quinta-feira, abril 25, 2024
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Editor do ALÉM PARAHYBA ocupou ontem (24) a Tribuna Popular da Câmara Municipal para levar informações sobre a extinta Fábrica de Tecidos

A Fábrica de Tecidos, antes Companhia Industrial de Além Paraíba, no auge de seu funcionamento. (Foto: Acervo Mauro Senra)

O editor do ALÉM PARAHYBA, Flávio Senra, ocupou ontem (24) a Tribuna Popular da Câmara Municipal, ocasião em que levou aos membros da edilidade alemparaibana algumas informações sobre a extinta Fábrica de Tecidos, uma área que, segundo informações, já poderia estar de posse da municipalidade de Além Paraíba sem qualquer ônus para os cofres públicos municipais.

Segundo o editor do veículo de comunicação, documentos que remontam à segunda década do século passado, já foram entregues a governantes anteriores, até mesmo ao Legislativo Municipal, que foram descobertos através de uma pesquisa realizada pelo professor e historiador alemparaibano Mauro Luiz Senra Fernandes, fato já noticiado anos atrás no semanário ALÉM PARAHYBA.

Ao final de seu pronunciamento, Flávio Senra respondeu perguntas formuladas por alguns membros da edilidade que se mostraram interessados, ao contrário de vereadores de mandatos anteriores, a levantar as informações recebidas, inclusive pretendem buscar junto ao historiador e professor Mauro Senra mais informações, até mesmo cópias dos documentos.

A seguir, o teor do depoimento informativo que foi apresentado aos vereadores…

“Senhor presidente desta Casa que representa o povo alemparaibano, através de quem cumprimento as senhoras vereadoras e demais vereadores, boa tarde!

Já de bom tempo não sou afeito a, como representante do Jornal Além Parahyba ou como cidadão, frequentar as reuniões desta Casa. São razões pertinentes a uma série de fatos que no momento não condizem de exposição, não contra a instituição que, como outras em nosso município, como o Hospital São Salvador, APAE, Sindicato Rural, ACEAP, Asilo Ana Carneiro, etc., e qualquer outra em qualquer lugar do mundo, devem ser respeitadas sejam por um agente público ou mesmo um cidadão. A instituição é intocável. Quando quisermos fazer crítica a alguém ou algo, esqueçamos as instituições e pautemos nossas críticas aos seus gestores.

Mesmo sabendo que o que irei mencionar não seria de conhecimento de alguns membros desta edilidade, mas o são de alguns, um fato que vem ocorrendo ao longo de algumas décadas deveria ter o olhar atento de Vossas Excelências já que reflete bastante no contexto sócio-econômico municipal e não teve o olhar atento de gestões passadas, tanto deste Legislativo quanto do Executivo Municipal, e isso remonta aos governos dos ex-prefeitos Fernando Lúcio Ferreira Donzeles (parte de seu segundo mandato e na totalidade do terceiro), Miguel Belmiro de Souza (pai), Sérgio Antônio Ribeiro Ferreira (os dois mandatos), Wolney de Freitas e, também, o atual prefeito Miguel Belmiro de Souza Júnior. Como vêem, isento de responsabilidade o governo do saudoso ex-prefeito Elias Fadel Sahione, na minha modesta opinião o melhor gestor municipal dos últimos 50 anos, bem como o primeiro e parte do segundo mandato do ex-prefeito Fernando Lúcio Ferreira Donzeles, por razões que os senhores irão entender no decorrer de minha explanação.

É de conhecimento de toda população que, nas proximidades do Complexo Vassourão, é assim que trato aquele local como também trato a Praça dos Imigrantes já que quem a construiu assim a denominou, existe uma grande estrutura montada, sem uso por parte de seu último proprietário, no caso um certo empresário de nome Ricardo Haddad.

Gostaria de enfatizar aos senhores e senhoras que gosto de citar nomes, principalmente quando tenho certeza da realidade dos fatos, o que é uma obrigação profissional por ser editor de um veículo de comunicação.

Trata-se da extinta Fábrica de Tecidos Dona Isabel, inicialmente denominada Companhia industrial de Além Paraíba – CIAP, empresa fundada em dezembro de 1912 que teve como primeiro presidente o emérito Dr. Alfredo Castelo Branco.

À ocasião da criação da CIAP, que foi uma das maiores indústrias têxteis da Zona da Mata, era prefeito o agricultor e farmacêutico José Venâncio de Godoy, prefeito municipal entre os períodos de 1906 e 1912, além de 1931 a 1934, que também foi o primeiro prefeito de Volta Grande quando o vizinho município desmembrou-se de Além Paraíba do qual foi distrito.

Em seu primeiro mandato como prefeito, José Venâncio de Godoy, também conhecido como Capitão Godoy, recebeu em seu gabinete a visita de um grupo de alemparaibanos capitaneados por Dr. Alfredo Castelo Branco, solicitando a sua intervenção junto a Estrada de Ferro Central do Brasil, então proprietária de um grande terreno ao lado do pátio da Estação Ferroviária de Porto Novo, onde está localizado o Complexo Vassourão. Vale ressaltar, à época era presidente da Estrada de Ferro Central do Brasil o engenheiro Dr. Paulo de Frontin, que foi também prefeito da cidade do Rio de Janeiro, quando esta era a capital do país.

Usando os meios disponíveis, o prefeito Capitão Godoy conseguiu com que a direção da Central do Brasil doasse o grande terreno, então em parte pantanoso, para a criação do grande empreendimento que em muito auxiliou a Além Paraíba ser considerada durante décadas como um dos municípios mais progressistas da então Província de Minas Gerais. Daí, em dezembro de 1912, foi inaugurada a Companhia Industrial de Além Paraíba, que no seu auge funcionava 24 horas por dia com três turnos diários, em grande período de sua existência como a maior empresa empregadora do município e sua microrregião.

Quando da cessão do terreno, este foi doado para a municipalidade alemparaibana, que a seguir o cedeu para a instalação do novo e importante empreendimento, com uma condição que foi imposta pela presidência da Central do Brasil. O terreno doado seria revertido para a municipalidade alemparaibana, com todas as benfeitorias, sem qualquer ônus, caso a empresa encerrasse suas atividades iniciais. Ou seja, fechou a Fábrica de Tecidos toda sua estrutura física, prédio, etc., passaria a pertencer à Prefeitura Municipal de Além Paraíba.

Ao final da segunda metade da década de 1990, entre o segundo mandato de Fernando Lúcio Ferreira Donzeles e o de Miguel Belmiro de Souza (pai), enfrentando graves problemas financeiros, finalmente a indústria têxtil alemparaibana que tantas riquezas e empregos gerou por décadas fechou de vez suas portas, tanto que seu abastecimento de energia elétrica e água foram cortadas, quase todos os empregados foram demitidos, ficando apenas uma meia dúzia para a guarda do que lá existia.

Por várias vezes, o dito empresário Ricardo Haddad tentou gestões junto a municipalidade, sempre no sentido de vender ou arrendar aquele espaço para a municipalidade, bem como para particulares, acredita-se que inclusive tendo ciência da cláusula aditada quando da cessão do terreno para o iniciar do grande empreendimento têxtil, isso pelos idos de 1912.

Após o fechamento, eis que surgiu e foi entregue aos nossos últimos prefeitos citados anteriormente, cópia dos documentos da doação do terreno, seus registros cartoriais e outros. Os documentos foram encontrados e entregues pelo professor e historiador Mauro Luiz Senra Fernandes, e, infelizmente, nenhuma atitude foi tomada pelos últimos governantes já citados anteriormente, bem como por esta Casa, onde se acredita que os vereadores que aqui passaram, alguns aqui exercendo mandato, desses documentos tomaram conhecimento.

Este é o fato que me traz até esta Casa que representa o povo alemparaibano, povo que já de longa data vem sofrendo com o descaso de seus governantes, agora enfrentando o mal que tomou conta da humanidade, a Covid-19, que já fez sangrar o coração de muitas famílias alemparaibanas, muitas pessoas de nossa convivência pessoal até mesmo familiar.

Não tenho posse de qualquer dos documentos citados, e digo que isso não é um problema meu, mas sim dos senhores e das senhoras, isto posto já que os verdadeiros representantes do povo são vocês!

Só tenho a ressaltar que esta Casa também recebeu esses documentos, onde estão não tenho como dizer. Mas de fato, concreto e de direito, os senhores e senhoras possuem em seus gabinetes assessores pagos com o dinheiro público, certamente capacitados para exercerem esses cargos, com condições de realizarem pesquisas que venham a encontrá-los e fazer com que Além Paraíba resgate aquilo que de direito lhe pertence.

É o que tenho a dizer, solicitando desculpas por alguma inconveniência de minha parte, desejando que o mandato dos senhores e senhoras seja digno do voto de confiança que receberam nas urnas.”