sábado, outubro 12, 2024
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Minas já acumula mais de 1,25 milhão de casos de dengue e especialista alerta para nova epidemia

O número de casos confirmados no Estado quadruplicaram em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo boletim epidemiológico do governo de Minas.

A proximidade do período chuvoso, que se inicia no próximo mês, traz uma sensação de alívio para os mineiros que vivenciaram recordes de dias secos. Porém, a fase pode ser marcada por mais uma epidemia de dengue em um ano que já acumula, até 9 de setembro, 1,25 milhão de casos confirmados em Minas Gerais, o equivalente a mais de quatro vezes os adoecimentos registrados no mesmo período de 2023, quando foram 279 mil registros. Especialistas alertam que as ondas de calor que assolam o Estado criam um ambiente propício para a preservação dos ovos gerados pelo Aedes aegypti no início de 2024, quando foi registrado o maior surto da doença no Estado. O período chuvoso, historicamente, começa em outubro e termina em março.

Aliado ao alto número de casos e à chegada da chuva, em Belo Horizonte, a cobertura vacinal para o público-alvo está abaixo da expectativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 95%. Entre 8 e 14 anos, a cobertura é de 31,4% para a primeira dose da Qdenga e 11,4% para a segunda dose. A reportagem consultou um laboratório particular de BH e constatou que a imunização completa contra a dengue é de R$ 738 (caso a pessoa adquira o combo das duas doses; apenas uma dose custa R$ 436).

O infectologista Leandro Curi explica que as altas temperaturas e o tempo chuvoso, que favorecem o acúmulo de água em locais fechados e recipientes, são a combinação ideal para a eclosão dos ovos fertilizados. “Os ovos gerados na estação anterior podem eclodir nas próximas chuvas que virão, e taxas altas de dengue podem acontecer novamente, ainda este ano. Isso chega a ser assustador e é um momento para se temer sim”, ressalta. De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), uma fêmea pode gerar mil ovos ao longo da vida, e esses podem sobreviver por até 450 dias — mais que um ano.

Em nove meses, o Estado acumulou 984 mortes em função do agravamento da arbovirose. O número é cinco vezes maior que as 174 registradas entre janeiro e 11 de setembro do ano passado, conforme o boletim epidemiológico da Secretaria do Estado de Saúde (SES-MG). Curi ressaltou ainda que casos de dengue não acontecem somente em períodos chuvosos, mas durante os doze meses do ano. Ele enfatizou que as ações relacionadas ao combate das arboviroses precisam ser contínuas e não apenas em épocas de epidemia. “Os governos estão falando pouco sobre isso”, disse. Por outro lado, o governo de Minas informou que segue monitorando o número de casos confirmados, além de revisar planos de contingência das arboviroses. Além disso, a SES-MG garantiu que qualifica profissionais e conta com o auxílio do governo federal.

Baixa adesão à vacinação

O infectologista Leandro Curi afirmou que a salvação do Brasil em relação ao combate à dengue é a vacinação. No entanto, a solução ainda não é realidade, já que a farmacêutica que produz a vacina não consegue suprir a necessidade do país. “Há 30 anos lutamos contra essa arbovirose, tentando extinguir o vetor e, até o momento, não conseguimos. E agora, temos à disposição a vacina Qdenga, que é muito segura e impede a formação de sintomas graves e a mortalidade”, acrescentou ele. No entanto, mesmo aqueles que podem receber o imunizante não estão comparecendo aos postos de saúde. Das 117 mil doses da vacina Qdenga recebidas em Belo Horizonte, 73 mil doses foram aplicadas — 54 mil equivalentes à primeira dose e 19 mil para a segunda. Já no Estado, foram aplicadas 206.486 doses (1ª e 2ª doses) de vacinas em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. No total, 675.076 pessoas podem receber a imunização. “A primeira dose já é muito forte contra a dengue, então, se a vacina está disponível, que vacinemos”, ressalta Curi. Conforme a empresa Takeda Pharma, farmacêutica japonesa que fabrica a Qdenga, o público-alvo pode abranger pessoas de 4 a 60 anos. A aplicação em duas doses pode ser feita em um intervalo de três meses. Com relação à não disponibilização do imunizante para todas as pessoas que têm entre 4 e 60 anos, o Ministério da Saúde alega que a farmacêutica tem capacidade limitada de produção da Qdenga.

Cuidados a tomar:

Segundo o infectologista, além das ações de autoridades governamentais, é importante que o indivíduo aja com responsabilidade em prol da própria saúde, já que as arboviroses podem agravar e, em alguns casos, matar. Entre os cuidados que a comunidade deve adotar estão:

·         Fazer uso de repelente que tenha Icaridina 20-25% ou DEET 10-15% na formulação, e aplicá-lo a cada hora pelo corpo e em lençóis de cama, por exemplo;

·         Utilizar mosquiteiros e telas nas janelas, o que evita a entrada do mosquito;

·         Manter as lixeiras tampadas e protegidas da chuva;

·         Lavar e trocar a água de bebedouros de animais e aves pelo menos uma vez por semana;

·         Limpar as calhas e a laje de casas;

·         Colocar areia nos cacos de vidro no muro;

·         Cobrir piscinas e tampar os ralos;

·         Limpar a bandeja externa da geladeira e a bandeja coletora de água do ar-condicionado;

·         Em caso de persistência de sintomas de dores no corpo, cabeça e febre, procurar ajuda médica.

O que diz a Secretaria de Estado de Saúde?

Desde o fim do decreto de emergência em saúde pública, no início de julho, a SES-MG tem realizado diversas atividades para se preparar para o próximo período sazonal, que começa no período chuvoso, geralmente em dezembro. Entre essas atividades, destacam-se:

·         Revisão das ações propostas no Plano Municipal de Contingência das Arboviroses, visando aumentar a eficácia das iniciativas, especialmente nas fases anteriores à sazonalidade, prevenindo fatores que possam contribuir para o aumento de casos.

·         Realização, nos dias 12 e 13 de setembro, do II Seminário de Preparação e Resposta para o Período Sazonal. O evento teve como objetivo qualificar médicos e enfermeiros com perfil de multiplicadores para capacitar outros profissionais em seus territórios, garantindo assistência adequada aos pacientes com arboviroses em nível regional. Dessa forma, a qualificação será estendida a toda a rede de atenção, desde Unidades Básicas de Saúde até Unidades de Pronto Atendimento em todo o estado.

·         Início em setembro do segundo ciclo de qualificação sobre o manejo de pacientes com arboviroses e oficina sobre o Plano de Contingência das Arboviroses em todas as macrorregiões de saúde, com o objetivo de replicar o conhecimento adquirido no seminário e preparar os municípios para a próxima sazonalidade.

·         Também em setembro, início da qualificação de supervisores de campo para as referências técnicas das regionais de saúde, que será replicada nos municípios, com o intuito de aprimorar as atividades de controle vetorial. Além das capacitações presenciais, em breve será disponibilizado no ambiente AVA/SES um curso sobre as atividades desenvolvidas em campo pelos Agentes de Combate a Endemias (ACEs).

·         Disponibilização contínua do curso de atualização sobre o manejo clínico de pacientes com dengue, Zika, chikungunya e febre amarela, destinado aos profissionais de saúde que atendem a população afetada por essas doenças. O curso aborda sintomas, sinais de alarme e gravidade, diagnóstico diferencial, tratamento, entre outras informações relevantes.

·         No que se refere às ações de controle vetorial, a SES atua na prevenção da transmissão das arboviroses de várias formas. Oferece apoio aos municípios nas atividades no território e monitora periodicamente os índices de infestação do Aedes aegypti através do LIRAa/LIA. Além disso, distribui inseticidas e equipamentos para as Unidades Regionais de Saúde (URS), apoiando o controle de vetores nas fases larvária e adulta. A SES também trabalha na ampliação do uso de ovitrampas nos municípios para monitoramento do mosquito vetor e direcionamento das ações de controle, além da implementação da política de drones para auxílio no controle vetorial em regiões de difícil acesso. Para o próximo período sazonal, a política de descentralização do UBV será implementada, visando atender um maior número de municípios que necessitem do serviço.

·         Com o apoio do Ministério da Saúde, será realizado um evento para avaliar a epidemia nos municípios de grande porte, focando na reorganização do sistema de saúde e controle vetorial, preparando-os para o próximo período sazonal. Além disso, em parceria com o Ministério da Saúde, será iniciado um projeto de implementação de novas tecnologias para controle vetorial, que poderão contribuir para a redução de casos e óbitos por arboviroses nos municípios.

·         A SES/MG realiza diversas ações de vigilância, fundamentais para identificar alterações no comportamento das arboviroses e permitir a implementação de ações no momento oportuno. Essas ações incluem o monitoramento constante dos casos, especialmente dos casos graves, incidência e óbitos por arboviroses em Minas Gerais. Esses dados são divulgados semanalmente no boletim e no painel de vigilância das arboviroses. A SES também apoia os municípios na investigação de óbitos e está aprimorando os painéis de arboviroses para disponibilizar dados importantes que auxiliem os municípios no acompanhamento do cenário e na implementação de ações de enfrentamento.

·         Condução de reuniões periódicas do Comitê Estadual de Enfrentamento das Arboviroses (CEEA), para deliberar sobre o cenário epidemiológico no estado e as ações a serem executadas por cada eixo do comitê.

·         Realização de reuniões com as equipes técnicas regionais para alinhamento estratégico.

·         Provisão de recursos financeiros por meio de Resoluções Estaduais, permitindo que os 853 municípios fortaleçam suas atividades de enfrentamento às arboviroses.

·         Desenvolvimento de capacitações para aprimorar os processos de trabalho relacionados à vigilância, prevenção e controle das arboviroses.

·         Monitoramento e execução das ações estabelecidas no Plano Estadual de Contingência das Arboviroses, além de suporte na elaboração e acompanhamento dos Planos Municipais de Contingência (PMC).

Fonte: O Tempo – Por Luana Queiroz