Excesso de cabos e fios é problema que se arrasta há anos em Além Paraíba
Poder público sempre foi omisso quanto a fiação desordenada que se multiplica diariamente.

Comum na maioria das cidades brasileiras, a fiação aérea em Além Paraíba continua sendo alvo de transtornos e preocupação por parte da população. Quem circula pela cidade se depara facilmente com postes abarrotados de fios de telefonia, cabeamento de internet e de energia elétrica.
Além da poluição visual, a desordem na fiação representa riscos à segurança e compromete a infraestrutura urbana, valendo ressaltar que se desconhece que o poder público instalado no município, seja do Executivo ou do Legislativo, já tenha tomado qualquer medida no sentido de fiscalizar e normatizar o ordenamento da fiação existente.
A situação e o imbróglio envolvendo a fiscalização e reparos da fiação emaranhada se arrasta há anos. Numa rápida verificação em poucas ruas alemparaibanas, o que se vê é uma verdadeira bagunça. Além da poluição visual, a instalação desordenada representa riscos em dias de chuvas intensas, aumentando as chances de rompimentos, curtos-circuitos e acidentes elétricos.
De acordo com informações oficiosas, a responsabilidade pela fixação e preservação dos cabos, fios e cordoalhas de acordo com as normas técnicas é das próprias prestadoras de serviços de telecomunicações, assim como a operação, manutenção e correção de eventuais irregularidades, incluindo os custos. E ao que parece nenhuma empresa assume tal responsabilidade, daí é hora dos poderes constituídos no município darem início, através de notificações, multas ou até mesmo a obrigar as empresas responsáveis pela retirada dos cabos.
Fiação subterrânea é alternativa utópica
Recentemente, numa entrevista concedida ao jornal juiz-forano Tribuna de Minas, a arquiteta e urbanista Miriam Dias, projetista da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) há quase 30 anos, analisou que a fiação desordenada compromete a qualidade do envio dos sinais elétricos e podem se tornar um risco à segurança da população.
“Muitos estão expostos aos desgastes naturais por falta de manutenção adequada e acúmulo até mesmo de fios não energizados que não foram devidamente descartados. Podem também se tornar um risco à segurança por estarem expostos às intempéries, situações que fazem árvores caírem e romperem os fios energizados, ou mesmo acidentes automobilísticos que derrubam postes e geram instabilidade ou interrupção do envio de energia, podendo ocasionar na queima de importantes equipamentos e aparelhos eletrodomésticos”, relatou.
Para ela, a qualidade de vida da população também entra em cheque quando o assunto é a fiação desordenada. “A situação contribui para a poluição visual, que contribui para despertar um sentimento de desordem, de desqualificação da paisagem urbana e repulsa pelos espaços de ocupação pública”, analisa.
No entanto, a especialista acredita que o problema é complexo e envolve múltiplos atores para que seja de fato solucionado – cenário que parece distante na maioria das cidades brasileiras. “Há muitos atores envolvidos nas consequências da condição atual da fiação urbana. Um bom planejamento urbano pode mitigar o problema da fiação desordenada nos espaços públicos por meio de diversas estratégias integradas, envolvendo regulação, infraestrutura, tecnologia e gestão eficiente.”
Ela explicou que a transferência da fiação para o subsolo seria a melhor opção para uma cidade mais segura e com maior qualidade de vida. “Esta seria uma das principais soluções para o crescimento desordenado da fiação” explicou. Porém o custo das obras ainda é alto. “Jamais será possível de se executar sem que aja uma séria parceria entre o poder público e a iniciativa privada, com a contribuição da população, para que as soluções sejam implantadas de forma progressiva, atacando primeiramente os pontos críticos.”
Apesar dos desafios, a pesquisadora citou algumas cidades que já adotaram leis e planos de planejamento urbano a fim de diminuir os riscos e a poluição visual causada pela colocação desordenada de fios. Segundo ela, em São José dos Campos, São Paulo, uma legislação municipal foi criada para ordenamento da fiação e remoção dos cabos inutilizados, estabeleceu prazos para as concessionárias adequarem seus postes e priorizou áreas centrais e vias comerciais nos projetos de enterramento gradual da fiação, sendo um dos projetos mais avançados de modernização da infraestrutura urbana do Brasil, com foco em organização e tecnologia.
Além da cidade paulista, Curitiba, no Paraná, as áreas históricas e turísticas se tornaram prioridade, aliando planejamento urbano e políticas públicas inovadoras, sendo referência em infraestrutura organizada. Miriam também cita Medelín, na Colômbia. O local passou por uma grande transformação urbana, que incluiu um plano agressivo de modernização da infraestrutura elétrica, substituindo postes sobrecarregados e criando um projeto de cidades inteligentes, incorporando postes multifuncionais com iluminação pública e tecnologia 5G.