quarta-feira, maio 1, 2024
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Prefeitura tentou tomar o prédio e equipamentos do HSS para si momentos antes da decisão do Juízo da Comarca de Além Paraíba

Ontem (25), tão logo o Fórum Nelson Hungria iniciou suas atividades, o Juízo da 1ª Vara Cível foi acionado pela procuradoria da municipalidade (leia-se Fernando Silva Ferreira – advogado – OAB 2501), talvez com receio da queda da proposta de interdição do Hospital São Salvador, ingressando com uma ação cível de Interdito Proibitório, solicitando a posse do prédio e equipamentos da instituição alemparaibana, ou seja, entrou com uma ação cuja finalidade seria postergar a decisão do juízo que às 14 horas foi divulgada, obrigando a municipalidade a devolver o HSS à administração afastada pelo decreto de intervenção.

No entendimento de muitos, ao que parece a atual administração municipal quer, a todo custo, tomar o HSS para si, o que é um absurdo já que o Hospital São Salvador é uma instituição privada, sem intenções de lucro, que serve não somente ao povo alemparaibano mas a toda região.

Abaixo, a opinião do Portal de Notícias do Jornal Além Parahyba sobre o fato…

Absurdo ou insanidade?

Acordamos na manhã desta quarta-feira (26) com o propósito de não mais fazer comentários sobre o assunto que tomou conta de Além Paraíba por 18 dias consecutivos, ou seja, a intervenção do Hospital São Salvador, algo nunca visto na história alemparaibana. O motivo de deixarmos o assunto de lado? Em respeito à memória do saudoso ex-provedor e ex-prefeito Miguel Belmiro de Souza, pai não só o atual prefeito Miguelzinho, mas também da diretora-administrativa Bethânia Reis de Souza, acusada pelo próprio irmão de fraude no último programa Roda Viva (Rádio CPN), que é que quem movimentava os recursos financeiros da HSS. No programa, comandado pelo comunicador Reinaldo Tavares (tenho a gravação), Miguelzinho foi claro quando disse que no HSS foram cometidas várias fraudes pela então afastada gestão da instituição criada e fundada pelo emérito Dr. Paulo Joaquim Fonseca no findar do século XIX e início do século XX. Suas palavras foram claras como um dia sem nuvens e o sol brilhando a toda a sua força…

Entretanto, também nesta manhã, fomos informados de que, certamente num gesto talvez de desespero já que sentira que a derrota estava próxima, a procuradoria da municipalidade tentara, através de uma ação junto ao Judiciário da Comarca de Além Paraíba, tomar de mão grande o Hospital São Salvador, mais precisamente o prédio onde a instituição sempre funcionou, bem como todos os seus equipamentos, ou seja, convencer não somente o Judiciário, mas também toda população, como se pertencesse à municipalidade.

Na nossa modesta opinião, tamanho absurdo somente tem as seguintes qualificações: SANDICE! DESESPERO! LOUCURA TOTAL! QUERER TAXAR O POVO DE IGNORANTE! DESRESPEITO COM A HISTÓRIA DO HSS E DO MUNICÍPIO DE ALÉM PARAÍBA!

Diante de tamanho absurdo, nos sentimos na obrigação de levar, mais uma vez, ao conhecimento de todos, em especial do “senhor” procurador, um pouco de nossa história, primeiramente a de seu avô, o Maestro Firmino Silva, um dos fundadores da Sociedade Musical Carlos Gomes, instituição particular sem cunho lucrativo, que está instalado em prédio próprio na Rua Coronel Oscar Côrtes, no centro comercial da cidade.

Maestro Firmino Silva

Firmino Silva nasceu no ano de 1860, em São João d’El Rei. Foi um grande músico, tocava vários instrumentos, entre eles o violino e o piano. Apaixonados pela música, ele e seu irmão Prisciliano vieram bem moços para Além Paraíba e se dedicaram à arte e ao dom que Deus lhes dera. Firmino, com sua capacidade musical, rapidamente conquistou vários alunos na cidade, e seu irmão preferiu continuar estudando com mais profundidade, tornando-se um famoso maestro. Prisciliano tocava tão bem que foi premiado com um convite: tocar piano num grande concerto no Teatro de Milão, na Itália, uma das mais importantes casas musicais de toda a Europa.

Enquanto Prisciliano conquistava o povo europeu, Firmino continuou em Além Paraíba, lecionando piano, violino e outros instrumentos. E foi através da música que se apaixonou por Elvira Costa, nascida em 1880, filha de Heliodoro Costa e de Adelaide Costa, residentes na Fazenda da Arapoca. Foi seu professor naquela importante propriedade rural.

Firmino Silva e Elvira Costa se casaram em 1906, e tiveram os seguintes filhos: Ziláh, Iracema, Jucyra Silva, Marília Silva Ferreira, casada com o Inimá Santos Ferreira, Ináh e Heraldo Silva, casado com Batistina Oliveira Silva. Muitos de seus filhos seguiram a carreira de musicistas.

Esse grande músico que adotou Além Paraíba como sua terra querida formou uma linda orquestra em que participavam somente músicos competentes. Foi também um dos fundadores da Sociedade Musical Carlos Gomes, onde foi o primeiro maestro e a quem chamava carinhosamente de “minha filha mais velha”. Seu filho Heraldo foi também maestro da “Carlos Gomes”, com grande êxito.

Também professor, Firmino Silva fundou um colégio em sua própria casa, na Vila Laroca, onde era auxiliado por sua esposa Elvira. Foi, também, diretor do Liceu Operário, da Estrada de Ferro Leopoldina.

Após receber uma proposta de trabalho foi lecionar em Pirapetinga, e lá compôs uma valsa intitulada “Saudade de Porto Novo”, demonstrando seus puros sentimentos e a saudade da terra adotiva. Tempos depois, recebeu convite para trabalhar em Leopoldina, para ser professor no Ginásio e na Escola Normal, tendo sido um dos fundadores da “Banda Musical Santa Cecília”. Anos depois retornou para sua querida Além Paraíba.

Durante a Revolução de 1930, Firmino Silva compôs um dobrado que dedicou ao Marechal Americano Freire, que ficou muito emocionado quando ouviu pela primeira vez a música tendo-o abraçado com grande carinho.

O maestro Firmino Silva faleceu aos 72 anos de idade, no dia 12 de dezembro de 1932, deixando uma grande lacuna no cenário musical alemparaibano. (Texto de Mauro Senra, publicado na edição nº 311 do Jornal Além Parahyba)

Mas vamos aos pingos nos “is”. Se o prédio do HSS pertence à municipalidade, também a sede da Sociedade Musical Carlos Comes, bem como da sete de setembro, do Asilo Ana Carneiro, da APAE e outras instituições alemparaibanas que não visam lucro também são da prefeitura, correto?

Poupe-nos desta sandice, senhor procurador, advogado de renome em toda cidade e região, e que nos desculpe, mas tratado pelos arredores e até mesmo junto aos seus colegas por Doutor Brecha! Essa sua afirmativa, no nosso modesto entendimento, é um desrespeito para a nossa inteligência, certamente de muitos outros alemparaibanos.

Agora vamos à história do Hospital São Salvador, mais uma vez já que nesse período nebuloso foi citado algumas vezes neste Portal de Notícias. Que nos desculpem os leitores, pelo tamanho de nossa matéria, mas isto é necessário para lembrar que os “is” possuem pingos, e não será um argumento esdrúxulo que nos fará ficar silentes.

Dr. Paulo Joaquim Fonseca e o HSS

O ano de 1895 foi de grande provação para Além Paraíba na área da saúde. Desprovida de meios de defesa sanitária, sem água tratada, rede de esgotos, hospitais de isolamento, higiene pública e privada ineficiente, era natural que sofresse efeitos desastrosos de várias epidemias. Foi um ano marcado pela morte e dor em muitos lares, isto devido a três epidemias que irromperam no município: a primeira, de cólera, a mais terrível pelo pavor que causava aos enfermos que muitas vezes faleciam poucas horas depois de atacado pelo mal e que durou quatro longos meses; seguiu-lhe a febre amarela que fez numerosas vítimas; e, finalmente, a varíola, não menos terrível e apavorante, à época, do que as primeiras.Incumbido pelo governo da então província de Minas Gerais de superintender os serviços de profilaxia e combate à cólera e a varíola, chegou a Além Paraíba o médico Dr. Paulo Joaquim da Fonseca. De descendência negra baiana de Salvador (BA), Dr. Paulo da Fonseca logo compreendeu que, pela dificuldade quase insuperável, era materialmente impossível um ataque eficaz a qualquer “morbus epidêmico” sem os meios de defesa naturais e, principalmente, hospitais de isolamento.

Inicialmente mandou construir barracões para isolar os doentes, chegando à conclusão de que em verdade os governos gastavam grandes somas na obra para combater as epidemias com um único efeito – enterrar os mortos. Tal maneira de pensar o fez externar um franco relatório ao Governo da Província e, na mesma ocasião, concebeu a idéia de promover em terras alemparaibanas a fundação de um hospital que preenchesse inteiramente os seus fins, isto é, que pudesse receber e tratar doentes com dignidade, respeito e igualdade.

Sua primeira ação foi a de apelar à generosidade do povo da época, dos mais abastados aos mais humildes, o que fez ganhar inúmeros adeptos e o apoio necessário para iniciar o empreendimento. Forte no cumprimento do seu dever social e profissional juramentado, Dr. Paulo da Fonseca tudo esqueceu para só pensar em auxiliar o não e o carente, erguendo um monumento digno de sua civilização e de sua cultura e que ao mesmo tempo fosse a defesa permanente de sua saúde e de sua vida.

O empreendimento era grandioso para os seus ombros, porém, surgiu o auxílio do Barão de Guararema e sua esposa em boa hora, amparando assim o nascente da instituição com o donativo de dez contos de réis. O donativo transformou o Barão de Guararema no primeiro sócio-benemérito da instituição, sendo determinado em ata que seu retrato fosse colocado no salão nobre do hospital para todo o sempre – o retrato desapareceu e ninguém sabe onde foi parar.

De posse dos primeiros recursos financeiros, tratou o médico da escolha do local para o início das obras. A topografia da cidade dificultava a escolha de um local de total isolamento que pudesse ser colocado de modo a servir os três núcleos que a formava – São José, Oficinas da Estrada de Ferro Leopoldina e Porto Novo. Finalmente, entendeu-se com Antônio Cândido Pereira, proprietário de um morro agreste e conseguiu a doação do local destinado à construção do hospital. Sob a direção do engenheiro Leon Gilson, então funcionário da Câmara Municipal, e do engenheiro E. Muller, a audaciosa obra teve início em 02 de julho de 1896, e no dia 12 de outubro do mesmo ano colocava-se a primeira pedra do edifício principal.

Prosseguiram-se os trabalhos e vieram outras doações. Quermesses realizadas pelas senhoras da sociedade alemparaibana renderam mais de dezenove contos de réis. Foi aberta concorrência pública para a construção do edifício principal e José Lopes Ribeiro, conhecido e honrado construtor, ganhou com uma proposta de 46 contos de réis. Mais doações e mais quermesses, e em fins de 1897 a obra teve que parar por total falta de recursos financeiros.

Até o dado momento nenhum auxílio havia sido dado pelo poder público alemparaibano. Dr. Paulo Joaquim da Fonseca fez algumas gestões junto aos vereadores que idealizaram uma lei doando as importâncias das multas dos retardatários ao pagamento dos impostos à obra. O resultado final foi o patrimônio de dezessete apólices no valor de 3.400.000 réis da Dívida Municipal que, infelizmente, as administrações posteriores vieram a revogar.

Buscou também o auxílio da Igreja Católica, através de Dom Carloto Távora Fernandes da Silva. Porém, com a demora da resposta do bispo, Dr. Paulo Joaquim da Fonseca resolveu fundar uma sociedade civil e, em assembléia realizada no Paço Municipal, em 2 de novembro de 1902, empossou-se a primeira diretoria que indicou como provedor o benemérito Barão de Guararema.

Com a organização da Sociedade de Santa Casa da Misericórdia, tomou maior impulso a idéia de conclusão das obras e, em 2 de junho de 1903, sob a supervisão de Pagano Brundo, foram reiniciados os trabalhos.

Mais donativos, concertos musicais no Teatro São José, mais quermesses e algumas poucas, mas sempre bem-vindas, verbas governamentais (depois negadas como mostra abaixo em negrito), faziam com que o edifício principal se concluísse aos poucos.

Em 19 de julho de 1908, Dr. Paulo Joaquim da Fonseca mandou publicar um amplo relatório sobre a construção do hospital, onde disse: “Farei desta Casa um reduto de defesa à vossa saúde e dos nossos semelhantes e um templo de Amor ao próximo, onde se pratique a Caridade, essa medicina que emana do Céu para acalmar as dores e suavizar o infortúnio dos desamparados da sorte, a Caridade que aprendemos nos ensinamentos do Evangelho, a Caridade paciente e benigna, que sabe sofrer e esperar, aureolada sempre pela cintilação da Fé”. (Texto de Flávio Senra, publicado na edição nº 320 do Jornal Além Parahyba)

A frase acima em negrito mostra que a municipalidade alemparaibana, após emitir apólices doando as importâncias das multas dos retardatários ao pagamento dos impostos para a obra, num total de dezessete no valor de 3.400.000 réis cada uma da Dívida Municipal, infelizmente foram revogadas por administrações municipais posteriores, ou seja, a municipalidade negou-se a contribuir na construção do Hospital São Salvador.

Atenção: Nos anexos a decisão do Juízo da Comarca de Além Paraíba cancelando a Interdição Municipal e a ação da municipalidade tentando tomar para si o prédio e os equipamento do HSS.

Decisão do Juízo da Comarca de Além Paraíba cancelando a Interdição Municipal

Ação da municipalidade tentando tomar para si o prédio e os equipamento do HSS