quinta-feira, dezembro 12, 2024
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03 de dezembro de 1930: uma tragédia ocorrida no bairro de Porto Novo com 29 mortos

Na manhã desta sexta-feira, 02 de dezembro, a redação do Jornal Além Parahyba recebeu a visita do estimado José Luiz, repórter da Rádio Juventude FM, que fez uma entrevista com o editor do jornal Flávio Senra que foi veiculada no programa “Bom Dia 95” que é conduzido por um dos mais competentes comunicadores do país, o alemparaibano Jorge Luiz, ex-Rádio Globo e outras emissoras cariocas.

O motivo da visita-entrevista veio de um fato ocorrido nas terras alemparaibanas no dia 03 de dezembro de 1930, portanto comemorando 92 anos amanhã, sábado (03): a tragédia ocorrida no bairro de Porto Novo, mais precisamente onde está instalado uma agência bancária, que resultou na morte de 29 pessoas, deixando dezenas de feridos, que foi a explosão de um paiol de munição das forças revolucionárias naquela época que lutaram para depor o então presidente da República Washington Luíz.

Em 15 de agosto de 2018, uma reportagem sobre o fato foi veiculada no Jornal Além Parahyba, edição nº 1011, dando detalhes da tragédia. A reportagem, com o título “MHCN é presenteado com livros de História e duas páginas de revista com relato sobre tragédia ocorrida em Porto Novo”, relata o generoso presente que o professor José Geraldo Esquerdo fez do Museu de História e Ciências Naturais, instituição digirida pelo também professor André Martins Borges, de vários livros e uma página dupla da extinta Revista da Semana, edição de 13/12/1930, onde está o relato da tragédia.

Com a intenção de levar ao público leitor mais detalhes sobre o ocorrido há 92 anos passados, abaixo levamos  público leitor do ALÉM PARAHYBA a reportagem, em inteiro teor, do que foi publicado naaquela edição do veículo de comunicação alemparaibano…

MHCN é presenteado com livros de História e duas páginas de revista com relato sobre a tragédia ocorrida em Porto Novo

Por Flávio Senra

O Museu de História e Ciências Naturais recebeu, na semana passada, um generoso presente do professor José Geraldo Esquerdo, um entre os poucos educadores alemparaibanos interessados no resgate e na divulgação da história de Além Paraíba.

José Geraldo doou vários livros de História, em verdade uma completa biblioteca, de seu acervo pessoal para a instituição alemparaibana dirigida pelo também professor André Martins Borges, e não bastasse, junto aos livros foi doada uma página dupla da extinta Revista da Semana, edição de 13/12/1930, onde está registrada a grande tragédia ocorrida no bairro de Porto Novo quando da Revolução de 1930.

Registra-se, por sua posição estratégica havia sido instalado em Além Paraíba naquela época, no bairro de Porto Novo, ao lado do então Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais, a seguir Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE) e hoje Banco Itaú, um depósito de munições das forças revolucionárias que explodiu, causando a morte de 29 pessoas, entre estas o major Manoel Lerac, deixando ainda feridas outras vinte e sete.

Entre as testemunhas da tragédia, estava o pastor Almerindo Luiz Pereira, cujo relato, que teve como fonte o jornal Estado de Minas, pode ser encontrado no blog “Além Paraíba História”, do professor e historiador alemparaibano Mauro Luiz Senra Fernandes, cujo teor transcrevemos abaixo:

“… Eram exatamente 15 horas do dia 3 de dezembro de 1930. Um grande estrondo, de proporções catastróficas, ecoou na cidade. No momento, eu estava nas oficinas. A Leopoldina deu os três longos apitos de socorro. Todos os operários saíram correndo em direção a Porto Novo. Os bombeiros da Leopoldina, treinados como eram, partiram com a máquina especial, já com a pressão de vapor para funcionar de imediato, com mangueiras e tudo mais, para prestar os primeiros socorros, isso porque o incêndio ameaçava todo o quarteirão. No caminho íamos encontrando pessoas feridas em estado desesperador, sendo conduzidas em padiolas, para o Hospital. Chegamos ao local, dois prédios tinham sido demolidos com a violência da explosão. Um deles era do Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais. O cheiro de carnes queimadas era insuportável. Que quadro terrível! Na rua, em frente ao local da explosão, vejo um homem morto, o carroceiro, e um burro com o pescoço decepado, ao lado de uma carroça em pedaços. Os estilhaços das portas de aço mataram muitas das pessoas que passavam na hora pelo local. Na fábrica de tecidos onde trabalhavam o meu pai e mais três irmão, foi impressionante o desespero. Com o deslocamento do ar, provocado pela explosão, todos os vidros, não só da fábrica de tecidos, como dos torreões da estação e de todos os prédios que distavam do local num raio de quinhentos metros, foram estilhaçados. Pensando que fosse a caldeira da fábrica de tecidos que havia explodido, entraram em pânico moças e senhoras aos gritos, algumas com desmaio, num clima de tensão e desespero.

Com o trabalho incessante de centenas de operários, dia e noite, removendo os escombros, iam sendo retirados os cadáveres, alguns irreconhecíveis, pelo estado que ficaram com o impacto da explosão. Um militar de alta patente do exército, que estava assentado próximo à carga de dinamite, juntamente com a sua esposa, desapareceram. Viam-se na cidade, repórteres de todo o Brasil e das agências internacionais de notícias. Segundo informações de supostas causas, afirmaram algumas das pessoas, na época do acidente, que a explosão foi causada pelo fechamento de uma caixa de madeira, quando uma banana de dinamite foi detonada pela ponta de um prego que se desviou da base do caixote. A carga de dinamite estava sendo devolvida aos proprietários de pedreiras, material bélico que não tinha sido usado nos dias da revolução. Balanço da tragédia: vinte e nove pessoas, de ambos os sexos, perderam a vida tragicamente e outros tantos ficaram deformados e inválidos. Muitos corpos ficaram “insepultados”, porque desapareceram com a explosão, sendo alguns atirados no Rio Paraíba e seus fragmentos arrastados pelas águas. No dia seguinte assistimos às cerimônias do maior cortejo já realizado em todo o Estado de Minas Gerais”.

As fotos que são mostradas na reportagem estão inseridas na página dupla da Revista da Semana que foi doada para o Museu de História e Ciências Naturais.