OPINIÃO
Anticristianismo: “Deus te abençoe” – quando a fé cristã vira crime
Por Paulo Briguet (*)
“Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.” (Mt 5, 11)
Durante toda a infância, acostumei-me às últimas palavras do dia, que eram sempre as mesmas, proferidas por minha mãe ou por minha avó: Dorme com Deus. Aquela pequena frase compunha uma fórmula perfeita contra todas as possibilidades do mal.
Não tinha que temer os fantasmas, os demônios ou os ladrões do sono e da paz, pois Deus estava comigo.
O tempo passou; eu cresci, perdi a fé e afastei-me de Deus. Mesmo com meu ateísmo — ou talvez em decorrência dele — sempre que as encontrava ou falávamos por telefone, minha mãe e minha avó repetiam as variações da mesma frase… Dorme com Deus. Fica com Deus. Deus te abençoe. Deus te proteja. Deus te crie.
A despeito de minha falta de fé naquela época, eu escutava a voz de Aracy e da Vó Maria até nas horas mais trevosas, de modo que as suas frases — pequenas preces de amor — passaram a constituir uma espécie de consolação espiritual.
Dormir com Deus não consistia em um artigo de crença; era parte do meu ser. Eu me considerava totalmente materialista, e alardeava não acreditar na existência da alma; mas em que outro lugar essas palavras poderiam existir de maneira perfeitamente contínua e inteligível? Sem Deus, os ateus não existiriam.
Mesmo nas minhas fases de ateísmo mais convicto, jamais pensei em questionar minha mãe ou minha avó por me desejarem as bênçãos de Deus. Eu compreendia perfeitamente que as suas jaculatórias eram expressões de um amor puro e incondicional: elas de fato amavam aquele comunistazinho idiota. Hoje tenho certeza de que as orações de Aracy e Maria salvaram a minha vida.
Mas percebo que hoje em dia os ateus
esquerdistas não são mais tolerantes assim
Na semana passada, quando um voo da Alaska Airlines desembarcou em São Francisco, uma das mecas esquerdistas dos Estados Unidos, a comissária de bordo simpaticamente desejou “uma noite abençoada” (em inglês, “a blessed night”) a uma passageira.
Acontece que a passageira era Clara Jeffery, editora-chefe da revista Mother Jones, uma publicação esquerdista. Jeffery ficou furiosa e publicou um comentário no X afirmando que a saudação era uma evidência do “nacionalismo cristão em ascensão” no país.
A jornalista então listou uma série de adjetivos que poderiam ter sido utilizados pela comissária. Para Jeffery, teria sido “suficiente” desejar uma noite “ótima, incrível, fabulosa, maravilhosa, fantástica”. Mas abençoada? Isso nunca!
O curioso é que a mesma jornalista não hesitou em usar o nome de Deus e invocar as bênçãos divinas quando uma política esquerdista de sua preferência, a ex-speaker da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, escreveu um artigo sobre a invasão do Capitólio em 2020. Na época, Jeffery escreveu com todas as letras no Twitter: “Deus abençoe Nancy Pelosi por isso”. Para a militante de redação, todos são iguais perante Deus, mas parece que alguns são mais iguais que outros.
A reação da jornalista americana à frase da comissária me fez lembrar um vídeo da intelectual petista Marilena Chaui que circulou recentemente pelas redes sociais. No corte, ela expressava sua revolta diante das manifestações da fé cristã no cotidiano. Disse a professora da USP:
“Uma das coisas que me deixam muito agoniada é quando eu tomo o Uber, e na hora em que eu desço, eu digo: ‘Muito obrigada, boa noite’, e o motorista diz: ‘Fica com Deus’. Então eu sei que ele é fundamentalista. Eu fico desesperada com a ideia de que isso se irradiou por dentro da sociedade de uma maneira tal que o cristianismo terá quantas metamorfoses forem necessárias para se manter!”
Longe de serem casos isolados, as reações da jornalista e da intelectual expressam o ódio profundo que vastos setores da esquerda nutrem pela fé cristã. Hoje, eles se dizem ofendidos quando falamos em Deus; amanhã, vão nos chamar de criminosos. É assim que começa o democídio dos cristãos.
E, no entanto, é meu dever repetir para Chaui e Jeffery as mesmas palavras que eu ouvi de outras duas mulheres e me salvaram a vida: — Fiquem com Deus.
(*) Paulo Briguet é escritor, jornalista, palestrante e professor de literatura.
Fonte: Gazeta do Povo.