EDITORIAL
Desculpem pelo adjetivo CANALHA (ou o melhor seria dizer INFELIZ)
Por Flávio Senra (*)

Canalha é o (a) cidadão (ã) que para escolher (votar) quem será o seu governante ou representante dentro do Poder Legislativo, o faz a troco de algum favor, presente ou dinheiro.
Gostaria de não usar esse termo que ora inicio essa conversa com você, caro leitor, entretanto a expressão a ser usada tem e deve ser esta: CANALHA!
Ontem, pela manhã, feriadão de 15 de novembro, enfrentei o calorão que tomou conta do dia-a-dia de todos nós e, pegando uma carona com um dileto amigo desde os tempos de criança, me dirigi até o centro da cidade – Porto Novo. Conversa vai conversa vem, como sempre esta acabou versando sobre as eleições municipais do próximo ano, onde expressei sem titubear qual é a minha escolha sobre qual entre os já pré-candidatos a prefeito que tem seus nomes circulando pelos becos e ruas, bares e botecos, etc., eu darei o voto. De imediato, este amigo indagou: “Ele vai ter dinheiro para distribuir na campanha?” Antes mesmo de responder sua pergunta ele engatou outra: “Tem que ter dinheiro? Senão o povo não vota!”
A este questionamento, não tive alternativa a não ser indagá-lo se o emprego que ganhou da municipalidade foi pelo mérito que acredito ele possui, ou foi pelos votos dados ao atual prefeito por dois mandatos consecutivos que por sinal já tem o seu nome inserido na história alemparaibana como o pior entre todos os piores desde os idos do final de século XIX. De olhos arregalados, pois acredito não seria esta a resposta que gostaria de receber, ele emendou que esperou por um bom tempo, uns três anos, para conseguir com que o prometido pelo “excelentíssimo” desde o seu primeiro mandato fosse cumprido. “Grandes merdas esse empreguinho!”, pensei com meus botões, preferindo o silêncio a perder a carona já que o sol estava de rachar…
O silêncio tomou conta até o final da carona, nas proximidades do Sicoob-Credimata, e agradecido segui o meu caminho enfrentando o sol de primavera que trouxe o forno do inferno até nossa infeliz e maltratada cidade, e com o pensamento voltado a “boa”, isso mesmo – boa entre aspas, conversa que durou entre a Rua Adãozinho, onde moro, e a Praça dos Imigrantes.
Fiquei o dia todo com o pensamento voltado ao bate-papo, e cheguei à conclusão de que o adjetivo a ser usado no bate-papo com você que chegou até aqui era mesmo CANALHA! Aliás, o termo canalha não é direcionado ao amigo de longa data, já que a este só posso dizer INFELIZ já que suas qualidades profissionais são inquestionáveis
Além Paraíba, já de longa data, tem sofrido com as escolhas que o seu povo fez e ainda faz quando de eleições municipais. Aliás, devo salientar que, hoje aos 71 anos de idade, somente uma vez um candidato a prefeito em que votei venceu. Vejam a seguir:
· Na primeira vez, votei em Raul David Machado e quem venceu foi Elias Fadel;
· Na segunda, votei em Fernando Lúcio mais por Nande, meu primo em primeiro grau, ter sido o seu vice – e Fernando Lúcio venceu;
· Na terceira vez, minha escolha ficou com o médico Dr. Ademir Silva que perdeu para Elias Sahione;
· Na quarta, votei em Sergio Ribeiro que perdeu para Fernando Lúcio;
· Na quinta, fiquei novamente com Serginho que foi derrotado pelo médico Dr. Miguel Belmiro de Souza;
· Na sexta, fiquei com Gélcio Cunha atendendo meu saudoso e grande amigo Dr. José Oswaldo Castro Neto, aliás seu vice, e quem venceu foi Serginho Ribeiro;
· Já na sétima vez, escolhi Miguel (pai), que acabou sendo derrotado por Serginho;
· Na oitava, fiquei com Antônio Lamon que perdeu para Wolninho;
· Na nona vez fiquei novamente com Lamon que dançou para Fernando;
· Na décima vez fiquei com Serginho que perdeu para Miguelzinho;
· E na última vez, novamente vi a derrota com Fernando Lúcio que perdeu para Miguelzinho.
Certamente muitos estão comentando e exclamando: que histórico de derrotas! Outros, com toda certeza, estão afirmando que sou um tremendo pé-frio, e posso até aceitar tal adjetivo. Entretanto, com muito orgulho posso dizer que nunca vendi o meu voto, seja para prefeito como para vereador. Segui minhas convicções e somente votei em quem achei que era o melhor para minha terra natal. Devo até salientar, e isto é do conhecimento de muitos, durante o governo do segundo mandato de Elias Fadel Sahione, mesmo não tendo sido seu eleitor por ele fui convidado a prestar serviços junto ao seu governo como uma espécie de assessor de imprensa junto com um grande amigo que conquistei na ocasião – o saudoso José Roberto Henriques. Devo confessar que se errei nas vezes que deixei de votar em alguém, mesmo achando que meu voto a Dr. Ademir Silva foi muito bem direcionado, digo que foi quando deixei de votar no ex-prefeito Elias Sahione, para mim o melhor de todos desde os anos da década de 1970.
Mas voltando aos tempos atuais, espero que o cidadão alemparaibano reflita um pouco mais em quem votar para prefeito e para vereador, principalmente em quem vai ocupar a cadeira e a caneta do Poder Executivo Municipal. Vender o voto significa burrice! Significa ficar sempre de quatro! Significa deixar o município de Além Paraíba continuar sendo a titica que se tornou de tempos para cá…
Finalizo contando um fato ocorrido décadas atrás, que me foi contada pelo inesquecível e saudoso amigo José Erbiste, o Macarrão, um dos mais inteligentes vereadores que vi atuar na Câmara Municipal de Além Paraíba. Tal fato contou com a presença dele, José Erbiste, e de José Christiano Filgueiras, Irio Belo do Nascimento, Capitão Romeu Rosa e Expedito Furtado.
Certa vez, pelos idos da década de 1960, numa eleição onde apenas votava-se para senador, deputado federal e estadual, prefeito e vereador (para presidente da República este era escolhido através de voto indireto pelos representantes do Congresso Nacional; e os governadores eram escolhidos pelo presidente da República), um candidato a deputado, com residência em Muriaé de nome Telêmaco Pompei, teve o apoio de alguns vereadores e políticos de Além Paraíba. Pompei foi eleito, e passado algum tempo esses mesmos políticos que o apoiaram na boa terra buscaram dele o apoio para algumas necessidades do município. Após aguardarem por horas seguidas na porta de seu gabinete, acabaram sendo recebidos pelo deputado que os ouviu atentamente e lhes respondeu: “Os votos que recebi em Além Paraíba me custaram muito caro e foi pago a vocês. Portanto, nada devo a vocês e a Além Paraíba. E por favor, não apareçam mais aqui pois o que paguei foi bem caro”, disse Pompei deixando-os a ver navios.

(*) Flávio Senra é diretor e editor do Jornal Além Parahyba desde junho de 1993.