sexta-feira, maio 3, 2024
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Advogada diz que hospital teria escondido da mãe que bebê teve cabeça arrancada

Após o ocorrido, mulher foi sedada e acordou com o bebê com a cabeça costurada e os pontos cobertos pela roupinha e lenço; “não tire a roupinha”, pediu a equipe

Caso foi registrado no Hospital das Clínicas da UFMG – Foto: Alex de Jesus

Cerca de duas horas após a cabeça de um bebê ser arrancada durante parto no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, a mãe, que havia sido sedada, acordou. O bebê, já sem vida, foi entregue em suas mãos já vestido e com um lencinho no pescoço. “A família sabe que tentaram esconder. Colocaram um lencinho no corpinho do bebê e falaram que não era para tirar a roupinha”, conta a advogada Jennifer Valente, responsável pela defesa da família. A suposta farsa teria sido revelada pela mãe da gestante. “A avó identificou um fio no bebê”, denuncia.

Toda a preparação para o parto da mãe não foi feita de última hora. Ranielly Coelho, de 34 anos, deu entrada no hospital uma semana antes, na segunda-feira de 24 de abril, queixando-se de pressão alta, e ficou internada até a indução do parto, na madrugada de domingo para segunda, 1º de maio. A equipe da maternidade já conhecia o seu caso. “Ela estava com 7 meses. Já estava constatado que ela não tinha passagem. Não foi um problema novo, o primeiro filho nasceu de parto por fórceps há nove anos atrás”, explica a advogada, citando o procedimento médico usado para auxiliar a saída do feto.

De acordo com Valente, a família chegou a pedir por cesariana, mas a equipe do Hospital manteve a decisão no parto induzido. “Todos da família pediram pela cesárea em algum momento. A avó, mãe da gestante, ofereceu pegar empréstimo para pagar o procedimento, se fosse preciso, só para cessar o sofrimento da filha. Mas a equipe disse que não seria possível”, afirma.

O momento do parto começou da forma habitual, com o pai acompanhando o procedimento. “Estava tudo normal, as médicas chamaram o pai para visualizar o parto. Em certo momento, o bebê teve dificuldade para respirar. Foi quando a médica subiu na barriga da mãe e fez força para puxá-lo, tirando sua cabeça”, conta a advogada. A partir daí, a situação saiu do controle. “Nesse momento, gerou uma confusão. O pai foi tirado da sala, sedaram a mãe. Cerca de duas horas depois, quando ela acordou, lhe entregaram o bebê com a cabeça costurada, com roupinha”, continua.

Com a indicação de não tirar a roupinha do bebê, que também estava coberto com um lencinho, a avó da criança identificou um fio no pescoço dele e confirmou que a cabeça havia sido arrancada e costurada. “Não falaram sobre antes da avó ver. Já era início da manhã de segunda. A família conta que a equipe da maternidade estava muito apreensiva, com cochichos, nervosos”.

Quando Ranielly voltou para o quarto de internação, que dividia com outras gestantes, ela começou a contar o que havia ocorrido. “Tiveram que separá-la e a colocá-la em um quarto sozinha, porque as outras mulheres ficaram assustadas, claro”, diz Valente. A primeira a conversar com Ranielly após o erro foi uma assistente social do Hospital das Clínicas.

Ela ofereceu a necrópsia e o sepultamento pela instituição. “Propuseram o sepultamento pela própria instituição e queriam que a família assinasse a autorização. Estaria tudo incluso, necrópsia e sepultamento, sem custo algum. Mas a família desconfiou”, continua.

De acordo com a advogada Jennifer Valente, a médica responsável pelo parto não era residente e é mestre em Saúde da Mulher. “A médica pediu desculpas, mais tarde naquele dia”.

Mesmo com a alta da mãe, na terça-feira, 2 de maio, o bebê ficou no Hospital e só foi ser liberado após a ação da advogada junto com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), na quarta-feira (3) à noite, mais de 48 horas após o parto. Foi quando o corpo foi levado ao Instituto Médico-Legal (IML). Até o momento, o laudo ainda não foi concluído.

As marcas ficaram no corpo e na lembrança da mãe. “Ela está péssima, bastante para baixo, com psicológico abalado. Vai precisar de um acompanhamento psicológico”, diz a advogada. “Ranielly levou mais de 60 pontos, chegou a ser amarrada e ficou com muitos roxos no braço”.

A defesa da família pretende entrar com processo contra o Hospital e, consequentemente, contra as médicas envolvidas por danos morais e psicológicos. Além de acompanharem o trabalho criminal que deve ser liderado pela Polícia Civil e o Ministério Público.

Por meio de uma nota, a Polícia Civil confirmou que instaurou um inquérito para apurar as “causas e circunstâncias” do ocorrido. “A PCMG esclarece que procedimentos estão sendo realizados com o intuito de elucidar o caso. Tão logo seja possível, outras informações serão divulgadas”.

O jornal O TEMPO procurou a assessoria do Hospital das Clínicas (HC). Por meio de uma nota, a unidade de saúde, que é administrada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), lamentou o ocorrido e disse que “se solidariza com a família neste momento de luto”.

“O HC e a EBSERH empenharão todos os esforços para apuração dos fatos e análise do caso e apoio à família”, concluiu o texto divulgado pelo hospital.

O Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) também foi questionado se algum procedimento interno será aberto e se a médica pode ter o seu registro cassado, porém, a instituição ainda não se posicionou.

Fonte: Jornal O Tempo – Por Isabela Abalen