sábado, abril 26, 2025
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OPINIÃO

A Revolução do Sub-Emprego / Cabeleireira, pipoqueiro e sorveteiro: o golpe que só o STF viu

Por Paulo Polzonoff Jr. (*)

Era um belo domingo de sol em Brasília. Ou, como diria William Bonner, “até as nuvens ficaram mais bonitas” naquele dia. Lula estava em Araraquara. Fux estava em Dubai e Alexandre de Moraes se deliciava com o famoso sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo, mêo. Em frente aos quarteis da capital, porém, um terrível golpe de Estado estava sendo gestado. (Tá coroando! Tá coroando!).

— Seguinte. Vamos avançar pela Praça dos Três Poderes — instruiu a líder do grupo, a perigosa terrorista extremista direitista fascista bolsonarista Debora Rodrigues dos Santos, também conhecida pelas alcunhas de Cabeleireira, Tesoura Ligeira e L’Oreal. — Você, Carlos, comanda o ataque ao Planalto, ok?

Zea mays everta

Girando maniacamente a manivela de sua pipoqueira Kalashnikov, Carlos Antônio Eifler (alcunhas: Amidão, Popicor e Zea mays everta) fez que sim com a cabeça, enquanto preparava mais uma baciada de munição. Em sua mente, ele já tinha tudo planejado: granadas de pipoca bem salgadinha manteriam as defesas mais jovens nutritivamente entretidas enquanto o golpe se desenrolava em volta delas, como uma série da Netflix.

— E você, Otoniel… Otoniel! Tô falando com você. Prestenção! Isso daqui é um golpe de Estado, não um domingo no parque, não — disse Tesoura Ligeira para Otoniel Francisco da Cruz, mais conhecido como Sorveteiro, Zero Kelvin e Ai Que Saudade do Cornetto de Rum com Passas.

— Já sei. Eu fico responsável por tomar o Congresso.

— Isso mesmo.

Bolinhas de gude e estilingues

— Mas não é justo. Eu tenho a Câmara e o Senado pra ocupar. E, dependendo da temperatura, minha munição vai derreter toda — reclamou ele. Como toda líder revolucionária, Débora pensou em punir a ousadia do sorveteiro com o pelotão de fuzilamento. Mas aí pensou que deve ser difícil fuzilar alguém com bolinhas de gude e estilingues, né? Melhor não.

— Não se preocupe com isso — disse ela. — Você contará com a ajuda da nossa arma secreta.

— O Vendedor de Algodão Doce?

— Cala a boca, Zero Kelvin! Você não sabe o que significa uma arma secreta?

Otoniel deu de ombros e se concentrou em organizar os picolés dentro do carrinho. Seu plano era anular as defesas legislativas usando bombas de brain freeze. Sabe quando você morde o sorvete ou bebe um gole de cerveja bem gelada e sente aquela baita dor de cabeça? Então.

Arma de destruição em massa

— E você, dona L’Oreal? Como você pretende tomar o STF? Hein? Hein? — perguntou alguém, não sei quem porque estava distraído assistindo a um capítulo de “Vale Tudo”.

Débora não disse nada. Ela apenas estendeu o braço, pegou sua bolsa, abriu ruidosamente o zíper e de dentro dela — tchanananam! — tirou um batom. (Daqui de longe não dá para identificar a marca, desculpe). Ao ver aquela arma de destruição em massa, não apenas Carlos e Otoniel, mas os golpistas todos ficaram paralisados como nativos diante de uma garrafa de Coca-cola (Ref.: “Os Deuses Devem Estar Loucos”).

— Oooooooooh! — disseram eles em uníssono, como se fossem lêmures capazes de dizer “Oooooooooh!” em uníssono. Débora guardou o batom na bolsa, levantou o braço como se estivesse num daqueles comícios em Nuremberg, respirou fundo e… e… e… e… e… — gostaram do suspense?

O resto é história

E incitou a direitada:

— Todos entendidos? Bora lá acabar com a comunistada, cambada! Aiô, Silver! — gritou ela antes de tocar o berrante e dar início ao golpe.

O resto é história, como se diz quando se está com preguiça de dizer. Mas já adianto que, depois de muitos vidros quebrados e até umas escatologias impróprias para o horário (qualquer horário), o golpe foi frustrado com a chegada dele, o Defensor da Democracia Inabalada, o Senhor das Instituições Incorruptíveis, o Rei da Caixa Alta e dos Pontos de Exclamação, o Mascotinho da New Yorker.

Big Alex tirou um fiapo de mortadela do dente, abriu seu sorriso mais sádico e disse.

(*) Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor.

Fonte: Gazeta do Povo