sexta-feira, maio 3, 2024
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Faleceu ontem, quarta-feira (02), o ex-deputado estadual e federal Marcos Tito

O político do MDB era aliado e amigo de longa data dos ex-prefeitos alemparaibanos Elias Sahione e Fernando Lúcio Donzeles, bem como do ex-deputado Fuhad Sahione.

Da esquerda para a direita: Marcos Tito Filho, Marcos Tito e Luiz Tito, ex-vice-presidente da Sempre Editora e colunista de O TEMPO. ( Foto: Edy Fernandes)

O ex-deputado do MDB, Marcos Tito, que teve seu mandato cassado em 1977 pelo Ato Institucional nº 5, no período da Ditadura Militar (1964-1985), faleceu na madrugada de ontem, quarta-feira (2), aos 82 anos. O corpo foi velado das 9h às 12h na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Em seguida, foi cremado no Cemitério Parque Renascer. 

O ex-deputado lutava contra um câncer há 14 anos. O irmão, Luiz Tito, colunista do jornal O Tempo, ressaltou o legado do irmão. “Perdemos o Marcos, o Marquinhos, o Marcos Tito, o Tito, como era conhecido, mas reconhecido sobretudo como o amigo Marcos de todos com quem ele conviveu. Em tudo que ele foi, vai nos fazer muita falta”, disse. Foi amigo pessoal e aliado dos ex-prefeitos alemparaibanos Elias Sahione e Fernando Lúcio Donzeles, além do ex-deputado estadual Fuhad Sahione.

Marcos Wellington de Castro Tito nasceu em Belo Horizonte, no dia 22 de setembro de 1940, filho de Fábio Tito e de Elisa de Castro Tito. Foi casado com Ivone Amélia Peixoto Queiroga, já falecida, com quem teve três filhos.

Cursou o secundário nos colégios Anchieta e Municipal na capital mineira e, em 1966, formou-se em Direito pela PUC Minas, onde foi líder estudantil.

Em 1970, elegeu-se deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).  Empossado em fevereiro do ano seguinte, na Assembléia Mineira foi vice-presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente e integrou, entre outras, as co­missões Elaboradora do Estatuto do Magisté­rio de Minas Gerais e Elaboradora do Código Tributável de Minas Gerais, de Constituição e Justiça e de Economia, atuando ainda como vice-líder do MDB e membro de sua comissão executiva em Minas Gerais.

Quatro anos depois, em 1974, foi eleito deputado federal também pelo MDB, assumindo, em fevereiro do ano seguinte, seu mandato na Câmara dos Deputados. Marcos Tito ligou-se à corrente dos apelidados “autênticos”, ala de esquerda do partido. Naquela legislatura, integrou a Comissão de Minas e Energia e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Minérios. Além disso, foi relator do Acordo Atômico Brasil-Alemanha e presidiu a Comissão de Finanças da Câmara em substituição ao deputado Camilo Nogueira da Gama, falecido em julho de 1976 durante o recesso parlamentar.

O deputado federal Marcos Tito teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos durante a Ditadura Militar (1964-1985). Ele foi acusado de ter embasado seu discurso em artigo do jornal Voz Operária, do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O discurso foi feito na tribuna da Câmara dos Deputados em maio de 1977 e, 48 horas depois, foi denunciado pelo deputado Sinval Boaventura como manifesto do Partido Comunista. Em junho desse mesmo ano, teve o mandato cassado pelo presidente da República Ernesto Geisel (1974-1979), com base no Ato Institucional n° 5 (AI-5), instituído em 13 de dezembro de 1968. O texto lido na tribuna havia sido plantado pelos militares e não passava de uma armadilha ao parlamentar. As forças mais radicais do regime criaram uma crise artificial.

Quatro décadas depois, um ex-integrante do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) revelou a trama sobre como um complô foi armado para que Marcos Tito e Alencar Furtado perdessem os mandatos. A crise que levou à cassação dos dois últimos mandatos de deputados federais com base no AI-5, em 1977, foi o resultado de uma conspiração montada por integrantes da comunidade de informações da ditadura militar. O objetivo inicial do governo era se livrar de Marcos Tito por ele estar assumindo uma posição que estava incomodando muito os militares.

Logo após a cassação, Marcos Tito disse, por meio de uma nota, na casa de sua mãe, em Belo Horizonte: “Não sou como querem um comunista, mas como democrata espero que os comunistas, tanto como os macartistas que aí estão, possam participar da vida institucional. Estamos no limiar de novos dias”.

Para o jornal O Estadão, que revelou o complô contra seu mandato, Marcos Tito contou que fazia uma oposição “muito dura à ditadura” e “denunciava torturas e mortes”. Segundo Tito, os militares usaram o pretexto de que ele tinha o apoio dos comunistas para cassar seu mandato. “Não me arrependo nada do que fiz. Podem vasculhar minha vida; não tem nenhum ato de desonra”, afirmou nessa entrevista.

Os impactos da cassação foram muitos. Marcos Tito contou que era jovem, tinha 37 anos, um mandato e um cargo no Estado. Ele foi aposentado com 10% do salário e teve que ir morar na casa de sua mãe, pois estava sem condição de sobreviver. “Voltei à advocacia, mas as pessoas tinham medo de procurar meu escritório, porque naquela época o medo intimidava as pessoas. Morei dois anos com minha mãe para reorganizar minha vida”, contou.

Em 1978, fez parte do Comitê Brasileiro pela Anistia, sendo também advogado de presos políticos e de jornais da chamada imprensa alternativa, como O Pasquim e Movimento. Em agosto de 1979, com a assinatura da Lei da Anistia pelo general João Batista Figueiredo, foi beneficiado pela medida, ingressando meses depois, no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), legenda que surgiu após a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a conseqüente reorganização partidária. Em novembro de 1982, Marcos Tito foi candidato a deputado estadual pelo PMDB, quando obteve apenas a quinta suplência.

No ano seguinte, foi nomeado pelo governador Tancredo Neves diretor administrativo da Companhia de Ampliação de Construção e Reparos de Prédios Escolares, cargo que ocuparia até setembro de 1997. Participou ativamente da campanha das Diretas Já, percorrendo o território mineiro fazendo palestras em defesa do restabelecimento das eleições diretas para a presidência da República.

Em 1985, exerceu o mandato de deputado estadual na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Disputou uma vaga de deputado estadual constituinte no pleito de novembro de 1986, mas ficou como suplente. Ainda em 1986, foi nomeado vice-presidente da Florestas Rio Doce, empresa subsidiária da Companha Vale do Rio Doce, com sede em Belo Horizonte.

Membro do diretório regional do PMDB desde a fundação do partido, tornou-se presidente da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais em maio de 1999, no governo de Itamar Franco.

Publicou O poder (1975), Em defesa da cultura brasileira (1975), Em defesa do painel Tiradentes (1976), Parecer sobre o acordo atômico Brasil-Alemanha (1976) e Temas parlamentares (volumes 1 e 2 em 1976 e 1977).

Por três vezes, o Jornal Além Parahyba publicou, com exclusividade, artigos de autoria de Marcos Tito, ocasião em que relatou sobre assuntos diversos, entre estes a sua ligação política de larga amizade com o município alemparaibano, em especial com o ex-deputado estadual alemparaibano Fuhad Sahione.

Fonte: Com informações de O TEMPO e Estado de Minas