quarta-feira, maio 1, 2024
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Ex-comandante da Marinha contesta versões de chefes do Exército e da Aeronáutica

Pessoas próximas a Garnier apostam que desenrolar da investigação pode ameaçar o clima de confiança entre três forças, em especial entre Exército e Marinha.

O ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier tem dito a interlocutores que são inverídicas as versões apresentadas pelo ex-comandante do Exército general, Freire Gomes, e pelo ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Junior, nos depoimentos dados a Polícia Federal na investigação da trama golpista.

O general e o brigadeiro disseram à PF que o então presidente Jair Bolsonaro apresentou minuta de decreto para um estado de sítio. Mas que a ideia teria sido contestada por eles. Garnier teria sido o único a se colocar “à disposição do presidente” para a empreitada, segundo os militares.

A interlocutores, Garnier afirma, no entanto, nunca ter visto tal ato nem recebido ordem alguma de Bolsonaro nesse sentido.

Há uma avaliação no seu entorno de que os depoimentos de ambos são de interessados diretamente em o implicar para evitar uma condenação futura, uma vez que os dois poderiam ter agido de alguma forma para além de rejeitarem a ideia de acatarem a minuta.

Ainda assim, a versão de Garnier relatada a aliados é no sentido de que tal oferta sequer ocorreu e muito menos um apoio dele. Uma forma de comprovar isso é que não houve mobilização da Marinha ou registro de reunião do almirantado nesse sentido.

A percepção entre aliados do almirante Garnier é de que os ex-chefes do Exército e da Aeronáutica estão numa linha colaborativa com a Polícia Federal. São ouvidos como testemunhas, e não como investigados. Assim, conseguem preservar as duas forças, evitar uma punição e desgaste maior para ambas.

Elas, em suma, sairiam como legalistas e a Marinha como golpista. O preço desse roteiro, nessa leitura, seria entregar o ex-chefe da Marinha.

A crítica que se faz, porém, no entorno de Garnier, é de que a participação dos generais talvez seja maior do que possa parecer.

Um ponto é o áudio revelado pela PF que o então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, diz que a ideia de uma reunião no Alvorada de Bolsonaro com o general Estevam Teophilo era tratar de um decreto que que ele mexeu e ficou mais “direto, objetivo, curto e limitado”.

A PF questionou Teophilo sobre o áudio, mas ele disse “que exerce o direito de permanecer em silêncio por não ter o contexto das conversas”. Bolsonaro recebe Teophilo no Alvorada na semana do áudio.

Outro ponto é a conexão direta de Freire Gomes com Mauro Cid por meio de um aplicativo militar dificilmente rastreável.

Um terceiro ponto é que a investigação mostra que a movimentação golpista ocorria com mais intensidade dentre os “kids pretos”, nome dado aos militares formados pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, treinados para atuar em missões sigilosas e em ambientes hostis e politicamente sensíveis.

Eles são subordinados ao Comando de Operações Terrestres, que era chefiado por Teophilo.

Pessoas próximas a Garnier apostam que o desenrolar da investigação possa ameaçar o clima de confiança entre as três forças, em especial entre o Exército e a Marinha. Uma relatou que o movimento está claro: jogar os marinheiros no meio combate “para morrer na frente”.

A CNN, no entanto, apurou que o ambiente entre elas hoje é bom, mas um dado foi destacado: o atual comandante da Marinha, Olsen, era o comandante de operações navais de Garnier em 2022, função similar a de Teophilo no Exército.

Fontes informaram à CNN que ele tem tido uma postura pacífica com Garnier, até porque uma eventual movimentação golpista na Marinha em 2022 obrigatoriamente passaria por ele.

Garnier preferiu o silêncio à PF, ao contrário de Freire Gomes e Baptista Junior. O motivo é que não havia sido dado acesso aos autos na ocasião do depoimento.

A CNN procurou os advogados de Freire Gomes, Garnier e Teophilo, mas eles não se manifestaram. Procurou também diretamente Baptista Junior, que disse que não se pronunciará.

Fonte: Tribuna da Bahia com informações da CNN Brasil