sexta-feira, março 21, 2025
DESTAQUELOCAIS

Esporte Clube Vila Nova poderá se tornar Patrimônio Histórico, Cultural e Esportivo de Além Paraíba

O ano era o de 1947, mais precisamente o dia 04 de julho, coincidentemente o dia da independência dos Estados Unidos da América.

Liderado pelo alemparaibano Pedro Arlindo Barbosa, na residência do mesmo, um grupo de desportistas se reuniu com o firme propósito de fundar um clube de futebol. Vale ressaltar, a maioria dos integrantes deste grupo era formada de ferroviários da Estrada de Ferro Leopoldina, e lá estavam: Ivan  Rodrigues Sales, Américo Xavier, Sebastião Cândido Leite, Antônio Ângelo Pittassio, Francisco Fernandes Rodrigues, Antônio Celestino, Lauro Vieira Jordão, Sílvio Caçador, Hércules Mendes Portela, Norberto Gonçalves, Ademar Rodrigues Sales, Manoel Bandeira, Milton Domingos dos Santos, Alberto dos Santos, Antônio Torres, José Brandão Senra, João Alves do Carmo, Alchides Vitorino Baguidá, Orlando Brazilino e outros.

Iniciando os trabalhos, Américo Xavier, ressaltando que o clube a ser criado teria suas raízes fincadas no bairro denominado Vila Santa Rita, propôs que o mesmo deveria ser nominado Esporte Clube Vila Nova, proposta que foi aceita de forma unânime.

Logo a seguir, os presentes escolheram os nomes que iriam compor a primeira diretoria da instituição esportiva, tendo assumido como presidente Pedro Arlindo Barbosa. Os demais nomes de diretores escolhidos foram: José Brandão Senra (vice-presidente), Ivan Rodrigues Sales (primeiro secretário), Milton Domingos dos Santos (segundo secretário), Américo Xavier (primeiro tesoureiro), Antônio Torres (segundo tesoureiro), Sebastião Cândido Leite (diretor técnico) e Silvio Caçador (diretor social).

Composta a diretoria, os presentes deram início à uma discussão sobre quais seriam as cores do pavilhão do clube, bem como das camisas que seus atletas vestiriam. Por sugestão do diretor Sebastião Cândido Leite, as cores seriam o preto e o branco que vigoram até os dias atuais.

As discussões não ficaram por aí. Pedro Arlindo, primeiro presidente da nova instituição desportiva alemparaibana, designou uma comissão, composta por Sebastião Cândido Leite, Ivan Rodrigues Sales e Américo Xavier para a elaboração do estatuto social do clube. Ao mesmo tempo, fez um apelo a todos os presentes que organizassem uma campanha por todo o bairro com a finalidade de formar um quadro social que garantisse a sustentação financeira do clube recém-formado, marcando para o dia 21 do mesmo mês para uma nova reunião onde todos deveriam estar presentes.

Uma ata dessa primeira reunião foi lavrada pelo primeiro secretário Ivan Rodrigues Sales, que após lida e aprovada foi assinada por todos os presentes.

A ata desta reunião encontra-se devidamente registrada no Cartório de Registro de Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas de Além Paraíba.

De lá para cá, passados quase 78 anos, muitas histórias e fatos de real relevância se desenrolaram naquele clube que representa importante página da história não só do desporto alemparaibano, mas também do bairro de Vila Santa Rita e de sua gente.

No terreno onde foi e está até os dias de hoje fincada a sua sede, gentilmente cedida pelo saudoso alemparaibano Hélio Couto Gomes, na margem de seu campo de futebol, foi construído uma espécie de barracão onde foram realizados memoráveis bailes de forró. O local, que com o passar dos anos acabou sendo apelidado de Curral das Éguas, isto devido um espaço onde equinos eram abrigados, era palco de muita animação nos finais de semana onde reinava a harmonia e a paz entre seus frequentadores. A estes estava normatizado que era proibido dançar de rosto colado, gestos considerados como obscenos no dançar entre os casais, embebedar-se ao extremo, sem contar que a entrada calçando chinelo ou tamanco era terminantemente proibido.

Tal proibição, dizem os mais antigos, acabou resultando numa situação que viralizou por toda cidade e ainda é lembrada por muitos. Um conhecido e popular ferroviário residente no bairro, conhecido pelo apelido de Martinica, certa vez lá chegou acompanhado de sua esposa. Como ele estava calçando chinelos, sua entrada foi impedida devido as regras que eram seguidas à risca. Num lampejo, Martinica, acatando a determinação do responsável pela entrada no baile, deixou o seu par de chinelos na entrada e seguiu adentro dizendo: “A regra nada fala em proibir a entrada de quem está descalço, portando sigo essas regras e o senhor que também o faça”. Naquela noite, Martinica e a sua esposa dançaram até quase o raiar do dia.

Uma modalidade esportiva pouco difundida nos dias atuais por anos seguidos movimentou os finais de semana no Esporte Clube Vila Nova. Era a prática da Malha, um esporte que reunia em especial um forte segmento da classe ferroviária, com muitos adeptos advindos de várias cidades da região. A quadra de malha estava localizada à margem do campo de futebol, e muitas das vezes seus torneios duravam um dia inteiro.

Mas a prática do futebol foi e sempre será o mote principal da existência do alvinegro da Cidade Alta, como é denominada a junção dos bairros de Vila Santa Rita, Esplanada Santo Antônio, Cantão, Vila Caxias e arredores. A prática do esporte bretão trouxe para o Esporte Clube Vila Nova muitas vitórias e sucesso, e mostrou a dedicação e a garra de um povo que muito se orgulha do que aquela agremiação representa em suas vidas.

Raros eram os finais de semana, em especial os domingos, que o Vila Nova não recebia delegações de clubes de outras cidades da região, algumas até mesmo bem distantes, para a disputa de partidas amistosas ou torneios idealizados pela Liga Desportiva local e até mesmo de outras cidades. Vitórias e conquistas foram alcançadas dentro das quatro linhas, assim como também foram digeridas algumas derrotas e decepções que nunca deixaram seus atletas e torcedores cabisbaixos. Ganhar era preciso, mas necessário também era enfrentar os momentos das adversidades.

A esperança por novas conquistas foram determinantes no dia-a-dia do clube, valendo ressaltar que o amor e o carinho de toda Além Paraíba sempre foi crescente mesmo nos momentos mais difíceis, como na noite do dia 09 janeiro de 2012, ocasião em que a força das águas do Rio Limoeiro invadiu grande parte da cidade trazendo destruição e morte, inclusive a sede do Esporte Clube Vila Nova. A tragédia destruiu praticamente todos os documentos e fotografias colecionadas anos seguidos contando a história do alvinegro alemparaibano, restando apenas o que está documentado na memória de alguns. Das poucas imagens que existem, a maioria faz parte do arquivo do Jornal Além Parahyba, graças a um trabalho desenvolvido alguns anos antes daquele desastre por Flávio Senra, editor do referido veículo de comunicação.

Infelizmente, eis que agora surge uma situação que pode desencadear o fim de uma bela página da história de Além Paraíba. Trata-se de um possível leilão de todo o espaço ocupado pelo Esporte Clube Vila Nova, que deve ocorrer no dia 27 de janeiro próximo. E como evitar que isso aconteça? Ninguém apresenta uma resposta palpável, seja do lado do clube ou da parte litigante promotora da situação.

Ao tomar conhecimento de tal fato, um membro da edilidade alemparaibana de primeiro mandato, de nome Lerisson Lameira Ribeiro, o Lerinho, seguindo os passos de seu pai, o saudoso ex-vereador João de Deus Ribeiro, enxergando que sua função como representante do povo não poderia deixar de auxiliar na busca de uma solução nessa grave situação que afeta diretamente não apenas um clube desportivo, mas também todo um contexto da história do município, dá o primeiro passo no sentido de conseguir-se uma solução ao problema.

Nesta próxima segunda-feira, dia 20 de janeiro, tão logo o expediente da sede do Legislativo Municipal inicie suas atividades, Lerinho estará protocolando uma Indicação ao Poder Executivo Municipal Alemparaibano, representado pelo prefeito Dr. Paulo Henrique Marinho Goldstein, propondo que este leve até a Câmara Municipal um Projeto de Lei que torne o Esporte Clube Vila Nova, sua sede e área esportiva em Patrimônio Histórico, Cultural e Esportivo de Além Paraíba.

Segundo o vereador Lerinho, sua Indicação já conta com o apoio de alguns colegas vereadores que entrariam nesta luta como co-autores. São eles: Pastor Paulinho, Fernando Cruz, Monica da Motinha, Gilsinho Ribeiro e Fábio Neto. Acompanhando os passos dos vereadores, foi sugerido à diretoria do Vila Nova que protocole na Prefeitura Municipal, já nesta segunda-feira, o pedido de tombamento em paralelo.

Ressalta-se que em momento algum os membros da edilidade alemparaibana desejam causar danos ou prejuízos à parte litigante que provocou a medida judicial que acabou levando até o fato que hoje é comentado por todos os cantos da cidade. Entretanto, é mais que certo que se o leilão venha acontecer uma importante parcela da história e da cultura de Além Paraíba estará sendo destruída para sempre. Agora, o que resta é esperar…

Abaixo, ata da criação do Esporte Clube Vila Nova e fotos que fazem parte do arquivo do Jornal Além Parahyba cujos originais foram destruídos na tragédia de janeiro de 2012.