terça-feira, abril 30, 2024
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Gilmar Mendes recua: ‘Jamais quis ofender’ Curitiba

Ministro disse que suas críticas se referem à Operação Lava Jato.

Gilmar Mendes disse que Curitiba ‘é o germe do fascismo’ | Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usou as redes sociais ontem, terça-feira, 9, para fazer uma retratação. Segunda-feira (08), durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o magistrado disse que Curitiba “gerou” o ex-presidente Jair Bolsonaro e “tem o germe do fascismo”.

“Usei uma metonímia que merece explicitação”, escreveu Gilmar, no Twitter. “Jamais quis ofender o povo curitibano. Não foi Curitiba o gérmen do facismo; foi a assim chamada ‘República de Curitiba’ (Operação Lava Jato e os juízes responsáveis por ela na capital paranaense).”

As declarações de Gilmar Mendes no Roda Viva

Ao ser interpelado sobre sua decisão de barrar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil, em 2016, Gilmar disse que, naquele momento, tinha convicção de que havia um desvio de finalidade na nomeação da ex-presidente Dilma Rousseff. Na sequência, o magistrado criticou a Lava Jato. “Curitiba gerou Bolsonaro”, afirmou. “Curitiba tem o germe do fascismo. Inclusive, todas as práticas que desenvolvem. Investigações à sorrelfa [dissimulação silenciosa para enganar ou iludir] e atípicas. Não precisa dizer mais nada.”

Gilmar também acusou a Lava Jato de autoritária. “Não é por acaso que os procuradores dizem, por uma falta de cultura, que aplicaram o Código Processual Penal da Rússia”, disse. “Talvez quisessem dizer do soviético. Moro tem o Código Penal dele próprio.”

O senador Sergio Moro (União-PR), maior símbolo da Lava Jato, usou as redes sociais para rebater as declarações do magistrado. “Não tenho a mesma obsessão por Gilmar Mendes que ele tem por mim”, afirmou. “Combati a corrupção e prendi criminosos que saquearam a democracia. Não são muitos que podem dizer o mesmo neste país.”

Políticos reagem

As declarações de Gilmar contra a Lava Jato provocaram mal-estar entre políticos e autoridades. O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, usou as redes sociais para defender a cidade. “Não confundam o bom povo curitibano e o grande nome da nossa amada Curitiba com qualquer briga política”, disse o político, sem mencionar o nome de Gilmar.

O governador do Paraná, Ratinho Junior, preferiu um tom mais alto. “O ministro Gilmar Mendes certamente vai esclarecer uma fala infeliz, que ataca gratuitamente Curitiba e os paranaenses”, afirmou. “O Paraná é terra de gente trabalhadora, que tem como norte o progresso, a lei e que repudia a corrupção e toda e qualquer forma de intolerância e preconceito.”

O ex-deputado federal Paulo Eduardo Martins qualificou as declarações de Gilmar como desastrosas. “Toda vez que um ministro do STF fala publicamente, o país é tomado por uma agitação desnecessária”, observou. “Chama a atenção que, desta vez, Mendes usa o termo fascista para definir um lado do espectro político e a Lava Jato. Como tenho dito, eles realmente acreditam estar em combate contra o fascismo, algo que representa o mal absoluto. Contra o mal absoluto, tudo é permitido.”

A vereadora mais votada de Curitiba, Indiana Barbosa, rechaçou os ataques do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). “É um absurdo fazer um comentário generalista sobre a cidade toda”, constatou. “Curitiba é acolhedora, recebe bem as pessoas. Não podemos permitir esse tipo de comentário. A Lava Jato fez um trabalho primoroso no combate à corrupção e prendeu muitos corruptos. Justamente essa operação foi desmontada pelo STF.”

Fonte: Revista Oeste – Por Edilson Salgueiro