terça-feira, abril 30, 2024
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Lula e Bolsonaro fazem debate derradeiro

Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro no primeiro debate do segundo turno, realizado pela Band.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

A dois dias do segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fazem nesta sexta-feira (28), na TV Globo, o último debate da campanha eleitoral de 2022. O programa vai ao ar às 21h30 e terá aproximadamente duas horas de duração. Será apenas o segundo debate do 2º turno, uma vez que Lula se dispôs a participar apenas do que foi promovido pela TV Bandeirantes, recusando outros dois convites.

Confira as estratégias de Bolsonaro e de Lula para esta noite…

Qual será a postura de Bolsonaro no debate da TV Globo e os temas que deve abordar

Por Rodolfo Costa

O presidente Jair Bolsonaro (PL) deve repetir no debate da TV Globo, nesta sexta-feira (28), às 21h30, as mesmas estratégias apresentadas no debate organizado pela TV Band, UOL e TV Cultura, logo após o primeiro turno. O foco mais uma vez estará voltado para os ataques à corrupção nas gestões petistas e a abordagem de diversas entregas do governo federal.

O candidato à reeleição e seu comitê de campanha entendem que sua abordagem dos temas debatidos e questionados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último confronto foi positiva e deve ser mantida. Por isso, argumentam que a “receita” não deve ser alterada, principalmente tendo em vista o formato do debate da Globo.

Dos cinco blocos do debate, o primeiro e o terceiro serão de temas livres, com duração de 30 minutos. Cada candidato terá 15 minutos e deverá administrar seu tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas, como foi o da Band. Bolsonaro abre o primeiro bloco e a expectativa da campanha é de iniciar com uma abordagem sobre os escândalos de corrupção do PT e associar Lula a governos de esquerda na América Latina e suas crises econômicas, como na Argentina, e humanitárias, como na Venezuela e Nicarágua.

A leitura feita pela campanha é de que Bolsonaro teve no debate da Band sua melhor desenvoltura e se sagrou o “vencedor”, sobretudo pelo modelo de blocos com temas livres que o permitiu confrontar Lula. Para coordenadores eleitorais, a repetição do modelo será oportuno para desgastar o petista e promover comparações entre o atual governo com as gestões petistas, sobretudo as de Dilma Rousseff (PT).

Os estrategistas celebram que ele abordou os principais temas traçados e rebateu Lula dentro das linhas estratégicas alinhadas. Há um entendimento de que o petista se saiu melhor no primeiro bloco do debate da Band ao concentrar a abordagem sobre a pandemia da Covid-19. Agora, os coordenadores de Bolsonaro entendem que isso pode se repetir no terceiro bloco e no segundo ou quarto bloco, de temas específicos escolhidos pelos candidatos.

Ainda assim, dentro das estratégias traçadas, como de que o governo comprou as vacinas e que o país iniciou a vacinação em cerca de um mês após a primeira aplicação no mundo, no Reino Unido — como foi abordado em propaganda eleitoral —, a percepção da campanha é de que Bolsonaro se saiu bem e pode repetir a fórmula mesmo se questionado sobre questões de saúde e sanitárias.

O que Bolsonaro pode aperfeiçoar para o debate – Tamanha é a confiança da campanha que os coordenadores eleitorais entendem que não há muito o que precise ser corrigido. A maioria acha, inclusive, que Bolsonaro pode ampliar as chances de vitória no segundo turno se repetir o desempenho do debate da Band nesta sexta.

A despeito da avaliação positiva feita, estrategistas entendem que Bolsonaro pode ter um desempenho ainda melhor se insistir mais em determinados questionamentos feitos a Lula. Para a campanha, o presidente fez boas abordagens, mas não insistiu para que o ex-presidente as respondesse, a exemplo da pergunta sobre quem seria o ministro da Economia em um governo petista.

A avaliação é de que o presidente pode ser mais incisivo e constranger o petista a responder perguntas que podem gerar brechas a serem aproveitadas, sem necessariamente ser agressivo ou gritar. Um exemplo elogiado é o da abordagem sobre a relação entre Lula e o ditador de Nicarágua, Daniel Ortega. Para alguns aliados, Bolsonaro deveria ter insistido em uma resposta de Lula sobre o relacionamento com a ditadura nicaraguense.

O senador eleito Sérgio Moro (União Brasil-PR), por exemplo, usou o Twitter para provocar Lula após o debate na Band ao comentar que o ex-presidente não havia explicado: os motivos pelo qual não isolou os líderes do PCC em presídios federais à época; as justificativas em ter nomeado e mantido diretores condenados por corrupção na Petrobras; e quem seria seu ministro da Economia em caso de vitória.

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro compareceu ao debate da Band e, segundo admitem interlocutores da campanha, auxiliou o presidente com algumas abordagens para o debate. A exemplo do questionamento sobre Lula não ter transferido o narcotraficante Marcos Camacho, o “Marcola”, para um presídio de segurança máxima em 2006.

O deputado federal Márcio Labre (PL-RJ), que apoia a campanha presidencial em seu estado, defende uma abordagem mais incisiva e cobrança das perguntas feitas por Bolsonaro a Lula. “Quando perguntou e insistiu com Lula se teve ou não corrupção, bastou comentar um pouco disso e colocou Lula para dizer que teve”, comenta. “O presidente poderia ter explorado mais essa situação de ‘emparedar’ o Lula, porque o colocava numa situação de encurralamento”.

O trecho do debate ao qual o aliado de Bolsonaro se refere induziu Lula a dizer que crimes podem ter ocorrido “pois as pessoas confessaram”. “Quando confessa é porque comete crime. Que houve roubo, pode ter havido. Mas o que quero dizer é que, para combater [corrupção], não precisava fechar as empresas”, disse o petista.

Os temas que Bolsonaro pode abordar na Globo – De forma geral, interlocutores da campanha apontam que Bolsonaro irá ao debate preparado para uma abordagem semelhante ao que foi ao debate anterior não apenas em pautas, mas também em postura, combativa contra Lula, mas com um tom sereno e disposto a defender o legado de seu governo de modo propositivo, a exemplo de suas propagandas eleitorais recentes.

Um tema que alguns aliados não descartam que entre no debate é a associação de um suposto favorecimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao PT e à candidatura de Lula após a Corte rejeitar a denúncia de desequilíbrio em inserções de rádio a favor do petista. Contudo, o assunto divide a campanha e boa parte prefere focar em temas com maior potencial de virar votos.

A campanha quer manter o que entende ter sido bem-sucedido, a exemplo de como Bolsonaro defendeu a criação do Auxílio Brasil com comparações aos valores médios inferiores pagos pelo Bolsa Família e reforçar que os R$ 600 serão mantidos em 2023. A expectativa também é de que ele fale sobre a promessa de elevar acima da inflação o salário-mínimo e as aposentadorias no próximo ano.

Outra percepção positiva no último debate e que pode se repetir na Globo é a defesa da paternidade pela conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco e de rodovias, bem como a associação de obras não terem sido concluídas nas gestões petistas devido a escândalos de corrupção.

Comparações entre governos, como na agenda econômica entre a gestão atual e a de Dilma, são aspectos esperados para a nova rodada de confrontos com Lula. O mesmo pode ser dito sobre falas que associem o ex-presidente a países da América Latina governados por regimes de esquerda e comparações entre ambos os candidatos na pauta de costumes, como aborto, ideologia de gênero e legalização das drogas.

Temas sobre Nicarágua e Venezuela dividem a base política, de modo que alguns entendem que não são “balas de prata” contra Lula. Apesar disso, coordenadores eleitorais defendem a abordagem e referências aos regimes ditatoriais, bem como a crise econômica na Argentina. O mesmo vale para o debate acerca da agenda de costumes. Estrategistas argumentam que o intuito dessas abordagens é elevar a rejeição de Lula e o sentimento do antipetismo na sociedade por uma estratégia de convencimento pelo medo.

A ideia de ser propositivo e buscar tornar Lula mais rejeitado na sociedade é avaliada como positiva pelo deputado Márcio Labre. “A estratégia é converter [votos] pelo medo do antipetismo e os riscos de Lula ganhar. Não é porque entendem que o Bolsonaro faz um governo com reformas legais, projetos econômicos importantes. Isso aí é uma elite pensante que consegue enxergar, mas a grande maioria é só trabalhando na base da emoção e do sentimento”, aponta.

Por esse motivo, a campanha de Bolsonaro não se mostra muito preocupada mesmo em relação à conduta do presidente no questionamento sobre o crime organizado e a intenção de associar Lula ao tráfico. O candidato à reeleição disse no debate da Band que “só tinha traficante” em uma passeata que o ex-presidente participou no Complexo do Alemão e a campanha do petista explorou essa fala para acusar o presidente e estrategistas do presidente acreditam que isso pode voltar ao tema.

Sobre o tema, Bolsonaro sente-se preparado em confrontar Lula e deve abordar temas destacados pela campanha em inserções recentes que acusam o ex-presidente de querer desarmar o país e promover a desmilitarização das polícias, a exemplo do que apontou o PT em uma resolução publicada no site do partido em abril.

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, não identifica problemas na declaração de Bolsonaro no último debate e entende que ele vai preparado para o confronto com Lula nesse e em outros temas.

O que esperar de Lula no debate da TV Globo, o último antes do segundo turno

Por Wesley Oliveira

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dedicou a agenda de ontem, quinta-feira (27) para se preparar para o debate da TV Globo, o último antes do segundo turno. Considerado decisivo pela campanha petista, o debate com Jair Bolsonaro (PL) acontece nesta sexta-feira (28), a partir de 21h30.

O principal foco do treinamento foi no controle do tempo das falas, pois a campanha de Lula avalia que esta foi uma falha do petista no debate da TV Band. Em um dos blocos, Lula esgotou o seu tempo e deixou Bolsonaro falando sozinho por quase sete minutos. A preparação envolveu o marqueteiro Sidônio Palmeira, os coordenadores de comunicação da campanha Edinho Silva e Rui Falcão, e o ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins.

Lula também se prepara para apresentar respostas mais firmes para temas considerados sensíveis, como os casos de corrupção nos governos petistas. De acordo com membros da campanha, a avaliação é de que o petista precisa ser “convincente” e não se deixar levar pelas “provocações” de Bolsonaro.

Integrantes do PT avaliam ainda que o ex-presidente pode se sobressair ao tratar sobre temas como pandemia e economia. A estratégia desenhada é para que Lula não fique “divagando” sobre pautas de costumes e tente levar Bolsonaro para o que os aliados do PT afirmam ser a “agenda do Brasil real”.

Para falar sobre economia, Lula pretende explorar temas como a possibilidade de desindexação do salário mínimo e do fim da dedução dos gastos com educação e saúde no Imposto de Renda. Ambas as propostas foram ventiladas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e depois desmentidas pelo governo. Para os aliados de Lula, no entanto, esse é um tema que desgasta Bolsonaro.

Em outra frente, a campanha de Lula pretende explorar no debate da Globo a relação de Bolsonaro com o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). O petebista foi preso, no último domingo (23), depois de atirar contra agentes da Polícia Federal que tentaram cumprir uma ordem de prisão contra ele.

Para aliados de Lula, o episódio provocou desgastes na relação de Bolsonaro com a PF e pode ser o momento de o candidato petista fazer um aceno para a categoria. A campanha do PT avalia ainda a possibilidade de usar a imagem do ex-juiz e senador eleito Sergio Moro (União-PR) durante o debate.

No encontro da TV Band, Moro integrou a comitiva de Bolsonaro e foi um dos conselheiros do presidente. Agora, o PT avalia que o a presença do ex-juiz pode ser usada para reforçar a narrativa de que Bolsonaro interferiu no trabalho da PF no episódio Roberto Jefferson.

Ao deixar o Ministério da Justiça, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir nas investigações da corporação. A dupla, no entanto, restabeleceu a relação neste segundo turno e, de acordo com Moro, as divergências ”ficaram para trás”. Para a campanha de Lula, a associação do ataque de Jefferson à PF pode reforçar o desgaste de Bolsonaro nessa reta final da campanha.

Além disso, o episódio é visto pelo PT como uma forma de o ex-presidente tratar da política de liberação de armas defendida pelo candidato do PL. No cálculo dos estrategistas, Lula pode dialogar com o público feminino e com os mais jovens ao falar contra o porte de armas de fogo.

Por que um cidadão que mora dentro da cidade, como o Roberto Jefferson, tem que ter tanta arma? Por que aquele vizinho do condomínio do presidente da República tinha tantos fuzis, 100 fuzis? Aquilo era coleção? Aquilo era contrabandeado? Aquilo era para vender? Para que tanta arma?”, discursou Lula durante agenda política nesta semana.

A campanha de Lula vê no debate da Globo ainda a oportunidade de convencer o eleitorado a participar das eleições no próximo domingo (30). A avaliação do PT é de que a redução da abstenção pode ser determinante num cenário onde a polarização contra Bolsonaro se acirrou neste segundo turno.

O candidato do PT deve defender o voto e incentivar o comparecimento dos mais pobres às urnas por meio do transporte gratuito liberado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) neste segundo turno. Até o momento, as 26 capitais e o Distrito Federal já confirmaram que irão oferecer o transporte de forma gratuita durante todo o dia de votação.

Os aliados de Lula acreditam que o apelo em defesa da democracia no debate pode influenciar o eleitorado neste segundo turno. No primeiro turno, o debate da Globo registrou a maior audiência desde 2006 em estados como São Paulo e Rio de Janeiro.

Observada a média nacional, a audiência da emissora dobrou na mesma faixa horária, com crescimento de 100% (+13 pontos), chegando a 26 pontos e 58% de participação, impactando quase 50 milhões de brasileiros, segundo dados do Ibope.

Fonte: Gazeta do Povo