sexta-feira, maio 3, 2024
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Operação em Parada de Lucas teve pai e filha feitos refém e mais de R$ 1 milhão em armas apreendidas

O secretário de Estado de Polícia Civil classificou a ação como ‘um trabalho de excelência’, após prender 17 criminosos e apreender arsenal com mais de 15 armas de grande porte. Segundo a corporação, ninguém ficou ferido.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro classificou como “um trabalho de excelência” a operação realizada sexta-feira (19), em Parada de Lucas, na Zona Norte, contra um plano de invasão de traficantes do Terceiro Comando Puro a comunidades dominadas por facções rivais. Ao todo, 17 suspeitos foram presos e um arsenal com mais de 15 armas de grande porte foi apreendido. Os armamentos foram avaliados em mais de R$ 1 milhão.

Ao longo da ação, um pai e sua filha foram feitos reféns por cerca de 1h, por um grupo de sete criminosos. Segundo os policiais, a situação foi contornada e os bandidos presos. Os dois inocentes foram salvos e passam bem.

Diferente de outras operações das forças de segurança do Rio de Janeiro, a ação em Parada de Lucas não teve registro de feridos. Segundo o secretário de Estado de Polícia Civil, delegado Fernando Albuquerque, essa é a nova linha de atuação da corporação.

“Hoje nós realizamos mais uma grande operação da Polícia Civil, com resultado excelente, assim como foi a operação do salgueiro em março, em São Gonçalo, que eu fiz questão de manifestar a operação como vitoriosa. A de hoje também foi do mesmo nível. Um trabalho de excelência. Um trabalho pautado na inteligência. Essa é nossa linha de atuação”, comentou o secretário durante coletiva de imprensa.

O diretor de polícia especializada, delegado Felipe Cury, reforçou que ninguém foi baleado porque os criminosos não reagiram a chegada dos policiais no esconderijo onde estavam.

“Não tivemos nenhum criminoso baleado, nenhum criminoso neutralizado. Todos devidamente presos. Isso porque a reação da polícia depende da reação do criminoso. Não houve reação dos marginais no local. Então todos foram devidamente presos e apresentados e ficarão à disposição do judiciário, onde responderão pelos seus crimes”, comentou Cury.

“Nenhum ferido. Zero. Nem traficante, nem inocente, nem policial”, reforçou o delegado Marcos Amim.

Bunker em ONG de fachada

Entre os 17 traficantes presos, 10 estavam escondidos em um bunker construído no terreno de uma ONG. Segundo os investigadores, os donos do projeto social têm ligação com o tráfico local.

De acordo com os policiais que participaram da operação, esse modelo de esconderijo encontrado em Parada de Lucas é comum em outras favelas do Rio de Janeiro. Contudo, os agentes ressaltaram que o espaço encontrado era “engenhoso”, fruto de uma obra bem estruturada.

O delegado Marcos Amim, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), contou que o bunker do tráfico tinha uma porta automatizada, que abria através de um controle remoto. O espaço interno era dividido em dois cômodos, sendo que um deles estava ainda em obra, para a instalação de cozinha e banheiro. O objetivo seria possibilitar que os criminosos ficassem no local por mais tempo.

“Havia um dispositivo automatizado para abrir a porta. Dentro eram dois cômodos, um cômodo relativamente confortável. Também contava com uma escada para a área superior. Que seria uma área de fuga. Havia uma entrada pela parede e uma escada no topo, uma saída de emergência”, descreveu o delegado.

Os investigadores disseram que os responsáveis pela ONG tinham conhecimento sobre o esconderijo. Os policiais disseram não ter dúvidas que a ONG e seus donos trabalham para o tráfico de drogas da região.

“Foi uma obra de grande vulto. Impossível de se fazer sem que houvesse anuência daqueles responsáveis por essa ONG de fachada. Agora temos materialidade para se colocar no papel que o responsável principal da ONG, que se dizia ter largado o tráfico de drogas, ainda faz parte do narcotráfico. Ele ainda é uma peça fundamental para a organização criminosa”, disse o delegado da DRE.

A polícia identificou que Jose Cláudio Fontoura Piúma, conhecido como Gaúcho, é o responsável pela ONG suspeita. Segundo a Polícia Civil, ele segue sendo investigado.

“Para quem tinha dúvidas de que algumas organizações não governamentais (ONGs) estão diretamente ligadas ao narcotráfico, essa operação de hoje acaba de espancar qualquer dúvida. A ONG fazia algumas atividades próprias de organizações não governamentais, justamente para camuflar o seu verdadeiro viés, que era esconder armamento do tráfico e esconder criminosos da justiça. Hoje nós temos uma prova cabal que ONGs estão sim ao lado do narcotráfico”, argumentou Marcos Amim.

“É importante destacar que não são todas. Existem sim ONGs sérias, mas muitas delas servem tão somente como fachada e proteção do narcotráfico”, ponderou o delegado da DRE.

Segundo informações, a ONG tem ligação com conhecido apresentador da TV Globo.

Inocentes feitos refém

Durante a coletiva de imprensa para explicar detalhes da operação em Parada de Lucas, a cúpula da Polícia Civil informou que os policiais foram recebidos por tiros quando entraram na favela.

Enquanto um grupo foi na direção da ONG suspeita, outros agentes seguiram em confronto com criminosos em fuga por becos e vielas.

Esses traficantes invadiram uma casa, onde fizeram um pai e sua filha de refém. Ao todo, sete criminosos mantiveram os dois inocentes sob suas armas por cerca de 1 hora.

“Sete traficantes entraram em confronto com uma equipe da DRFA e invadiram uma casa, onde tomaram um pai e uma filha menor de idade como reféns. Houve todo um protocolo de gerenciamento de crise, isolamento, negociação, e esses sete indivíduos, com sete fuzis, foram presos e suas armas apreendidas”, explicou o delegado da DRE.

Planos de expansão

A operação em Parada de Lucas tinha como objetivo conter os planos de expansão do grupo criminoso comandado pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão.

Nos últimos dias, a polícia obteve a informação de que traficantes chefiados por Peixão planejavam invadir comunidades dominadas por grupos criminosos rivais e estabeleceram Parada de Lucas como base.

Segundo o Setor de Inteligência, durante a madrugada houve uma movimentação de traficantes de outras localidades, principalmente do Complexo de Camará (Vila Aliança, Coréia, Sapo e Rebu), em direção a Lucas.

“A operação de hoje é resultado de um trabalho de inteligência. Essa facção que domina essa região, já está comprovado, que tem intima relação com milicianos e tem participado de diversas guerras no estado do Rio de Janeiro”, disse Pedro Medina, subsecretario operacional de Polícia Civil.

“Nossa ação foi cirúrgica no sentido de impedir que houvesse uma movimentação intensa de criminosos pela cidade do Rio de Janeiro e região metropolitana e causar uma guerra e um eventual massacre em uma disputa territorial entre facções criminosas e entre criminosos”, acrescentou o delegado Felipe Cury.

Os agentes do estado celebraram o total de 17 presos na ação policial. Segundo eles, a cúpula da facção comandada por Peixão foi presa na sexta.

“Com exceção do chefe que acabou não sendo capturado hoje, toda a cúpula daquela facção que age naquela localidade foi presa (…) A ação de hoje deu um duro golpe em toda a hierarquia dessa facção”, disse Cury.

A operação

Ao todo, 17 homens foram presos — 10 deles estavam em uma espécie de bunker e se renderam rastejando. Os agentes encontraram pelo menos 15 fuzis, uma metralhadora ponto 30, uma metralhadora ponto 50, munição, granadas e drogas.

Ao longo da manhã, houve tiroteio em diferentes pontos de Lucas. Trens do ramal de Gramacho da Supervia deixaram de circular por pelo menos uma hora, por precaução. Pela comunidade, traficantes atravessaram caminhões e ônibus como barricadas, a fim de tentar impedir o avanço das forças de segurança.

Entre os presos estão, segundo a polícia:

·         Bruno Passos de Amorim, o BG, braço direito de Peixão e número 2 do Complexo de Israel

·         Giovani Barbosa Coutinho, o Stuart Little, gerente geral de vigário geral)

·         Wendel Rodrigues Oliveira, o Noventinha, um dos homens de guerra da quadrilha.

A ação contou com agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, do Departamento-Geral de Polícia Especializada e da Core, a força de elite da Polícia Civil.

Fonte e imagens: G1