quinta-feira, maio 22, 2025
BRASIL E MUNDODESTAQUENOTÍCIAS

Leia antes de espernear / E se Alexandre de Moraes morrer?

OPINIÃO

Por Paulo Polzonoff Jr. (*)

Com o presente texto, encerro a trilogia “E se Fulano morrer?”, que já teve como protagonistas Lula e Bolsonaro. Em minha ingenuidade intencional, achava que os textos seriam um sucesso de audiência e reflexão, mas eles se revelaram mesmo é um sucesso de hostilidade e pequenez. Bem-feito para mim. Quem manda achar que o leitor está disposto a pensar na mortalidade própria e alheia. : -(

Concluo a trilogia, pois, e começo dizendo que, ao contrário de Lula e Bolsonaro, Alexandre de Moraes não tem nada que sugira uma, digamos, partida precoce. Ao contrário. Pelo que se lê na revista New Yorker, o ministro está em forma e pratica muay thai, tendo como sparring ora a democracia, ora a justiça, ora a Constituição, ora a moça do batom. Ou seja, até onde sabemos, Big Alex está fisicamente saudável. Saudabilíssimo.

Tudo isso

Ainda assim, pode morrer. Ora, o antecessor dele, Teori Zavaski, não morreu assim, de repente? Então. O Imponderável de Almeida está sempre rondando. Logo, pode acontecer com Alexandre de Moraes também, ué. Não estou gorando nem profetizando nada. É que coisas acontecem: aviões caem, carros batem, vasos sanguíneos não aguentam a pressão de terem de proteger sozinhos a democracia e se rompem, corações desistem de continuar bombeando sangue que será usado para se tomar decisões inconstitucionais, etc. É a vida. Ou seria a morte?

Mas entendo a reação hostil dos leitores diante da minha proposta. Afinal, é difícil aceitar que, imaginando a morte dessas figuras que temos como poderosíssimas, percebemos que elas não são tudo isso. O que significa que nós também não somos tudo isso. Com ou sem Lula, Bolsonaro, Alexandre de Moraes, eu ou você, o sol continuará despontando no horizonte pela manhã e se pondo à tardinha. Dias ensolarados e de chuva se alternarão. As pessoas continuarão revoltadas e indignadas com isso e aquilo. Mal e bem prosseguirão com sua guerra eterna.

Missão dada é missão cumprida

De qualquer forma, para mim missão dada também é missão cumprida (!) e por isso vou dizer que, se Alexandre de Moraes morrer, imagino jornalistas borrando a maquiagem ao vivo, os políticos de esquerda se descabelando e os de direita dizendo que o Brasil perdeu um grande jurista, enquanto riem por dentro. Imagino ainda que só assim veremos as imagens do aeroporto de Roma e teremos acesso a tudo o que o ex-assessor Tagliaferro tem a dizer.

Haverá ainda obituários que parecerão hagiografias (New Yorker) e haverá obituários críticos, por assim dizer (Economist?). Talvez Alexandre de Moraes vire nome de uma praça que depois será ocupada por cracudos. Em pouco tempo, porém, Alexandre de Moraes será esquecido ou lembrado como piada ou exemplo a não ser seguido: o de alguém que, seduzido pela vaidade e embriagado pelo poder, fez o que fez.

Se o Polzonoff morrer?

Na essência, porém, fecho os olhos com força e nem assim consigo vislumbrar grandes mudanças. Como manda o clichê da ciência política, não existe vácuo de poder e, uma vez enxugadas as eventuais lágrimas, alguém há de ocupar o lugar de Alexandre de Moraes. Eu apostaria em Gilmar Mendes ou em Jorge Messias – na minha imaginação o indicado por Lula para substituir o finado Big Alex no STF.

O que quero dizer com isso é que o mundo não será totalmente melhor nem totalmente pior porque seu ídolo político, ideológico e jurídico morreu ou continua vivinho da silva. E que, em vez de ficarmos imaginando e até desejando essas coisas (você não vai negar que tem quem deseje, né?), cabe a nós aceitarmos e enfrentarmos a realidade de que somos responsáveis por fazer o bem e o certo aqui e agora, na companhia feliz ou infeliz de Lula, Bolsonaro, Alexandre de Moraes e, para quem está se perguntando “e se o Polzonoff morrer?”, minha também. Até quando Deus quiser.

(*) Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor.

Fonte: Gazeta do Povo