segunda-feira, setembro 9, 2024
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Informações extras sobre o surto da Covid-19 no Asilo Ana Carneiro não informadas ou desinformadas através da imprensa

A imprecisão das notícias veiculadas pela imprensa regional e estadual, que recebeu informações da Secretaria Municipal de Saúde, está latente no site G1 Zona da Mata, onde a reportagem sobre o Asilo Ana Carneiro afirma que a primeira dose da CoronaVac foi aplicada em 12 de fevereiro. Na realidade a primeira dose foi aplicada em 22 de janeiro. Na imagem acima, é bem claro no subtítulo da reportagem de que o surto teve início em 12 de fevereiro, após os internos receberem a primeira dose da vacina. Vale ressaltar, a segunda dose foi aplicada no dia 10 de fevereiro.

Desde que foram tornados públicos pela imprensa, em especial através da imprensa regional/estadual (G1 Zona da Mata, Estado de Minas, Tribuna de Minas e outras), com informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Saúde que em momento algum repassou qualquer tipo de informação oficial para alguns veículos de comunicação alemparaibanos (Jornal Agora e Jornal Além Parahyba), os dados divulgados sobre o surto da Covid-19 no Asilo Ana Carneiro não são tão precisos como deveriam ser. Uma série de imprecisões são encontradas nas notícias veiculadas sobre o assunto, inclusive algumas deixando em dúvida a seriedade com que a direção e funcionários daquela instituição atende e cuida de seus idosos, o que é um absurdo.

Em conversa por telefone (duas vezes) que durou longo tempo (bem mais de oitenta minutos), entre o editor do ALÉM PARAHYBA, Flávio Senra, e a direção da Casa fundada pelo saudoso Dr. Ladário de Faria, algumas situações e dúvidas foram colocadas e discutidas, deixando claramente que nem tudo o que foi dito até o momento tem a precisão que deve ter qualquer informação de cunho jornalístico, até mesmo pessoal.

Inicialmente, deve ser informado, e é de conhecimento de todos, que os idosos e funcionários daquela entidade receberam a primeira dose da CoronaVac em 22 de janeiro último, e não 12 de fevereiro como foi informado no sub-título da matéria assinada pela repórter Amanda Andrade,  no site G1 Zona da Mata. Entre o dia 22 de janeiro e o dia 12 de fevereiro, ocasião em que foi comunicado o surto pela Secretaria Municipal de Saúde, três idosos haviam falecido (27 de janeiro, 04 e 12 de fevereiro – até a data de hoje, 22 de fevereiro, faleceram seis idosos).

À ocasião da segunda dose da CoronaVac, 10 de fevereiro, segundo informações da direção do Asilo, a equipe de vacinação da municipalidade foi alertada de que, além dos três óbitos mencionados anteriormente, vários internos apresentavam sintomas da doença e que acreditava-se que antes da aplicação de nova dose todos os idosos e funcionários da instituição deveriam ser submetidos a testes. Como resposta, teria sido alegado de que “o Estado não custeava os testes”, o que pode ser considerado como “conversa para boi dormir” já que recursos financeiros dos governos Estadual e Federal certamente foram alocados aos cofres públicos alemparaibanos com a finalidade de atender todos os serviços contra a pandemia.

O Asilo Ana Carneiro está fechado desde o dia 14 de março do ano passado, por determinação de sua direção, somente podendo entrar em suas dependências seus funcionários, todos devidamente higienizados e portando equipamentos especiais, além de pessoas ligadas à área da saúde que dão suporte e atendimento aos seus internos. Até mesmo quem faz entrega de mercadorias adquiridas no comércio estão proibidos de entrar – as mercadorias são deixadas na entrada da instituição e levadas para o interior da mesma por seus colaboradores.

Direção, receita e outros dados sobre a instituição

A direção do Asilo Ana Carneiro está a cargo de uma única pessoa, no caso a advogada Dra. Maria Helena Barbosa de Oliveira. A situação é estranha, apenas uma pessoa na direção, mas isso se deve ao fato da mesma ter assumido a frente desse trabalho logo após o falecimento do então presidente Ivo Jorge Regasio, pelos idos de 2015, de quem Maria Helena era a vice. Com o óbito, aos poucos os demais diretores foram abandonando seus cargos, nunca preenchidos por falta de interesse popular e, porque não dizer, até mesmo das autoridades constituídas no município.

Por várias vezes, informou Maria Helena, foram tentados chamamentos para ocupação dos cargos, até mesmo a formação de uma nova diretoria, todas infrutíferas (o semanário ALÉM PARAHYBA chegou a fazer convocação). Quando existia algum interesse, ao tomarem conhecimento do que se passava e das reais responsabilidades que deveriam ser assumidas, a desistência era quase que imediata.

Atualmente contando com pouco mais de 70 internos, as despesas da instituição são elevadíssimas, com uma receita formada apenas das contribuições dos rendimentos desses internos, média de um salário mínimo mensalmente de cada um. Os valores recebidos são utilizados no custeio da folha de pagamento de 31 funcionários, além dos encargos sociais destes (INSS, FGTS, Pis/Confins, etc.), além de pagamento das despesas com luz, água, telefone, alimentação, material de higiene e limpeza, e outras.

Vale ressaltar, em quase nada as empresas e a maioria da população alemparaibana doam algo para o Asilo Ana Carneiro. Entre os supermercados, apenas um, o Supermercado Mais Por Menos, oferece algo para a instituição. A empresa liderada pelo empresário Renato Furtado Teixeira e seus filhos fornece, vez e outra, legumes, verduras e frutas para a instituição. Uma das maiores redes de supermercados da Zona da Mata instalada em Além Paraíba, com uma grande loja na Ilha do Lazareto e uma Central de Distribuição Varejo/Atacado na margem da Rodovias BR-116, com sede em Juiz de Fora, nem meio quilo de cebola oferece para saciar a fome dos velhinhos do Asilo Ana Carneiro. Trata-se do Supermercado Bahamas, que se ofereceu algo em alguma ocasião isso certamente faz muito tempo atrás.

A maior arrecadadora de ICMS no município, a Energisa S/A, com sede em Cataguases, é outra empresa que teria condições de auxiliar com a instituição alemparaibana, como na doação dos gastos com a energia elétrica que fornece – infelizmente, isso não acontece. Ressalta-se ainda que várias empresas locais, mesmo o a pandemia da Covid-19, poderiam participar de um pool para dar um melhor suporte financeiro aos “velhinhos”, tendo por principal articulador a Associação Comercial e Empresarial de Além Paraíba – ACEAP, que tem na figura do atual vice-prefeito de Além Paraíba um de seus diretores.

Ao citar o vice-prefeito, ao contrário de algumas instituições alemparaibanas que recebem anualmente verbas de subsídios aprovados pela Câmara Municipal, entre elas o Hospital São Salvador e as Voluntárias Sociais que tem entre suas diretoras a vereadora Guaraciaba Germelo de Marca, a Prefeitura Municipal de Além Paraíba certamente deve ser a maior omissa no que diz respeito a manutenção do Asilo Ana Carneiro. Das três últimas gestões municipais, somente os ex-prefeitos Wolney Freitas e Fernando Lúcio Donzeles honraram, mesmo assim em parte, com o que foi votado e aprovado na Casa do Legislativo Municipal a título de subsídios.

O atual gestor municipal, também prefeito no período de 2017/2020, segundo informações obtidas junto a ex-vereadores, nenhum centavo dos subsídios aprovados para a instituição repassou, o que mostrar a total insensibilidade àqueles que passam os últimos dias de suas vidas dentro de quatro paredes, alguns sem qualquer contato com familiares e amigos.

O ALÉM PARAHYBA teve ciência de que, no final do ano passado, no dia 24 de dezembro, a municipalidade repassou um recurso financeiro que tinha por destino o Asilo Ana Carneiro, recurso originário de emenda de um deputado pela reportagem não identificado, depositado em conta bancária da Prefeitura Municipal meses antes desta repassar o valor para a instituição, sendo que a direção do Asilo Ana Carneiro tinha que gastar o valor até o dia 31 de dezembro, ou seja, nos minutos finais do segundo tempo. Uma vez que o tempo para gastar tal recurso era exíguo, ao que parece o mesmo voltou para sua origem, ou seja, os idosos do Asilo Ana Carneiro ficaram a ver navios. COVARDIA!!!

A situação é gravíssima junto ao Asilo Ana Carneiro, uma instituição que neste ano de 2021 está completando 100 anos de existência, daí deveria ser mais respeitada não somente pelas autoridades, mas toda a população de Além Paraíba.

O Asilo Ana Carneiro

A sede do Asilo Ana Carneiro. (Foto: Arquivo do Jornal Além Parahyba, clicada em fevereiro de 2020 por Flávio Senra)

Fundado em 21 de julho de 1921, pelo médico sanitarista Dr. Ladário de Faria, a instituição foi registrada inicialmente como Casa de Abrigo a Mendigos e, evoluindo posteriormente, para abrigo de idosos que não possuíam família.

Com o passar dos anos, as demandas foram crescendo e o Asilo Ana Carneiro Lar do Idoso não pode mais ser confundido com um lugar de abandono, mas sim um lugar de ajuda e proteção às pessoas que precisam de uma assistência maior, muito difícil de ser alcançada, por famílias comuns, quer seja pelos gastos, quer pela condição de preparo, para se ter um idoso em casa.

Neste ano de 2021, quando completa 100 anos de existência, a instituição é presidida pela advogada Maria Helena Barbosa de Oliveira, e continua com prestação assistencial integral, com profissionais composto por médicos, enfermeira, auxiliares de Enfermagem, cuidadores de idosos, fisioterapeuta e diversos funcionários, cujo trabalho é destinado unicamente para o bem bem-estar dos seus pouco mais de 70 internos.

Reconhecida como utilidade pública, pela Lei Municipal, 691 de 1972, também é pelo Estado e pela União, permanecendo inalterados, os princípios que sempre a nortearam, ou seja, a prestação social a idosos, buscando sempre a melhoria de sua saúde, de sua autoestima, com atividades recreativas, festividades, e integração social.

Devido à pandemia do COVID 19, as visitas à Instituição estão temporariamente suspensas desde 14 de março do ano passado, mas se você quiser ser um colaborador voluntário, entre em contato pelo tel.: (32) 3462-1796.

Ladário de Faria: “o médico dos pobres” (*)

Dr. Ladário de Faria: fundador e grande benemérito do Asilo Ana Carneiro. (Foto: Arquivo da família)

Nascido em Areado, região sul de Minas Gerais, em 11 de abril de 1890, Dr. Ladário de Faria era filho de Fernando Antônio de Faria e de dona Maria Victória Pereira de Faria. Fez seus primeiros estudos em Campanha (MG) e em Itú (SP), formando-se em medicina pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro no ano de 1913. Casou-se em 17 de janeiro de 1917, com Maria Luíza de Rezende Faria, e tiveram oito filhos. No mesmo ano de seu casamento veio de Juiz de Fora para Além Paraíba, como Inspetor Geral do Serviço de Profilaxia Rural da Zona da Mata, sendo posteriormente transferido para Recreio (MG), onde ficou por seis meses, sendo transferido para Cataguases e, novamente, em 1920, para Além Paraíba, como Chefe do Distrito Sanitário da Zona da Mata. Em Além Paraíba dedicou sua vida profissional, fazendo desta terra sua terra e de seus filhos. Aqui foi chamado de “o médico dos pobres”, pela sua humanidade e respeito aos mais humildes.

Uma das grandes preocupações de Dr. Ladário de Faria era com a velhice desamparada que circulava pelas ruas esmolando para sobreviver. Para ampará-la, tirando-a das ruas e das condições miseráveis em que vivia, fundou o Asilo Ana Carneiro em 21 de junho de 1921. Tudo teve início numa reunião com amigos, na sede da Fazenda Barra do Peixe. Dr. Ladário tirou o chapéu, fazendo-o correr junto aos presentes ao encontro, humildemente “esmolando” um auxílio para angariar fundos que possibilitassem a construção do asilo. A primeira sede da instituição foi construída no Morro do Carneiro, defronte ao Hospital São Salvador, e recebeu o nome de Casa de Abrigo a Mendigos.

Como médico sanitarista erradicou o tifo em Além Paraíba. O primeiro laboratório de análises clínicas do município foi criado por ele, em seu consultório médico. Em 1958, foi eleito pela Associação Médica, Seção Regional de Além Paraíba, Presidente da Regional Minas Gerais. Foi chefe dos postos de saúde de Carmo e Sapucaia.

Com o pensamento sempre voltado para o bem coletivo e de Além Paraíba, sem visar interesses próprios, Dr. Ladário de Faria também foi um importante político no município. Sempre defendendo os pobres, os injustiçados e os perseguidos pelos poderosos, fundou o jornal “O Combate”, onde relatava suas idéias e sua luta pelo engrandecimento do município alemparaibano. “O Combate” se transformou numa tribuna onde os humildes eram defendidos dos opressores.

Em 1947, o Diretório do PSD apresentou o nome do ilustre médico como candidato a prefeito de Além Paraíba nas eleições que seriam realizadas em novembro daquele ano. Aceitou a proposta e foi à luta. Seu primeiro ato como candidato foi lançar um manifesto ao povo e nele constava seu programa de governo, todo desenvolvido na busca de melhores dias para a coletividade, o que desagradou várias lideranças políticas adversárias. Dr. Ladário enfrentou uma luta ferrenha, sórdida e desleal. Seus adversários, poderosos e maquiavélicos, usaram de toda a deslealdade para destruí-lo. Entretanto, os correligionários do médico, na maioria os menos favorecidos pela sorte, os operários da Estrada de Ferro Leopoldina e das outras indústrias alemparaibanas, lutaram com garra contra os ”coronéis”, elegendo aquele que era considera um homem justo, honesto, amigo dos pobres e de Além Paraíba. Dr. Ladário de Faria ganhou as eleições e foi empossado em 1º de janeiro de 1948.

A ganância dos adversários era terrível, e agindo pela escuridão, usando de métodos sujos, com má fé e corrupção, conseguiram impugnar uma urna no Tribunal Eleitoral, cassando um prefeito eleito pelo voto direto do povo. Dr. Ladário de Faria ficou somente quatro meses à frente da Prefeitura Municipal.

A decepção não desanimou os ideais do ilustre médico e político. Continuou a sua luta em defesa dos miseráveis, principalmente da classe operária. Seu nome virou uma lenda junto aos que o conheciam. Certa vez, os ferroviários da Estrada de Ferro Leopoldina entraram em greve por melhores salários. Os poderosos, que eram contra o movimento grevista, tentaram promover a derrocada da mobilização. Em defesa dos ferroviários, Dr. Ladário pôs-se diante de uma locomotiva dizendo que para furar a greve teriam que passar com a composição sobre o seu corpo. O maquinista não seguiu viagem com o trem e aderiu à greve que continuou e os ferroviários conseguiram o aumento salarial desejado.

Fumante inveterado, acendia um cigarro atrás do outro, sempre usando uma piteira que era presa ao dedo. Um dia, um garoto lhe perguntou: “Doutor! Por que o senhor acende um cigarro atrás do outro?” – “É porque não posso fumar todos de uma vez só”, respondeu com bom humor.

Quando Dr. Ladário de Faria faleceu, seus corpo foi levado de trem, de sua residência, no bairro Porto Velho, até a Estação de São José, para o sepultamento no Cemitério do Santíssimo. Toda a classe ferroviária de Além Paraíba se fez presente ao féretro, homenageando assim o seu grande defensor.

Segundo Maria Luísa de Faria, saudosa filha do ilustre médico, o reino de seu pai não era este. “Seu reino era o do amor ao próximo”, disse certa vez a filha dileta. Esta afirmativa diz bem quem foi Dr. Ladário de Faria, podendo ser acrescentado de que seu reino também era o da Justiça e da Coletividade.

(*) Texto de Flávio Senra – Transcrito do semanário ALÉM PARAHYBA, edição nº 307, de 10/01/2005.