henrique dos Santos Abdala. A polícia brasileira foi acionada, o homem preso e evidenciado de que se tratava mesmo de Saad.

Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG), Saade deu entrada na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, no dia 29 de janeiro de 2020 e saiu em 9 de outubro do mesmo ano, após a revogação da prisão preventiva.

Em setembro de 2020, após um empate entre ministros, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela não extradição do suspeito para a Colômbia. A decisão deixou Martín Mestre decepcionado. Ele chegou a escrever uma carta para o STF pedindo que a decisão fosse revista. Os advogados dele trabalham para que haja um novo julgamento.

No documento endereçado aos ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Carmén Lúcia e Celso de Mello, Mestre contou a história do assassinato da filha e falou do sentimento da família.

“No dia 28 de janeiro de 2020, ao saber da captura do assassino condenado, ajoelhei-me, agradecendo a Deus, e disse a mim mesmo: Deus valorizou minha incerteza e dor colocando-me nas mãos do Supremo Tribunal Federal do Brasil. O assassino demorou 26 anos fugindo da Justiça do meu país, zombando da intensa dor acumulada de que minha família ainda estamos em um intenso duelo que não foi superado”, traz o texto.

Ainda na carta, Mestre falou sobre a decepção de Saade não ter sido extraditado e pediu que a medida fosse revista.

“A decepção que sofri quando soube, surpreso, que a decisão do mais alto tribunal de Justiça do Brasil foi um empate no voto entre os senhores (dois a favor da extradição e dois contra a extradição). (…) Sua carreira criminosa não importou, não só na Colômbia, (abuso sexual e assassinato de minha filha), mas também no Brasil (falsa identidade e portabilidade de falsos documentos de identidade). Isso será Justiça?. Será que, como num jogo de futebol, empate na decisão, dois a dois, e recompensam um assassino colombiano recompensando-o?”, questiona. 

Outro lado

O advogado Fernando Gomes de Oliveira, que defendeu Saade no processo de extradição, explica que não há como mais o cliente dele ser extraditado, já que a decisão agora está como transitado e julgado. A decisão levou em conta que o crime prescreveu no Brasil, por ter mais de 20 anos.

“Com relação à extradição, não há o que fazer mais. Ele permanecerá no Brasil. Eu não acompanho o processo na Colômbia, mas os advogados lá trabalham para reconhecer a prescrição lá e será reconhecida, como aqui. Mas o tratado de extradição firmado entre o Brasil e a colômbia prevê que estando prescrito no Brasil, ou em qualquer um dos países, a extradição não pode ser deferida”, explicou.

Segundo o advogado, Saade é empresário e ainda vive em Belo Horizonte com a família, sendo um sujeito muito reservado e que tenta tocar a vida na cidade. Ele afirma que o cliente aponta que Nancy se matou, dentro do quarto da casa dele, enquanto ele tomava banho.

“Ele conta que já tinha um relacionamento com ela há um bom tempo, então não fazia sentido dizerem que tinha estuprado ela. Eles estavam no quarto dele, na casa dele, de madrugada. Ele disse que eles tiveram relação sexual e acordou assustado porque viu que tinha passado um pouco do horário combinado para deixar a Nacy em casa. Aí ele falou que ia tomar um banho rápido e levava em casa. Ele disse que enquanto tomava banho, ela pegou um revolver dele, na época era comum as pessoas usarem revólver e deu um tiro na cabeça”, disse o advogado.

Saade contou que saiu do banho ainda com xampu na cabeça, chamou o pai e levou Nancy para o hospital.

“Veja se faz sentido você tentar matar alguém e levar para o hospital. A Nancy permaneceu viva por sete dias na UTI. Aí ele decidiu permanecer na Colômbia, porque a esperança dele era que ela acordasse e acordada ela pudesse dizer que ele não a tinha tentado matar. Quando ele soube que ela tinha falecido ele veio para o Brasil”, disse.

Em solo brasileiro, Saade se casou e teve dois filhos. Agora responde processo na Justiça por ter entrado no país ilegalmente e portando documentos falsos. O julgamento para esses crimes ainda não tem data para ocorrer. Fernando Gomes destaca que a condenação na Colômbia não passou por nenhuma revisão, como é feita por meio de instâncias no Brasil.

“Ele não teve defesa e o pior, a sentença dele foi proferida e não teve revisão por algum órgão superior. Aqui no Brasil, se alguém é condenado, essa sentença é revista por um tribunal. Lá ele foi condenado e apenas um juiz analisou o caso dele e aí ficou a sentença da forma como está hoje”, defende o advogado.

Fonte: O Tempo / Por Bruno Menezes