domingo, abril 28, 2024
DESTAQUEGOVERNO DE MINAS GERAIS

Newton Cardoso

Newton Cardoso nasceu em Brumado (BA), no dia 22 de maio de 1938, e vive em Minas desde adolescente. Estudou no Colégio Anchieta, de Belo Horizonte. Formou-se pela Faculdade de Direito da então Universidade Católica, em 1966. Presidiu a União Colegial, quando secundarista, e trabalhou no gabinete do prefeito Amintas de Barros, de Belo Horizonte.

Em 1964, pertenceu à corrente estudantil que apoiou a deposição do presidente João Goulart, com atuação destacada na cidade de Contagem, onde era assessor da diretoria da Magnesita e em pouco tempo se tornou comerciante próspero. Filiou-se ao MDB, oposicionista, em fins de 1965, pelo qual se candidatou a deputado no ano seguinte, sem êxito. Voltou a fracassar como candidato emedebista nas eleições para a prefeitura de Contagem, em 1967.

Embora duas vezes derrotado, constitui-se como liderança nova na cidade e ganhou amplamente as eleições de 1972, com 70% dos votos. Foi um dos pouquíssimos emedebistas a vencer, naquele ano. Na ocasião, a cúpula nacional do MDB chegou a cogitar da autodissolução do partido, temerosa de que não havia como concorrer com a Arena governista.

A partir da base conquistada em Contagem, elegeu-se deputado federal em 1978 por Minas (o mais votado, no MDB), reelegeu-se prefeito da cidade em 1982, com números ainda mais consagradores – 92% da votação. Ampliou o contingente de aliados com direito a voto na convenção do partido, e desse modo, tornou-se imbatível entre os que pleiteavam a indicação do PMDB às eleições de 1986 para o governo estadual. Elegeu-se, vencendo o candidato da coligação PL-PFL, senador Itamar Franco. Governou sob pesada artilharia da imprensa, que seguidamente publicou denúncias de corrupção em quase todos os setores da administração.

Newton Cardoso assumiu o governo de Minas com um plano que batizou Programa de Metas. De acordo com o Plano de Newton, dois terços dos investimentos do estado seriam aplicados em educação, saúde, saneamento, alimentação e desenvolvimento urbano. O apelido de “trator” – uma referência ao grande número de obras empenhadas durante o governo de Newton à frente do estado e ao estilo “duro” de Newton – remonta a essa época.

Newton Cardoso encontrou o aparato estatal absolutamente comprometido com o pagamento do funcionalismo: 113% do orçamento eram direcionados à folha dos funcionários de Minas. Sendo assim, um dos primeiros atos de Newton Cardoso como governador foi a exoneração de mais de trinta mil funcionários fantasmas.

Cardoso também ajustou as contas do estado, gerando superávit primário no caixa estadual e vendendo bancos estatais. Boa parte dessas empresas gerava prejuízos aos cofres públicos, como os cinco bancos estaduais mineiros: a Agrimisa, o Bemge, o BDMG, o Credireal e a Caixa Estadual. Nesse sentido, um amplo programa de privatizações foi levado a cabo, para otimizar os gastos públicos e concentrar investimentos em áreas prioritárias.

No bojo das medidas que hoje seriam facilmente chamadas de “choque de gestão”, a venda de cerca de 1.500 veículos de propriedade do governo, para que mais de 500 ambulâncias fossem compradas com a verba da venda dos carros.

Newton adotou também o Regime Jurídico Único, que possibilitou aos celetistas (regidos pela CLT) ter os mesmos direitos que os estatutários. Também, via Plano de Revisão de Proventos dos Serviços Públicos, beneficiou mais de 40 mil aposentados do quadro do magistério.

Em quatro anos de gestão, construiu cerca de 6.000 km de estradas, 5 km de pontes e viadutos, 267 terminais rodoviários, 14 aeroportos e a “Trincheira” de Contagem. Implantou o Projeto “Com-Luz”, que beneficiou 65 mil moradores de comunidades carentes, do Projeto “Clarear”, que atendeu a 75 mil pessoas em Belo Horizonte, do Projeto “Iluminas”, de eletrificação rural, e do “BID III-Minas Luz”, que beneficiou mais de cinco milhões de pessoas. Entre 1987 e 1991, foram construídas mais de 100 mil moradias para famílias carentes no estado. Somente em BH quase cinco mil casas foram construídas, dotadas de rede de esgoto, água e iluminação, com lâmpadas de vapor de sódio – o Programa “BH-90”. Construiu na cidade de Santa Rosa da Serra avenidas, escolas, quadras de esportes, postos de saúde, levou energia elétrica, água encanada e asfaltou ruas e 21 km da MG que liga a BR-262 e 354.

Implantou o Sistema de Abastecimento de água Rio Manso, um dos que abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Essa obra supriu o déficit que havia no abastecimento de água da RMBH, com 240 km de redes de esgoto – 280 mil habitantes foram beneficiados. Newton também deu andamento a obras de saneamento básico, água e esgoto em 136 municípios do estado. Construiu 14 barragens no Vale do Jequitinhonha, para a perenização dos rios da região – destaque para a Usina Hidrelétrica de Nova Ponte. Abaixo, a relação das principais barragens construídas durante seu governo:

– Bananal, no município de Salinas: irrigou 670 hectares e beneficiou 8.500 pessoas;

– Salinas: atingiu área de 2.220 hectares e beneficiou 27 mil pessoas;

– Setúbal, no município de Minas Novas: atingiu área de 5.150 hectares, com potencial de 3.500 kw;

– Calhauzinho, em Araçuaí: irrigou 930 hectares, com geração de 410 kw, e beneficiou 11.600 pessoas;

– Samambaia, em Águas Vermelhas: atingiu área de 700 hectares, com potencial de 200 kw; beneficiou 8.500 pessoas;

– Mosquito, em Porteirinha: 260 hectares irrigados e 3.500 pessoas beneficiadas;

– Caraíbas, entre Salinas e Rubelita: beneficiou 3.200 pessoas, irrigando 250 hectares e gerando 70 kw.

Foram recuperadas 124 escolas da rede pública estadual e construídas 14 em diversos bairros de BH. Além disso, o governo Newton criou o Centro de Pesquisa Ensino/Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo (Cepe/Itac), na Fazenda Experimental de Pitangui, voltado para a formação de técnicos de agropecuária, para receber alunos do primeiro e do segundo graus.

Ampliou, reformou e construiu hospitais e postos de saúde. O Hospital São José foi reaberto em fins de 1990; Hospital Pronto-Socorro João XXIII também foi um dos contemplados, com reforma e aquisição de novos equipamentos; igualmente, os hospitais Raul Soares, Galba Veloso, Amélia Lins e Eduardo de Menezes também foram beneficiados.

Recuperou o acervo arquitetônico da cidade do Serro, e também os prédios das secretarias de Cultura, Obras, Educação e Fazenda, na Praça da Liberdade, e o Terminal Turístico JK.

Sua administração enfrentou ruidosa oposição comandada pelo jornal Estado de Minas, órgão dos Diários Associados, que nunca deixou de acusá-lo de favorecimento pessoal no uso de cargo público. Por três vezes, a Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais examinou e rejeitou pedido de impeachment do governador por crime de responsabilidade, baseado em improbidade administrativa. Porém, todas as denúncias não se comprovaram. Newton Cardoso nunca foi condenado pela justiça por nenhum ato ofensivo à administração pública.

O governo Newton ainda enfrentou uma tentativa de emancipação do Triângulo Mineiro, ao que o governador prontamente debelou, em defesa da manutenção do território mineiro.

Em seu segundo mandato como deputado federal (1995-1996), obteve 179.169 votos, o que consolidou o prestígio de Newton junto ao governo federal. Em 1996 venceu em 1º turno a eleição para Prefeito de Contagem, cargo que ocupava pela 3ª vez.

Newton não chegou a completar o mandato de prefeito, pois disputou as eleições para governo do estado, sendo o vice da chapa de Itamar Franco, pelo PMDB. A chapa saiu vencedora do pleito de 1998, na disputa com o então governador Eduardo Azeredo.

Em 2006, Newton Cardoso concorreu pelo seu partido a uma vaga para o Senado. Na convenção partidária, Newton com o apoio do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, derrotou o ex-presidente Itamar Franco, candidato apoiado pelo governador em exercício Aécio Neves, candidato a reeleição. Newton obteve os votos de 70% dos delegados do partido, enquanto Itamar ficou com apenas 25% dos 567 votos apurados. Newton Cardoso perdeu a eleição para o candidato Eliseu Rezende.

No governo do estado, suas contas foram rejeitadas. Enfrentou processos de impeachment, ações por enriquecimento ilícito, grilagem de terras, uso indevido da máquina administrativa, fraude num projeto habitacional e causas trabalhistas contra o estado.

Em 1992, foi denunciado por peculato, por ter comprado jóias para as secretárias quando era prefeito de Contagem pela segunda vez, entre 1983 e 1985.2

Em 2009, o jornal O Globo de 19 de janeiro, denunciou que o patrimônio de Newtão – como é conhecido – estava avaliado entre 2,5 e 3 bilhões de reais, incluindo mais de 100 fazendas, aviões, imóveis, contas em paraísos fiscais e um hotel em Paris, o Residence des Halles. O valor é duzentas vezes maior que o declarado à Justiça Eleitoral durante sua campanha ao Senado três anos antes.

Newton Cardoso também foi deputado federal, pelo PMDB, sendo considerado um dos parlamentares mais infieis da base aliada da então presidente Dilma Rousseff.

Quando deputado, tinha uma fortuna declarada de R$ 77,9 milhões que o fazia o terceiro mais rico da Câmara atrás apenas de João Lyra (PTB-AL) e Alfredo Kaefer (PSDB-PR), Cardoso sempre foi considerado na bancada um rebelde, pois costuma não se alinhar automaticamente às orientações de seu partido. Muito menos do governo. Segundo levantamento do Estadão Dados, Cardoso votou contra o governo Dilma em nove de 18 votações.

Ele se defendia afirmando que não era “boi de presépio”. “Não abaixo a cabeça para tudo que o governo quer”, afirmou. Conhecido como “trator” e “Newtão”, dizia que não temia represálias do governo por conta das votações que contrariam o orientação dos líderes governistas. “Não quero ter emprego”, ironizou.

Como deputado, tecia criticas ao que considerava “posição subserviente” do PMDB em relação ao governo federal e defendia uma candidatura própria do partido para o governo de Minas Gerais nas eleições de 2014. “O PMDB não tem que dizer sempre sim”.

Para ele, o governo da presidente Dilma Rousseff criou cisões “muito graves” no partido, que já eram observadas mais fortemente na Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O quadro, previu, ia piorar. Na votação daquele ano, afiormou que ia manter a postura independente, votando contra o governo petista.

Atualmente dedica-se às suas atividades empresariais.

Fonte: Carmo Chagas – Versão atualizada

Publicado na edição 783 do Jornal Além Parahyba – 07/05/2014

An Quim