domingo, maio 5, 2024
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Em MG, 77% das mortes por Covid-19 ocorreram entre os meses de julho e agosto

Números quadruplicaram em relação aos dos primeiros meses de pandemia no Estado

Por GABRIEL RODRIGUES E DANIELE FRANCO

Primeiros casos da síndrome infantil ligada à Covid-19 foram registrados no Reino Unido em abril. | Foto: Douglas Magno/AFP

Minas Gerais levou 94 dias para registrar 1.000 óbitos por Covid-19 – a primeira confirmação foi no dia 30 de março, e o Estado chegou a 1.007 mortes no dia 1º de julho. Desde então, para ultrapassar a marca dos 4.000 óbitos, o Estado demorou menos da metade do tempo: 46 dias depois, em 15 de agosto, Minas registrava 4.044 mortes.

Julho e agosto representaram um salto na pandemia no Estado. Cerca de 77% das mortes registradas em Minas desde o começo da crise foram nesses dois meses, assim como 74% dos casos. Em um mês e meio, registros de óbitos mais que quadruplicaram, aumentando quase 4,4 vezes e chegando aos atuais 4.223.

O aumento de casos ficou mais evidente a partir de meados de julho. Desde o começo de junho, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) previa o pico da pandemia em Minas para o dia 15 de julho – agora, fala-se em um possível platô de contaminações no Estado, com um patamar alto, mas estável de novos doentes, em vez de um pico abrupto. Pouco mais da metade dos registros de casos em Minas, o equivalente a 53,4%, foram após 15 de julho. Isso significa que, em pouco menos de um mês, até agora, o número de ocorrências mais que dobrou no Estado, em relação a todo o período anterior da pandemia. A maioria dos registros de mortes também foi após o dia 15: 58,5% delas, ou 2.471 óbitos.

Dados da SES-MG apontam que, após 12 dias com velocidade de transmissão abaixo de 1, o que indica regressão da pandemia, o Estado voltou a registrar números superiores na última quinta-feira (13). O índice chegou ao menor patamar no dia 7 de agosto, com 0,90, subindo a partir de então até chegar a 1,09 registrado no sábado (15) e 1,04 registado no dominigo (16), número mais recente.

Virgínia Andrade, vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, lembra que o período coincide com o início do processo de flexibilização em todo o Estado e também em várias partes do Brasil. “Quando começa a flexibilização do comércio, as pessoas acabam tendo menos cuidado, deixam de fazer só coisas essenciais, e temos visto mais gente na rua, mais reuniões, mais festas, mas o vírus ainda está aí e infectando”, alerta.

O fator também é determinante na análise do pesquisador Flávio Figueiredo, do Departamento de Ciência da Computação da UFMG. Figueiredo montou uma plataforma no início da pandemia para monitorar a velocidade de transmissão em todos os Estados do país. “É uma equação relativamente simples, contato vezes potencial de infectar. À medida que decisões de abrir e fechar as cidades são tomadas, a variável de contato muda. Se realmente houvesse isolamento social, a realidade poderia ser diferente, mas houve uma certa ansiedade para reabrir, o que faz o contato aumentar e o vírus se propagar”, avalia.

Em nota, a secretaria justificou os dados reforçando a diferença entre a data de ocorrência do óbito e a data de confirmação da morte pela pasta. “Quando se observa a média móvel pela data dos óbitos, percebe-se que Minas Gerais segue uma tendência de platô, ou seja, embora não haja uma tendência nítida de queda, também não há um aumento significativo no número de óbitos diários desde julho”. A pasta, no entanto, não respondeu ao questionamento acerca do aumento exponencial no número de casos entre junho e agosto.

Óbitos aumentam seis vezes em BH, mas pico pode ter passado

A capital mineira também assistiu ao aumento dos números desde julho. Os registros de óbitos subiram praticamente seis vezes desde o final de junho, de 136 para 813. Os registros de contaminação aumentaram quase cinco vezes – hoje, são 28.649, enquanto, no dia 30 de junho, eram 5.915.   

O infectologista Unaí Tupinambás, um dos membros do Comitê de Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 em BH, afirma que a primeira onda de contaminações na cidade parece já ter passado, mas a certeza só virá no final de agosto. “O pico parece ter começado na semana epidemiológica 25 ou 26 e seguido até a 31, 32 e começa a cair. Percebemos que as mortes e os novos casos em Belo Horizonte vêm diminuindo”, detalha. A semana epidemiológica 25 compreende o período entre 14 e 20 junho, enquanto a semana 32 abrange os dias 2 a 8 de agosto. 

Tupinambás lembra que as mortes registradas em julho e agosto não necessariamente decorreram de contaminações ocorridas nesses meses. “Os pacientes morrendo de Covid-19 estão internados, em média, há 20 dias”. Ele tem esperança de que a taxa de internações e de novos casos continue a diminuir nas próximas semanas, mas pontua que que não é momento para relaxar a disciplina. 

“Podemos eventualmente visitar o pai ou amigos, mantendo distanciamento e em ambiente aberto, mas sem muita festa. É preciso um pouco mais de sacrifício. Nós estamos quase empatando uma partida e não podemos levar um gol nas costas. Nessa descida (do pico), não podemos relaxar. Até o final deste mês, vamos ver se saímos da primeira onda. Mas, se relaxarmos muito e abrir restaurante, boteco ou escola precocemente, podemos ter recrudescência de casos”, avalia. 

O médico pontua que o cenário de Belo Horizonte vai na contramão do cenário de Minas Gerais como um todo, onde os casos e óbitos aumentaram e têm se estabilizado em um patamar elevado, sugerindo um platô da pandemia.

Fonte: Jornal O tempo.