sexta-feira, abril 26, 2024
GOVERNO DE MINAS GERAIS

Venceslau Brás Pereira Gomes

 (Por Carmo Chagas – publicado na edição nº 760, de 20/11/2013)

Venceslau Brás nasceu em 26 de fevereiro de 1868, em São Caetano da Vargem Grande, distrito de São José do Paraíso, hoje Brasópolis. Seu pai era político e coronel da Guarda Nacional. Estudou sempre em São Paulo. Desde o ginásio até se formar em Direito. Nos tempos de universitário, destacou-se como orador brilhante e participou da propaganda republicana, com artigos em jornais paulistas.

Depois de formado, começou como promotor, em Jacuí. Em seguida, mudou-se para monte santo, já como advogado. Vereador, presidente da Câmara e agente executivo municipal de Monte Santo. Em 1892, eleito deputado estadual. Reeleito em 1895. No governo de Silviano Brandão (1898-1901), Venceslau Brás exerceu o cargo de secretário do Interior, responsabilizando-se então por algumas das medidas mais impopulares que o momento estadual exigia.

Ao fim do governo Silviano Brandão, voltou à advocacia em Monte Santo. No ano seguinte, elegeu-se deputado federal. Foi líder da bancada mineira. Quando o governo Rodrigues Alves (1902/1906) atravessou período de grande turbulência, com o saneamento do rio de Janeiro e a obrigatoriedade da vacina, Venceslau Brás assumiu a liderança da maioria na Câmara. Teve então desempenho fundamental para a aprovação das leis encaminhadas Presidência da República.

Era de novo deputado federal, no governo de Afonso Pena, quando morreu o governador mineiro João Pinheiro, em outubro de 1908. Venceslau Brás foi então eleito pela Assembleia e assumiu a presidência estadual em abril de 1909. Ao assumir, comprometeu-se a dar prosseguimento à obra renovadora do antecessor. Destacou-se no cumprimento dessa promessa, com algumas realizações importantes, entre estas: criação de cooperativas de café, criação de colônias agrícolas e fazendas-modelo e aumento do número de escolas de ensino primário.

No terreno político, foi um dos poucos governadores mineiros a não dar apoio ao presidente da República – por coincidência, um mineiro, Afonso Pena. O fato excepcional se deu nas manobras sucessórias iniciadas em 1909. Venceslau ficou do lado das lideranças paulistas e do senador gaúcho Pinheiro Machado, eminência incontestável da república Velha, e jogou o peso de Minas a favor da articulação que garantiu a eleição do general Hermes da Fonseca para presidente. Compôs chapa com Hermes e, assim, elegeu-se vice-presidente.

Como vice-presidente da República, presidiu o Senado entre 1910 e 1914. Nesse cargo, fortaleceu-se o suficiente para, em 1914, frustrar as manobras de Pinheiro Machado. O senador gaúcho, depois de fazer presidentes e influir em seus governos, pretendia ele próprio presidir a República. Mas Venceslau Brás, solidamente enraizado na política mineira, onde dividia com Francisco Sales o comando do Partido Republicano Mineiro, aliou-se uma vez mais aos paulistas e confirmou-se como o eleito para presidência entre 1914 e 1918.

Como presidente, deu continuação à obra de neutralizar a influência de Pinheiro Machado. Não o consultou para a formação de seu ministério. Nos meses seguintes, arrebatou-lhe a liderança do Partido Republicano Conservador, na prática o único partido político então existente. Quando Pinheiro Machado morreu em 1915, assassinado, Venceslau Brás detinha o controle da política nacional. Com autoridade, resolveu a questão da dupla presidência (governança) do Estado do Rio, ao determinar que Força Federal, baseada em território fluminense garantisse o cumprimento do habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal, que reconhecia Nilo Peçanha como governador ilegítimo.

Mas os dois maiores momentos de Venceslau Brás, na presidência da República, seriam outros. Em 1° janeiro de 1916, sancionou o Código Civil, redigido pelos mais importantes juristas brasileiros da época. E em 26 de outubro de 1917, como reação ao torpedeamento de vários navios mercantes brasileiros por canhões alemães, decidiu incorporar tropas do Brasil às forças aliadas que derrotaram a Alemanha na I Guerra Mundial. A paz foi assinada antes que os soldados brasileiros tivessem de entrar em combate.

Outras realizações como presidente: criação de uma nova lei eleitoral, estímulo à produção agrícola, aumento das exportações de alimentos, estímulo à expansão da indústria, incentivo à exploração do carvão, incremento do ensino profissional, criação do Comissariado da Alimentação (para combater a carestia).

A administração federal de Venceslau Brás se deu em período de grande dificuldade financeira internacional, com graves reflexos na vida brasileira. Ainda assim, ao fim de seu mandato ele reunia popularidade suficiente para continuar na vida pública, além da grande experiência acumulada. Tinha então 50 aos de idade e se elegeria facilmente para o Senado, com chances reais de numa primeira oportunidade voltar ao governo de Minas ou à presidência da República.

No entanto, Venceslau Brás preferiu se afastar da vida pública. Voltou á advocacia, reassumindo o comando da Cia. Industrial Sul-Mineira, que havia fundado em 1912 e que compreendia o Banco de Itajubá, a Fábrica de Tecidos Codorna e uma empresa de eletricidade. Seu único e breve retorno à cena política se deu em 1931, quando aceitou a presidência do Comitê Supremo da Legião Liberal Mineira. Tratava-se  de composição para pacificar as lideranças de Minas Gerais, desavindas desde a Revolução de 30.

Diferentes correntes insistiram em torná-lo governador de Minas, em 1933 e em 1945, e o presidente da República, em 1950 (tinha então 82 anos e constituía uma das maiores reservas morais do país). Indiferente a todos os apelos, Venceslau Brás seguiu tocando seus negócios e dedicando as horas livres à pescaria, paixão maior de seus últimos dias. Morreu em Itajubá aos 98 anos, em 15 de maio de 1966, conhecido como “O Solitário de Itajubá”.

Causo

Do repertório de José Aparecido, deputado, ministro, governador de Brasília, embaixador, consta o seguinte diálogo com um conterrâneo de Conceição do Mato Dentro:

– Como vão as coisas? Alguma novidade?

– As coisa vão bem, dôto. Mas as nuvidadi, num sei não, porque deu defeito na televisão.

– Sua televisão não pega?

– Pois é! As veis farta prosa, as veis farta feição. Fica assim…