OPINIÃO
Carta ao Leitor: Se Zé Dirceu defende a democracia no Congresso, tudo é permitido
Por Paulo Polzonoff Jr. (*)
Caro leitor (caro pra chuchu, tomate e cenoura – como subiu, né?),
Houve um momento nesta semana em que achei que estava delirando. Só pode! Porque vi José Dirceu (doravante Zé Dirceu, Zé Dirça ou Daniel) discursando no Congresso. E defendendo a democracia, ainda por cima. Em pleno Ano da Graça de 2024, esse senhor que tem linha direta com o tinhoso estava lá, espalhando perdigotos revolucionários e seguramente conquistando um ou outro incauto para a sua já numerosa legião.
Zé Dirceu que foi tema de uma animada conversa que tive com dois amigos na noite de quinta-feira (4). Entre nacos de uma suculenta costela, eles – que são muitíssimo mais inteligentes do que eu – falavam sobre a entrega de Zé Dirça à causa. Uma entrega demoníaca, de quem realmente vendeu a alma em troca de poder, dinheiro e uns prazerezinhos da carne.
Realmente é um sujeito admirável, esse tal de Daniel. Não, não, não! “Admirável” talvez não seja a melhor palavra, Paulo. Pode dar a entender que você gostaria de ser como José Dirceu – e nada mais distante da verdade. Interessante, esse José Dirceu. Curioso. Intrigante. “O último homem de ferro comunista do Brasil”, nas palavras de um dos amigos. Aquele que, ameaçado de mofar na prisão se não entregasse os camaradas, simplesmente deu de ombros. Um homem disposto ao martírio, porque se acredita de fato predestinado à glória mundana.
E tem gente que acha que a direita precisa de um Zé Dirceu para chamar de seu. Você concorda? O problema é que um Zé Dirça de direita, por assim dizer, teria de estar disposto a se entregar por inteiro ao combate. E a usar as armas do adversário (sobretudo a mentira) para triunfar. Só que isso vai totalmente contra os princípios cristãos. E, no mais, o que é o poder temporal em comparação à Eternidade que teoricamente nós, cristãos, almejamos? Não, um Daniel de direita não faz sentido.
Na verdade, a única coisa realmente admirável em José Dirceu é mesmo a disposição dele para o martírio. Zé Dirceu sempre se ofereceu à derrota, ao fracasso e à humilhação em nome da causa que ele defende. É uma disposição que não vejo em nenhum líder da direita. O que é preocupante, porque não tem como participar desse jogo sujo sem estar disposto a sofrer e sofrer muito. A se anular. A ser humilhado. A fracassar e perder. Pior: a causar sofrimento nas pessoas próximas.
E antes que alguém pergunte, adianto: não, não estou. Você está? (…) Foi o que pensei.
Aquele abraço do…
Paulo.
P.S.: Sei que a newsletter de hoje ficou menos pessoal que o de costume. Não sei o que aconteceu. Deve ter sido a costela que ainda está pesando aqui no estômago. Estava uma delícia, aliás.
P.P.S.: Tá, mas diz aí como é que vai a família. E o trabalho? Resolveu aquele probleminha lá? E a Maria, tá melhor? É, tá dando virose em todo mundo. Manda um abraço pro Toninho e pra Neuza. Diz pra eles que eu não esqueci não, hein! Uma hora a gente marca.
(*) Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor.
Fonte: Gazeta do Povo