OPINIÃO
O computador que não havia / Jornalismo profissional ou militância incondicional?
Por Nikolas Ferreira (*)
Quando se fala em jornalismo, pelo menos quando se refere a um bom jornalismo, alguns dos primeiros pilares que vêm à mente são: a apuração de fatos, a imparcialidade, o respeito ao contraditório e a divulgação de informações verdadeiras. Lamentavelmente, a realidade é discrepante. Muitos jornalistas colocam as ideologia nas quais acreditam acima do profissionalismo, colaborando para que a classe perca cada vez mais credibilidade ao se transformar em um mero instrumento para torcida política.
Recentemente, a jornalista Daniela Lima, da GloboNews, noticiou que um computador da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) teria sido encontrado entre os pertences do vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, o que não procede. Após a repercussão negativa, Daniela se retratou por ter compartilhado tal informação.
Erros acontecem? Claro. Não só neste ramo como em qualquer outro. Mas a pergunta é: houve a verificação dos fatos de forma precisa e imparcial? Difícil acreditar. Não é a primeira vez que a mesma jornalista se torna assunto nas redes sociais. Em maio de 2023, ao comentar o PL da Censura, ela acusou o X (antigo Twitter) de estar impedindo postagens sobre o tema. Posteriormente, levou uma checagem da plataforma, pois na verdade tratava-se de uma instabilidade global no microblog. Ao ser retrucada por Elon Musk, a apresentadora foi novamente checada por ter feito uma interpretação errada da postagem do CEO do X.
O inquérito das fake news ainda existe, mas aparece
só quando convém. Se ousar questionar ou rebater, irão
rotular como uma pessoa que ataca a liberdade de imprensa.
Também no ano passado, lembro-me de que a Daniela me atacou no Conexão Globo News, ao noticiar a minha denúncia sobre um trans estar frequentando o banheiro feminino do colégio em que a minha irmã estudava. Além das afirmações infundadas, ainda classificou a atitude como “nojenta”. Mas claro, minha função não é agradar os militantes das redações, e sim representar uma grande parte de população que apoia o meu trabalho. Talvez seja por isso que ela me bloqueou.
Levando em consideração esse e outros episódios, poderíamos sugerir que a âncora do jornalismo da Globo é progressista e defende que cada um pode ser o que quiser, certo? Bom, depende. No mês passado, ao comentar uma notícia relacionada ao deputado federal Carlos Jordy, Daniela Lima afirmou, de forma sarcástica, que a deputada federal Silvia Waiãpi “se diz indígena”. Ora, como os esquerdistas adoram repetir, quem é Daniela para definir se Silvia é ou não indígena, já que ela afirma ser? Este caso fez com que ela fosse criticada até por colegas de profissão, que classificaram o ato como racista. Mas claro, nenhuma repercussão na extrema imprensa ou ações judiciais dos “justiceiros ideológicos”; afinal, ela está do lado ao qual tudo é permitido.
Me lembro de que, ainda quando era vereador em Belo Horizonte, a mesma TV Globo noticiou em um dos seus jornais televisivos do estado de Minas Gerais que eu havia discursado sem máscara no mesmo dia em que outro vereador estava com sintomas de gripe. Com uma apuração simples e fácil seria possível perceber que não era verdade, mas preferiram propagar uma fake news que permanece sem correção até hoje, quase 3 anos depois. Se mentem com algo tão simples de averiguar, imaginem em situações mais complexas.
Se notícias falsas vindas também de veículos tradicionais não são incomuns, a manipulação de matérias e chamadas para desgastar quem eles classificam como inimigos acontecem dia sim e dia também. Articulam uma forma de colocar como vilão quem é vítima, dependendo da ideologia. Um bom exemplo é de quando o meu tio, policial que de forma voluntária ajudava na segurança durante a minha campanha, teve o nariz quebrado por mais um adepto do “ódio do bem”. Condenar o criminoso? Que nada. A manchete foi que o segurança de um vereador bolsonarista havia “sacado a arma durante uma confusão”, uma tentativa clara de inverter os fatos. O mais cômico nisso tudo é que, na hora de condenar um antagonista por um erro ou pela propagação de algo que não procede, há inúmeros jornalistas, políticos, militantes e ainda juízes que são verdadeiros leões. Quando é com alguém da mesma turma, colocam a venda nos olhos no estilo birdbox e se organizam para fazer a defesa coordenada.
O inquérito das fake news ainda existe, mas aparece só quando convém. Se ousar questionar ou rebater, irão rotular como uma pessoa que ataca a liberdade de imprensa, já que do outro lado a hipocrisia reina com maestria. Partindo do cômico para o trágico, o mais incrível, e não me refiro ao lado positivo, é que esses são os mesmos que pedem projetos de lei que visam censurar a internet e políticos que querem “regular” os meios de comunicação. Defendem a existência da imprensa, mas longe de ser aquela livre, pilar essencial da verdadeira democracia.
Que a militância e o ativismo estão matando o jornalismo, é fato; mas ao menos consigo perceber uma luz no fim do túnel quando vejo profissionais, ainda que em minoria, exercendo a profissão de maneira correta e isenta. Este é mais um espaço extremamente importante que precisa ser cada vez mais ocupado por gente competente. Ao contrário da esquerda, o meu desejo não é que as vozes permitidas sejam somente aquelas que vivem para sempre bajular alguns e atacar outros.
A mídia independente se tornou tão fundamental que, em muitos casos, além de ser a que realmente informa de forma honesta, é a única a noticiar o que ninguém mais quer (ou pode). O crescimento contínuo é a consequência merecida, que inclusive incomoda a muitos, incluindo movimentos que querem perseguir, desmonetizar e emudecer seus desafetos. Nenhuma novidade no país em que a censura é defendida até mesmo em um evento com o título de “Democracia Inabalada”.
(*) Nikolas Ferreira de Oliveira é natural de Belo Horizonte, tem 27 anos e é formado em
Direito pela PUC Minas. Foi vereador na capital mineira e nas eleições de 2022 disputou
uma vaga para a Câmara Federal, tornando-se o deputado mais votado do país e
alcançando a maior votação da história de Minas Gerais, com 1.492.047 votos.
Fonte: Gazeta do Povo.