sexta-feira, abril 26, 2024
GOVERNO DE MINAS GERAIS

Bueno Brandão

(Por Carmo Chagas – publicado na edição nº 770, de 05/02/2014)

Filho de um coronel da Guarda Nacional, Júlio Bueno Brandão nasceu em 11 de julho de 1858, em Ouro Fino. Foi autodidata, e depois de alfabetizado passou a estudar sozinho. Aprendeu o suficiente para atuar no fórum de Ouro Fino, inicialmente como solicitador, mais tarde como advogado mesmo, aprovado em exame de qualificação do juiz de Camanducaia (Jaguari, na época).

Chegou a ser juiz de Ouro Fino, onde por dois anos desempenhou também a função de delegado de polícia. Na política local, foi vereador e agente executivo, função equivalente a prefeito, no Império. Já na República, o governador Crispim  Jacques Bias Fortes nomeou Bueno Brandão para a presidência da Intendência de Ouro Fino.

Eleito deputado estadual, em 1893, permaneceu na Assembleia até 1897, quando se elegeu para o Senado Federal (na época, existia também o estadual). Ficou no Senado até 1908, nos últimos três anos acumulando a senatoria com o cargo de vice-presidente de Minas Gerais, no governo de João Pinheiro.

Com a morte de João Pinheiro, em outubro de 1908, assumiu interinamente o governo estadual, até que se procedesse à eleição do substituto, Venceslau Brás, empossado em abril de 1909, Nesses seis meses à frente do governo, limitou-se a dar continuidade ao programa de João Pinheiro, por sinal, o mesmo procedimento que viria a ser adotado por Venceslau Brás.

Criou o Serviço de Assistência à Infância Desamparada, que incluía o Jardim-de-Infância Bueno Brandão, em funcionamento até os dias de hoje. Modernizou a segurança pública. Estimulou a imigração. Em abril de 1909, voltou para Ouro Fino, à espera da indicação para se candidatar à presidência mineira em 1910. A indicação, pelo dominante Partido Republicano Mineiro (PRM), significava a eleição garantida, de modo que o retiro em Ouro Fino era apenas uma preparação para assumir o governo.

Parta seu secretariado, Bueno Brandão convocou três das principais estrelas em ascensão ma época. Delfim Moreira (Interior), Artur Bernardes (Finanças) e José Gonçalves de Souza (Agricultura). No governo, criou quarenta novos municípios, em resposta à necessidade de consolidar o território mineiro. Abriu 45 escolas, contratou instrutores suíços para treinar a polícia militar, modernizou a Imprensa Oficial, restabeleceu e reorganizou a Secretaria da Agricultura. Pela Lei Bueno Brandão, subvencionou os serviços de instalação de energia elétrica, saneamento e construção de estradas em todo o Estado. Outras realizações de seu governo:  criação do Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais e das escolas de Medicina e Engenharia, e a construção da Maternidade “Hilda Brandão”.

Uma intervenção política expressiva, em 1913: participou da manobra que veio a esvaziar a influência do senador gaúcho Pinheiro Machado na política nacional. Eminência parda de vários governos, Pinheiro Machado nomeava e demitia em todos os escalões, definia candidaturas, atuando sempre nos bastidores. Havia feito a candidatura do então presidente Hemes da Fonseca. Sentiu-se no direito de sucedê-lo e convidou o governador mineiro para entrar na chapa, como vice-presidente.

Àquela altura, porém, o mineiro Venceslau Brás, vice de Hermes, também se lançava à disputa da cadeira de presidente. Se Bueno Brandão aceitasse formar capa com Pinheiro Machado, as chances de Venceslau diminuiriam significativamente, pois deixaria de contar com a união de Minas em torno de seu nome.

Recusar o convite de Pinheiro Machado, de todo modo, representava um sério risco político. Mas Bueno Brandão ousou recusar. Reuniu-se em sua terra natal com o governador paulista e ex-presidente da república Rodrigues Alves e, ali, os dois formaram o Pacto de Ouro Fino, uma aliança em torno da candidatura de Venceslau. Foi nessa ocasião que Bueno Brandão disse: “Prefiro cair com Minas e cair em Minas”.

Saindo do governo, recolheu-se por um período em Ouro Fino, antes de se eleger senador, em 1915. Permaneceu no Senado até 1930. Decidido a encerra a carreira política, aos 72 anos foi premiado com a nomeação para Tabelião de Notas do Distrito Federal, mas morreu, em ]21 de março de 1931, no Rio de Janeiro, sem tomar posse do cartório.

Causo

José Maria de Alkmim é tipo como personagem de inúmeros causos dentro do contexto político mineiro e nacional, sendo a ele atribuídos inúmeras situações hilárias, algumas verdadeiras outras de se duvidar terem ocorridas. Com freqüência, o próprio Alkmim personificava situações engraçadas que os jornais e revistas publicavam no dia seguinte, o que lhe garantia uma publicidade ao seu nome gratuita junto aos meios de comunicação. A seguir, quatro causos deste grande mineiro que nasceu em Bocaiúva, região norte das Gerais…

No seu tempo de secretário estadual, José Maria de Alkmim recebeu o pedido de uma nomeação em Barbacena.Estanhou que a nomeação era apoiada pelos arquirivais da terra barbacenense, José Bonifácio e Bias Fortes. Reação de Alkmim: “Não nomeio. Se esses dois estão de acordo, quem perde é o Estado”.

Numa de suas primeiras campanhas para deputado federal, José Maria de Alkmim planejou uma estratégia infalível para ganhar os votos da região de Bocaiúva, no norte de Minas, sua cidade natal. Mandou divulgar a notícia de que o governo federal construiria, perto da cidade, uma represa que inundaria grande área e desalojaria centenas de famílias. Dias depois, marcou um comício para o local onde a barragem seria construída e fez um discurso emocionante, condenou a obra e prometeu que a impediria a qualquer custo. Um assessor, depois da vitória na eleição, perguntou:

– E agora, deputado, como faremos para impedir tal barragem?

– Pode ficar tranqüilo, esse projeto nunca existiu.

Logo no início do Governo Kubitschek, o BNDE preparou um plano para conter a inflação. Plano ortodoxo, infalível, em que o governo cortaria verbas e se limitaria a gastar o que arrecadasse.

José Maria de Alkmim, ministro da Fazenda, desaprovou:

– Governo não pode cortar verba nem gastar só o que tem. Governo libera verba, gasta prometendo pagar e depois, não paga.

Um conterrâneo de Bocaiúva foi procurar Alkmim na Secretaria da educação. Queria uma ajudinha financeira para o parto da mulher:

– Sabe como é, doutor Alkmim, não sei como vou me arranjar para minha mulher ter a criança, estou desprevenido.

– Ora, se você sabe que ela vai ter o filho há nove meses e está desprevenido, como é que eu posso estar então, sabendo disso apenas agora?