quinta-feira, maio 2, 2024
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Por que União Brasil, Podemos e PSDB podem decidir a eleição para presidente do Senado

Sessão plenária do Senado: União Brasil, Podemos e PSDB são cortejados na disputa da presidência do Senado| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

O União Brasil, o Podemos e o PSDB serão os fiéis da balança na eleição pela presidência do Senado, marcada para 1.º de fevereiro. O apoio de senadores desses três partidos será fundamental para o desfecho da disputa, que segue indefinida entre a reeleição do atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ou a vitória do senador eleito Rogério Marinho (PL-RN).

O PL atua para encaminhar um acordo que prevê o apoio do PP e do Republicanos. Juntos, os três partidos têm 24 senadores. A base de Marinho confia que possa contar com todos esses votos e ao menos uma dezena de outros. Em parte, a confiança é atribuída por aliados às promessas do senador de independência do Senado em relação aos demais poderes, inclusive ao Supremo Tribunal Federal (STF). O Congresso tem se ressentido do que considera ser a intromissão do STF em assuntos do Legislativo.

Aliados de Marinho contabilizam ao menos 35 votos e entendem que é possível chegar a no mínimo de 41 votos – o que garantiria a vitória dele. Para isso, o senador Carlos Portinho (PL-RJ), que auxilia a coordenação da campanha, sustenta que os votos dos senadores do União Brasil, do Podemos e do PSDB são vitais.

“São os três partidos que vão definir a eleição para um [candidato] ou outro. Temos conversado com senadores dos três partidos e, se os trouxermos para nós, a gente tem capacidade de chegar a 44 votos”, diz Portinho. “Na minha conta, faltam poucos votos para a gente vencer”, afirma. O senador encerrou a última legislatura como líder do governo no Senado na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já os mais próximos de Pacheco calculam que ele possa ultrapassar os 57 votos obtidos na eleição de 2021. A conta leva em consideração o acumulado das bancadas do PSD, MDB, União Brasil, PT, Podemos, PDT, Cidadania, Pros, PSB e Rede – que somados têm 53 senadores.

“Acho que ele tem 53 votos. Mas com uma condição e possibilidade de repetir ou até mesmo ampliar a votação que obteve na eleição anterior”, diz o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), primeiro-vice-presidente da Casa. “Acho que há uma condição sólida de postulação dele [Pacheco].”

Quais fatores explicam o papel de Podemos, PSDB e União Brasil

O interesse pelos votos do União Brasil, Podemos e PSDB é justificável não apenas pelos 20 senadores que as bancadas somam juntas. As três legendas concentram parlamentares com perfis mais ao centro, dos quais alguns estão mais situados à centro-esquerda e outros à centro-direita – Pacheco é o candidato do governo Lula, e Marinho foi ministro de Jair Bolsonaro.

Ainda que seja improvável Marinho ou Pacheco assegurarem os 20 votos dessas legendas, existe a expectativa de que será eleito o candidato que assegurar o apoio da maioria desse senadores.

É por causa do perfil dos parlamentares desses três partidos que Marinho, por exemplo, acredita na vitória. A avaliação no PL é de que é possível conquistar a maioria dos votos, por exemplo, do União Brasil – a despeito dos esforços do senador da sigla Davi Alcolumbre (AP), que coordena a campanha de Pacheco. Alcolumbre negociou três ministérios com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas as nomeações não são reconhecidas por seu partido e pela maioria de seus integrantes como escolhas da bancada.

Há uma percepção no entorno de Marinho que seria possível obter até mesmo o voto da senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que articula uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os responsáveis pela invasão às sedes dos três poderes. Segundo senadores, ela não estaria satisfeita com Pacheco.

Já a base de Pacheco também entende que pode conseguir a maioria dos votos nos três partidos e, para isso, conta com o apoio de Alcolumbre. A despeito de serem legendas com uma maioria de senadores de centro-direita, a avaliação nos bastidores é de que a negociação de emendas parlamentares e acomodação de apadrinhados desses partidos em cargos de segundo escalão no governo podem ajudar a assegurar votos de senadores menos ideológicos ou avessos a Lula.

O que está em jogo nas negociações com o União Brasil, Podemos e PSDB

Senadores do União Brasil, do Podemos e do PSDB avaliam que Pacheco pode ser mais favorecido com votos das bancadas e um dos motivos é o fato do atual presidente do Senado ser o candidato que tem a afinidade de Lula, além do apoio do PT e de partidos da base do governo.

Alguns fatores contribuem para essa percepção. Um é a possibilidade de acomodação de apadrinhados de senadores do entorno de Pacheco em cargos do governo. Lula também selou com os presidentes do Senado e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), uma forma de manter sob o controle das duas presidências uma parcela do Orçamento federal. O acordo foi firmado como forma de driblar o fim do orçamento secreto determinado pelo STF no ano passado.

Com menos instrumentos de articulação política, Marinho tem acenado aos partidos de que respeitará o critério da proporcionalidade para cargos na Mesa Diretora (teriam direito os partidos que proporcionalmente têm mais senadores). Ele também está disposto a negociar a ocupação de outros espaços importantes no Senado, caso das comissões permanentes. Seu objetivo é “oxigenar” a Casa. O senador e seu entorno político afirmam que existe uma insatisfação com a produtividade do Legislativo, principalmente das comissões.

Uma liderança de um dos três partidos afirma reservadamente que há o interesse de senadores das legendas em orçamento e indicações políticas. Ele avalia que isso pode pesar a favor de Pacheco. “Com isso, eles pretendem amarrar muitos senadores que fazem o mandato baseado principalmente em verbas. Esses fazem tudo para levar verba aos estados e falar que possibilitou aquela ponte, aquele hospital, aquela praça“, diz.

O mesmo senador comenta ainda que não há unidade entre Podemos e PSDB, sobretudo, e que isso pode ampliar os desafios de Pacheco e Marinho. “Se os dois partidos fizessem uma reunião e decidissem votar no mesmo candidato, faria sentido a expectativa dos dois candidatos em obter mais fácil os votos da maioria. Mas não há essa solidez”, diz a fonte.

Lideranças desses partidos consideram que exista espaço para que Pacheco e Marinho convençam os senadores, mas rechaçam a hipótese de que um candidato ou outro consiga integralmente ou a absoluta maioria dos votos dos três partidos. Para as fontes, isso é irreal.

“É equivocado afirmar que Pacheco ou Marinho têm 100% dessa ou daquela bancada. Isso é lenda. Cada senador é uma instituição, é uma cabeça. O relacionamento no Senado é diário, é um vaivém que tem coisas positivas ou negativas, e isso aí o senador filtra na hora e escolhe”, afirma uma liderança. “Os senadores do Podemos não vão votar todos no mesmo candidato, nem os do União e talvez nem os do PSDB”, diz um segundo senador.

Como Pacheco e Marinho se articulam pela disputa da presidência do Senado

Para consolidar sua candidatura, Marinho tem percorrido diferentes estados e se reunido presencialmente com senadores. O objetivo é percorrer todas as regiões do país para consolidar votos e convencer os indecisos. Nas conversas, o parlamentar tem destacado suas bandeiras e procura desmistificar a percepção de que sua candidatura representa uma oposição aos demais poderes.

Até o momento, Marinho viajou estados das regiões Nordeste, Norte, Sul e Sudeste e ainda planeja ir a estados do Centro-Oeste, onde conta com o apoio da senadora eleita Tereza Cristina (PP-MS). As conversas são avaliadas como positivas pelo senador Carlos Portinho.

O aliado de Marinho entende que as reuniões fortalecem a candidatura, a despeito da equipe ministerial montada por Lula privilegiar mais o Senado. “Não vejo esse favorecimento na medida em que foram atendidos interesses pessoais do Pacheco e do Davi [Alcolumbre], e não interesses partidários”, diz Portinho.

No último dia 13, Marinho se encontrou pessoalmente com o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que o apresentou a dirigentes dos setores produtivos e iniciou uma articulação para que a sociedade civil apoie a candidatura do senador do PL. “Sugeri a ele que envie representantes do comércio, da indústria e da agricultura e de outras entidades de classe para entrar em campo e conversar com os senadores”, diz

Heinze acredita que os presidentes de entidades de classe do Rio Grande do Sul terão papel importante para influenciar outros dirigentes, mas o senador também defende a participação de prefeitos e o engajamento de eleitores. Para ele, a candidatura de Marinho é importante para defender os interesses do Senado e do país contra medidas excessivas adotadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por exemplo.

“Não é problema para mim que, sou oposição [a Lula]; é para o Brasil. O Senado não pode ter força sobre outros poderes, mas eles fazerem o que estão fazendo é absurdo. O Judiciário cala a boca do Senado, da imprensa, só podem falar o que eles querem. Está tudo errado. A democracia não é assim. Isso é ditadura da toga. É um absurdo e a sociedade cobra da gente. De uma certa forma, a sociedade quer essa mudança [na presidência do Senado] e cada estado tem seus três senadores”, diz Heinze.

Já os aliados de Pacheco avaliam que estimular a sociedade a pressionar os senadores não é a estratégia mais eficaz na eleição interna do Senado. “Essa mobilização só prejudica o [Rogério] Marinho. Ninguém gosta de ser pressionado. A prerrogativa é do voto secreto justamente para não se indispor com esse ou aquele. Se é com intenção de ajudar o Rogério, esquece. É um tiro que pode sair pela culatra e favorecer o Pacheco”, diz uma liderança do Senado.

Pacheco também tem conversado com senadores. Mas, diferentemente de Marinho, não tem feito viagens pelo país para conversas privadas. Aliados explicam que suas posições são conhecidas pelos colegas e não serão alteradas em caso de uma reeleição. Mas Pacheco e seus apoiadores planejam reforçar o trabalho de articulação nos próximos dias até a data das eleições, prevista para 1.º de fevereiro.

Fonte: Gazeta do Povo – Por Rodolfo Costa.