sábado, maio 4, 2024
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Muriaé transforma espaços públicos em telas para obras de seus artistas

Iniciado em setembro do ano passado, projeto de pintura com a participação de artistas locais já renovou 17 áreas na cidade.

Circular pelas ruas de Muriaé, município da Zona da Mata com cerca de 110 mil habitantes onde nasceu, não é mais a mesma coisa para a artista plástica, formada em artes e design pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Talita Kutianski. Ela é uma das integrantes do grupo convidado para trazer mais cor e identidade para a cidade, em projeto desenvolvido pela Prefeitura, que está transformando paredes e escadas de espaços públicos, antes acinzentadas, em telas para criação de verdadeiras obras de arte. Iniciada em setembro do ano passado, a iniciativa já renovou 17 áreas, entre elas, o túnel de acesso ao Bairro Dornelas.

“Era um desejo muito grande que eu tinha de pintar o túnel, porque é um dos maiores lugares de Muriaé, além de ser passagem para muita gente. Se não me engano, um ano e meio antes, lancei um projetinho no Instagram: como seria se você acordasse e a cidade tivesse mais cor?”, observa a artista que selecionou três espaços públicos e aplicou sobre eles o desenho que fez.

“Queria saber a reação das pessoas, porque era um desejo meu ver a cidade colorida. Queria saber se as pessoas realmente se importam com isso, porque sabemos que em cidades menores não temos muito essa cultura de consumir arte, principalmente a arte de rua. E quando postei, as pessoas ficaram enlouquecidas”, conta Talita.

Mais cor, mais trabalho

Por causa de seu projeto virtual, ela foi convidada ao lado de mais três artistas locais para ajudar na pintura do túnel, que, segundo ela, foi uma construção bastante colaborativa. A artista acredita que a oportunidade ampliou ainda mais seus horizontes e também o número de clientes, porque foi contratada para vários outros trabalhos particulares, além de pintar o muro de uma escola. Talita é só elogios ao prefeito de Muriaé, Marcos Guarino, pela sua sensibilidade com temas relacionados à cultura. Foi dele mesmo a ideia de trazer mais alegria para as ruas da cidade, inspirado pelo tempo que viveu no Rio de Janeiro.

“A cor e o desenho alegram e incentivam os artistas, além de deixarem os locais mais alegres, bonitos, humanos e agradáveis visualmente. A cultura é uma forma de melhorar a qualidade de vida e a forma de enxergar o mundo e suas diversidades. No começo não foi fácil, sofremos resistências, algumas pessoas tiveram a ingenuidade de interpretar as imagens de uma forma preconceituosa, não enxergaram o que para eles era novidade. Mas continuamos e hoje não temos mais resistência, porque viram o resultado”, afirma o prefeito.

Os espaços públicos contemplados pelas pinturas são o Bairro Gaspar, a escada do Bairro Aeroporto, a escada do Bairro Fardelas, o túnel do Bairro Dornelas, o Distrito de Pirapanema, o muro do Bairro Safira, além do escadão do Centro da cidade, ao lado do antigo Grande Hotel Muriaé, que foi construído no início do século passado. Entusiasmado, Marcos Guarino garante que mais locais da cidade receberão pinturas, ou melhor, obras de arte.

Descoberta de novos artistas fomenta economia criativa de Muriaé

A diretora geral da Fundação de Cultura, Artes e Turismo (Fundarte), Wania Bittencourt Muahad, explica que novos artistas locais foram descobertos durante a realização do projeto. “Muriaé tem um movimento cultural muito bacana. Com as pinturas nos locais públicos, queremos colorir e embelezar cada vez mais a cidade. Para a primeira, trouxemos o Jhonny, que é um pintor profissional de Campos (RJ). Ele convidou artistas da cidade e também preparou outros que agora estão no mercado de trabalho. Nosso objetivo também é a economia criativa. Hoje já estamos contratando esses profissionais”, conta a diretora.

Um desses talentos é João Victor Martins de Oliveira. Ele, que sempre gostou de desenhar, conta que começou porque queria distrair a cabeça enquanto estudava no Instituto Federal. Não parou mais. Pintou a parede da casa de uma irmã e, quando foi para o Rio de Janeiro visitar outra, também deixou sua marca por lá. Apaixonado pelas pinturas nas cenas cariocas, retornou a Muriaé e teve a oportunidade de aprender um pouco mais com Jhonny. Hoje ele assina quatro pinturas na cidade.

“Gostamos de ser reconhecidos pelo nosso trabalho. E ser artista no Brasil é bem difícil. Por isso, quando conseguimos sair um pouco dessa curva e recebemos valorização da própria cidade, é muito legal. Fui convidado a expor minha arte e me deram todo o apoio. Ainda hoje vejo meu trabalho e sinto muito orgulho”, revela João Victor.

“A arte na rua é muito importante, porque além de transformar o espaço público, ela realmente tem esse poder maravilhoso de despertar sentimentos na gente. E quando ela carrega mensagens positivas e histórias, pode salvar as pessoas”, observa Talita, muito emocionada. Afinal, ela é um exemplo disso. Ao ser convidada pela Prefeitura, enfrentava um momento pessoal desafiador. “A arte me salvou.”

Cultura ao alcance de todos

A Fundação de Cultura, Artes e Turismo (Fundarte) mantém cinco escolas que ensinam e incentivam o desenvolvimento de novos talentos em Muriaé nas áreas de artes plásticas, audiovisual, música, dança e teatro. A diretora Wania Muahad explica que a meta é alcançar todos os moradores da cidade.

“Tudo que é ensinado na Fundarte, nós levamos para as ruas e para as escolas. Está no nosso planejamento fazer um Corredor Cultural pela Paz nesse mês. Vamos fechar uma rua e levar arte, pintura, grafite, dança, teatro, exposição do audiovisual e música. Como é uma parceria com a Secretaria de Saúde, teremos várias ações com esse foco também. O objetivo é levar e expandir a arte para todos os lugares em nossa cidade”, explica.

Professora de teclado, violão, flauta e canto coral da Escola Municipal de Música Leonel Vargas, Renata Machado Roriz Wan Der Maas acredita que integrar música e arte na formação das crianças faz toda a diferença, e que o resultado do trabalho pode ser visto quando realizam apresentações junto com a banda da Sociedade Musical.

“Recebemos relatos de pais sobre como a arte ajuda na disciplina, na melhora do desempenho na escola curricular. É maravilhoso ver nosso aluno crescer e brilhar fora daqui. Às vezes, há alunos que despontam em outras áreas, não só na música, por causa dos benefícios que ela trouxe para suas vidas. Isso não tem preço”, alegra-se Renata, que há 12 anos atua como professora.

Mãe do aluno da escola de música Fernando do Prado Freire, a artesã Luzinete do Prado Freire observa que sempre notou o interesse do filho e, por isso, insistia para que aprendesse algum instrumento. Ele já passou por aulas de violão, teclado, canto e flauta. Como também é fã de música, ela não ficou para trás e começou a fazer parte do coral Cantare, que pertence à mesma escola de Fernando.

“Foi uma imensa alegria participar de uma cantata de Natal junto com meu filho, que estava se apresentando com o coral infantil. Isso foi um imenso prazer na minha vida. Uma coisa inesquecível. Eu só tenho que agradecer a todos os professores pelo incentivo e apoio. O Luiz Fernando desenvolveu não só na música, mas intelectualmente também. A música abre a mente. Ele é um menino muito feliz, porque faz o que ama. É um orgulho falar que ele é aluno da Escola Municipal Leonel Vargas”, emociona-se a artesã, sem se preocupar com o futuro, porque o presente tem sido mesmo um presente para os dois.

Fonte: Tribuna de Minas – Por Cláudia Castilho Especial Agência Regional